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Afundei-me no sofá, apertando a almofada contra o peito em busca de qualquer consolo na sala não familiar.

Já tinha estado em casa de Jennie e da Jisoo várias vezes antes, mas sempre por pouco tempo e especialmente nunca sozinha. No entanto, elas tinham um almoço familiar importante do qual não se podiam esquivar, o que me deixava desamparada na sala grandiosa do apartamento, com as paredes de tonalidade neutra a combinar com o chão de mármore polido. Também os móveis eram de design minimalista, limpos de objetos ou toques pessoais, apenas uma casa para quando precisassem de estar perto da cidade, sendo que a maioria do tempo viviam com os pais na casa da família.

Virei-me no sofá, evitando encarar a sala ao redor. O mundo parecia mais pequeno assim.

Nem sequer podia ir para casa. Não estava pronta para ver o Jungkook, nem para confrontar as minhas emoções.

Ia perder o Jungkook, antes mesmo de o ter de verdade.

Toda a noite os pensamentos tinham pesado sobre mim, não me deixando descansar ou ignorar aquela batalha.

Uma semana para perder a minha alma gémea para sempre. E estava a desperdiçar cada momento valioso do nosso tempo restante ali.

Mas conseguia mesmo ignorar tudo o resto? Que ele tinha sido culpado pela morte de tantas pessoas no passado, que tinha sido amaldiçoado por isso, que ia voltar a ficar preso numa estátua ou que a única alternativa era eu matá-lo e acabar com tudo—

Apertei a almofada já molhada contra o rosto, secando as novas lágrimas.

Respira fundo. Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem.

Apoiei-me nos cotovelos para me levantar quando uma onda de náusea se apoderou de mim. Cobri a boca com a antebraço para evitar largar o estômago vazio no chão de mármore brilhante.

Fechei os olhos com força mas o escuro tomou conta da minha mente e puxou-me mais fundo.

Ofeguei forçando os olhos abertos e saltei do sofá, esperando que estar de pé me ajudasse a prender no mundo real.

Sobre as minhas respirações ofegantes sussurros gélidos e distantes começaram a ganhar nitidez, parecendo ecoar de todos os lados, cada um como um fio de gelo que percorria a minha coluna.

Cada pestanejar parecia levar-me ainda mais para dentro da visão e as vozes ficavam mais altas, como se fossem uma força invisível que me arrastava para o nada, por mais que eu resistisse.

Tentei atravessar a sala para chegar ao telemóvel, mas comecei a respirar com mais dificuldade e quando as minhas pálpebras voltaram a baixar deixei de sentir o chão.

Era como se as fronteiras entre a consciência e os sonhos se tivessem dissipado e eu tivesse atravessado a linha.

A cena materializa-se gradualmente diante de mim, o meu coração ficando mais rápido a cada pedaço de imagem que surgia, mesmo que eu já soubesse aquilo que ia ver. Estava de volta ao pesadelo vívido e perturbador para o qual já tinha sido atirada tantas vezes.

Porque é que isto continuava a acontecer? E agora também acordada. Se era causado pelos espíritos então porque é que não me deixavam agora que me tinha afastado do Jungkook? Eles já tinham o que queriam!

𝐂𝐔𝐑𝐒𝐄𝐃↪𝘫𝘫𝘬Onde histórias criam vida. Descubra agora