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Saí da casa de banho, ainda com uma toalha na mão a secar o cabelo. O banho longo tinha sido revigorante, a água quente tinha levado consigo a sujeira e o sangue seco e finalmente sentia-me de volta ao meu próprio corpo, ou pelo menos, quente e seca.

Sentei-me no sofá, o V vindo repousar no meu colo. As suas lambidas suaves traziam um senso reconfortante de normalidade, no meio do caos que ainda assombrava a minha mente.

— Obrigada. — disse enquanto pegava na caneca de chá fumegante sobre a mesa. O calor envolveu as minhas mãos e o aroma delicado do mel ajudou-me a acalmar.

O Jungkook estava reclinado na poltrona, mas a tensão nos seus ombros era evidente, ainda mais quando ele se inclinou com as mãos apoiadas nos joelhos. O olhar inquieto varreu-me, como se precisasse de confirmar constantemente que eu estava ali, segura e protegida.

— Como é que estás?

Bebi um golo de chá, humedecendo a garganta. Ainda me estava a habituar a ter controlo de novo.

— Melhor. — melhor, porque a única alternativa a essa resposta era dizer que nunca tinha estado tão mal na vida, que estava com medo e que não sabia por quanto tempo conseguia ficar no meu corpo antes que os pesadelos me voltassem a arrastar.

O meu olhar vagueou pelo cómodo e encontrou o dele na luz ténue. Era dócil, preocupado, mesmo que tivéssemos lutado a última vez que nos vimos. Supunha que esse era o fardo de ter uma alma gémea, existiria sempre algo forte e inegável que nos conectava profundamente.

— Aquilo era sangue? — A sua voz era gentil e cheia de cuidado.

— Não?

— Não é uma pergunta que devas responder com outra pergunta, querida. — Quando me mantive em silêncio ele suspirou, passando os dedos pelo cabelo desgrenhado. — Foi a primeira vez que isto aconteceu?

— É a primeira vez que me perco desta maneira. — engoli em seco, sabendo que não podia mais esconder aquela parte de mim. — Mas não é a primeira vez que tenho as mesmas visões, nem que trago uma parte delas para a realidade.

O sangue seco que me cobria depois de atravessar o rio e acordar, ou a terra que me tinha sujado os lençóis como se eu tivesse mesmo caminhado aquelas colinas.

— Nem a primeira vez que penso que...que se calhar não são só visões.

A sua postura ficou mais rígida, mas ele manteve o rosto neutro.

— Conta-me o que vês nessas visões.

Relutei enquanto encontrava coragem para compartilhar o que aconteceu, mas sabia que era importante revelar-lhe a verdade.

Descrevi o pesadelo com detalhes, mesmo que cada lembrança fosse dolorosa. Falei sobre a sensação de ser puxada para a visão contra a minha vontade, falei do campo de batalha em destroços e do rio escuro e de como escapei. E como, no meio desse caos, vi um homem vestido como um príncipe, vi o rosto dele.

Observei a sua expressão enquanto falava, torcendo-se numa mistura de choque e reconhecimento. A sua pele empalideceu instantaneamente, sentindo o peso da própria conexão àquela história.

𝐂𝐔𝐑𝐒𝐄𝐃↪𝘫𝘫𝘬Onde histórias criam vida. Descubra agora