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— Consegues andar?

— Claro.

Ele continuava a caminhar na diagonal, na direção da estrada. Se eu o deixasse, ele ia acabar atropelado por um carro.

— Apoia-te em mim.

— Para suporte?

— Sim, por que mais?

Ele bufou, rindo pelo nariz, como se conseguisse pensar noutras razões. Ou talvez ainda estivesse tão bebado que se ria sem motivo.

Pelo menos tinha parado de caminhar para falar, menos um perigo iminente.

Fui até ele e enrolei um braço à volta da sua cintura, estabilizando-o. Depois, peguei no braço dele e pu-lo sobre os meus ombros.

Ele encostou a cabeça à minha e aconchegou-se contra mim, mais perto do que era realmente necessário para ajudá-lo a andar.

Com o peso de outra pessoa, especialmente o de alguém com a configuração atlética do Jungkook, em cima de mim, o percurso revelou-se cada vez mais difícil. Também não ajudava o facto de, naquela posição, ele constantemente respirar ar quente no meu pescoço.

Quando chegamos a casa, eu já tinha suado o suficiente para ser considerado uma sessão de cardio.

Nova regra, nunca dar álcool ao Jeon Jungkook.

Para piorar, assim que passamos a entrada, o Vincenzo começou a saltar às nossas pernas e a dificultar a passagem.

Quando chegamos ao quarto dele, simplesmente empurrei-o para a cama, bufando os cabelos para longe do rosto.

Tirei-lhe os sapatos e deitei uma manta sobre ele. Estava a desapertar alguns dos botões da camisa, para que dormisse mais confortável, quando ele agarrou o meu pulso, o toque vindo do nada e fazendo-me saltar.

Pensava que ele estava a dormir.

Subi o olhar dos botões e ele estava a encarar-me de volta, mesmo que através de pálpebras quase caídas.

O seu polegar roçou a parte interna do meu pulso, acima da artéria que latejava num ritmo acelerado, e que ele provavelmente conseguia sentir.

— Tão linda. — ele disse baixinho, o suficiente para eu questionar se tinha ouvido bem.

Gaguejei e um momento passou enquanto não reunia os pensamentos.

Quando me preparava para responder, possivelmente com uma ordem ou duas, a sua mão caiu e ele começou a ressonar. A ressonar.

Ele estava bebâdo num nível ridículo.

Ainda mais chateada do que antes, empurrei-me para cima e saí do quarto, batendo a porta com força.

Se o barulho o acordasse ainda era melhor.

Levou-me mais do que o costume para adormecer, já que eu continuava a revirar-me de um lado para o outro na cama.

Não me importava particularmente, era menos tempo de pesadelos.

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Acordei com o sol na minha cara e os meus olhos espremeram-se numa tentativa inútil de ignorar a luz e continuar a dormir.

Fui-me tornando consciente do calor à minha volta— bom, de uma maneira diferente.

Levou-me mais outro momento para notar o braço pesado sobre mim, os joelhos contra a parte de trás dos meus, o inegável corpo atrás de mim.

Rígida com tensão, torci-me na cama, tentando fazer o mínimo movimento possível.

Deparar-me com o Jungkook só aumentou o tumulto de confusão interna.

Ele ainda dormia nas roupas de ontem à noite, o que fazia sentido, uma vez que eu me lembrava claramente de ele as ter quando o deixei a dormir na cama dele.

Abanei o seu ombro e ele entreabriu um dos olhos, a espreitar para ver o que o tinha acordado. Quando me viu, o canto dos lábios subiu num sorrisinho e ele simplesmente voltou a fechar o olho para dormir.

Voltei a abanar o ombro com mais força.

— O que é que estás a fazer na minha cama?!

— A dormir — resmungou baixinho, com a voz rouca de sono.

Respira fundo Emilie. Inspira, expira, não mates ninguém.

— Como é que chegaste aqui?

— Hum? Não sei, não me lembro...

Não tinha a certeza se ele realmente não se lembrava, ou apenas se não queria responder, porque no momento a seguir ele virou-me costas e voltou a aconchegar-se na almofada.

Estreitei os olhos na direção dele, esperando derramar muito mau karma. Então lembrei-me que a ideia de beber tinha sido minha e acabei por suspirar e escorregar para fora das cobertas, deixando-o a dormir na minha cama.

Só horas depois, quando estava a procrastinar na biblioteca com as minhas amigas é que percebi que tinha dormido muito bem. Demasiado bem. Sem pesadelos.

Todas as noites desde que tinha conhecido o Jungkook, sem falha, tinha tido pesadelos. Não era inocente o suficiente para pensar que era porque estar perto dele me fazia bem, ou porque estava apaixonada, ou por sermos almas gémeas destinadas, ou alguma desculpa idiota e clichê do género.

Ser coincidência soava ainda mais improvável.

Lembrei-me da maneira como os fantasmas da casa de banho tinham desaparecido quando o Jungkook tinha chegado. Como se— tivessem medo dele.

E lembrei-me da maneira como os sonhos que me assombravam à noite e os fantasmas provocavam o mesmo tipo de medo.

O Jungkook tinha muitos segredos, e a sua dedicação em escondê-los fazia-me cerrar os punhos com raiva. Eu ia desenterrar até ao último deles.

𝐂𝐔𝐑𝐒𝐄𝐃↪𝘫𝘫𝘬Onde histórias criam vida. Descubra agora