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O dia seguinte amanheceu cedo e tentámos aproveitá-lo ao máximo.

Levámos o Vincenzo, o meu pequeno poodle, connosco e encontrámos a Jennie e a Jisso para tomar um café rápido a caminho do parque. Sabia que elas estavam preocupadas comigo, especialmente desde a noite em que dormi no sofá delas e desapareci para o meio do nada por causa dos espíritos vingativos. Também queria que elas conhecessem melhor o Jungkook, que lhe dessem uma chance, acreditando que se elas vissem para lá da desconfiança iam acabar por ver a pessoa incrível que ele era. Apesar de não haver tempo para se conhecerem como devia ser.

Passamos o resto do dia no parque, num perfeito dia de primavera. As árvores estavam em plena floração, emoldurando o nosso piquenique como o cenário de uma pintura. O Jungkook brincou com o Vincenzo, correndo pela relva a atirar brinquedos até o cãozinho os trazer de volta para ele e eu sentei-me na manta a apanhar sol, com a brisa leve a abanar-me os cabelos, a admirar aquela imagem. Podia ficar parada ali no tempo para sempre sem uma reclamação.

Quando começou a ficar escuro arrumamos as coisas e caminhamos a distância curta até casa.

Durante o caminho, os postes de luz da rua acenderam, e quis parar, ou pelo menos abrandar, apesar do Vincenzo estar a puxar a trela para tentar andar rápido. Um nó formava-se no fundo da minha garganta, daqueles que passávamos horas a tentar desfazer numa tarefa frustrante e aparentemente impossível.

Enquanto caminhávamos de mãos dadas, o calor da sua mão na minha era como uma corda sólida, ancorando-me no presente. Ainda assim, com cada passo mais perto de casa sentia-me a flutuar para longe. Tudo tinha acontecido num espaço tão curto de tempo, as semanas pareceram escapar-me entre os dedos como grãos de areia numa ampulheta, e agora havia tão poucos grãos restantes de podia contá-los com os dedos de uma mão.

O meu coração tinha estado tão leve durante o dia, mas com a noite a assentar rapidamente e mais um dia a terminar...Não queria arruinar a nossa felicidade frágil, mas a minha mente continuava a correr para o dia de amanhã. O dia da maldição. Trinta dias não eram o suficiente. Um ano não seria o suficiente. Mesmo a vida toda não seria o suficiente.

O quanto do dia de amanhã é que ainda seria nosso? As vinte e quatro horas? Até ao anoitecer? Até ao meio dia?

Significava que aquele podia ser o último céu noturno que víamos juntos.

Nunca iríamos ver estrelas cadentes às quais pedir desejos, ou ficar noivos e organizar um casamento ridiculamente grande e pomposo, ou trocar presentes no Natal, ou ver a neve cair. Eram mais as coisas que não fizemos do que as que sim e a lista daquilo que nunca teríamos a chance de fazer juntos parecia interminável, como um lembrete cruel.

Entramos no condomínio e tirei a coleira ao Vi, antes de ele desatar a correr pelo jardim fora. Quando ele se fartasse de correr podia entrar pela portinha canina na garagem, mas sabia por experiência que ele não se fartava tão facilmente.

O Jungkook deu um passo em direção à porta, mas segurei-lhe o braço.

Era insuportável, não vê-lo rir, não ouvir a sua voz, não sentir as pequenas faíscas na minha pele. Queria acreditar em milagres.

— Não quero entrar já. — os meus dedos enrolaram-se no seu antebraço com força, só largando quando ele parou e se virou de novo — Vamos ficar um pouco mais.

Ele assentiu ligeiramente, o rosto sério e frio quando ele evitou o meu olhar. Ele era melhor do que eu esconder os seus sentimentos.

Ficamos ali parados, a observar o cãozinho branco correr de lado ao outro do jardim, a absorver a presença um do outro. O ar ainda estava quente, e a brisa tocava a minha pele com a doçura das flores da primavera. Também havia estrelas no céu, mas a luz delas estava a diminuir a cada segundo.

𝐂𝐔𝐑𝐒𝐄𝐃↪𝘫𝘫𝘬Onde histórias criam vida. Descubra agora