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As minhas mãos apertavam a pia com força. Inclinei-me sobre ela, tentando fazer respirações profundas.
O ar odiava-me e queria fugir de mim, deixar-me a sufocar.
Estar perto de ter uma arritmia cardíaca desde a noite anterior já era problemático o suficiente, mas os meus pulmões queriam dificultar-me a vida ainda mais.

Abanei a cabeça para sacudir os pensamentos para longe e as minhas ondas balançaram de um lado para o outro.

— Não consigo fazer isto. — sussurrei para o meu reflexo no espelho.

Os meus olhos castanho-esverdeados mudavam o seu tom facilmente, dependendo da luminosidade e do meu humor. Hoje estavam especialmente verdes, mais agitados e alertas do que o normal.
Compreensível, acho que nunca me tinha sentido tão frenética em toda a minha vida.

Andei pela casa de banho em passos rápidos, tentando perceber quais seriam as minhas opções.

Podia chamar a polícia.
Eles podiam lidar com o homem por mim, mas eu também seria responsável por lhe acertar na cabeça, talvez até por uma tentativa de homicídio... Quem nunca?
E quando me questionassem e descobrissem que eu tinha estado naquela sala e uma estátua tinha desaparecido...eu era a culpada óbvia.
Defender-me e contar a verdade só seria pior. "Não senhor polícia, eu não roubei nada, a estátua ganhou vida e saiu a correr do museu!"
Em vez de ir para a prisão ia para um manicómio.

Não podia contar à polícia, não podia contar a ninguém.

Mas continuava a ter um homem inconsciente amarrado a uma cadeira na sala e não fazia ideia do que fazer com isso.

A noite tinha vindo e ido e o sol já começava a nascer, mas eu não tinha sequer considerado dormir.
Não com aquele homem apenas a uma parede de distância.
Também me preocupava o facto de ele ainda não ter acordado... É claro que lhe tinha batido com alguma força na cabeça e as roupas molhadas em contacto com o seu corpo toda a noite podem ter causado uma hipotermia... Mas ele era um homem musculado, parecia forte...haveria de acordar...esperava.

E se...e se eu o tinha m-matado?!

Esse pensamento foi a única coisa capaz de afastar a nuvem de medo à minha volta. Saí rapidamente da casa banho, avançando até à cadeira no centro da sala.

O meu apartamento era muito luminoso, com a sala espaçosa rodeada por vidros altos. Apesar de adorar a luz natural tinha coberto todas as janelas com as cortinas pesadas para evitar olhares indesejados, dando um ambiente ainda mais sombrio ao espaço.

Meio a tremer, apanhei o guarda-chuva vermelho que continuava caído perto dele no chão.

Tinha-o largado imediatamente. Especialmente porque o vermelho do guarda-chuva me tinha feito lembrar sangue.

Com passos silenciosos, aproximei-me dele e cutuquei-o de leve com a ponta.
Os meus músculos tensionaram, preparados para a ação. Esperei alguns segundos e voltei a cutucar com mais força.

As pálpebras dele tremeram e eu recuei rapidamente para trás.

Os seus olhos negros demoraram a abrir e a focarem-se, mas então ele viu o guarda-chuva levantado mesmo à frente do seu rosto e saltou na cadeira, já bem desperto.

— Afaste essa coisa mortífera de mim!

Ele debateu-se contra as cordas por alguns segundos antes de perceber que os nós não eram assim tão fáceis de desfazer.

— Não acredito que fez isto. Tinha mesmo que me amarrar? — rugiu, com os olhos grandes fixos em mim.

Não lhe respondi. Só agarrei o guarda-chuva com mais força. Era a única coisa a manter-me sã naquele momento.

𝐂𝐔𝐑𝐒𝐄𝐃↪𝘫𝘫𝘬Onde histórias criam vida. Descubra agora