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Quando acordei, o Jungkook já tinha ido embora. Uma pequena misericórdia, já que acordar ao lado dele não era algo que eu precisasse de experienciar novamente. As que tinha memórias já eram difíceis o suficiente de lidar.

A segunda coisa que percebi, completamente maravilhada, foi que não tinha tido pesadelos. Era um milagre e uma maldição ao mesmo tempo, já que para escapar aos pesadelos tinha que me lançar de cabeça noutro perigo.

A minha relação com o Jungkook era um tanto vaga e peculiar. Mas duas semanas — menos, uma semana e meia — possibilitava mais que tempo para que a relação avançasse e recebesse um termo. Principalmente, quando eu estava a cair rápido demais, como se me tivesse atirado de um avião sem paraquedas.

Tinha que arranjar maneira de travar a queda, ou mais cedo ou mais tarde, ia bater no chão.

Quase nos tínhamos beijado, tínhamos estado tão perto que tinha sentido a sua respiração quente nos meus lábios...e não podia deixar que voltasse a acontecer. Não quando ainda não sabia tanta coisa sobre ele, ainda nem sequer sabia o que ele faria quando o mês acabasse.

Ele tinha prometido que ia desaparecer e nunca mais me incomodar. Mas isso tinha sido...parecia noutra vida. Ele iria realmente embora? Mesmo se eu lhe pedisse para ficar?

A sala parecia sombria, ainda com as cortinas pesadas a cobrir a janela, mas com fome demais avancei primeiro para a cozinha adjacente.

O Jungkook estava a tomar banho, percebi pelo barulho do chuveiro, que se ouvia mesmo na sala.

Sorri ao ver o pequeno almoço preparado à minha espera. Sendo que preparado significava que estava uma taça e uma colher no balcão, tal como um pacote de leite de aveia e a caixa de cereais de chocolate.

Estava a prestes a enfiar uma colher de cereais na boca quando arrepios despontaram do meu couro cabeludo.

Olhei à volta, mas é claro que não havia ninguém. E no entanto, os arrepios persistiram, descendo até ao meu pescoço. A temperatura tinha caído tão de repente.

O som da água a cair continuava vindo da casa de banho. O Jungkook estava na divisão mesmo ao lado, estava segura.

Tentei contar até dez para me acalmar. Cheguei aos três, antes de me dar uma corridinha para abrir as cortinas para trás. Um pouco de luz matinal era tudo o que eu precisava.

Uma chuva fina ainda caia no exterior. Talvez o isolamento da casa tivesse alguma falha e tivesse com frio por causa disso. Talvez eu estivesse apenas a delirar com manias da perseguição...

Havia uma certa sensação sempre que os espíritos estavam por perto. A sensação era aquela.

Por mais improvável que fosse, tinha ignorado o instinto demasiadas vezes e, infelizmente, todas as vezes tinha estado errada.

O sangue latejava nas minhas orelhas.

Ao redor de um vaso na mesa de centro formaram-se sombras estranhas.

Ia esfregar os olhos quando o vaso caiu com força no chão e saltei para trás com um grito quando derrubou terra e estilhaços de barro perto dos meus pés.

O vaso do qual eu nem tinha chegado perto.

Sussurros ressoaram perto, à minha volta, atrás de mim. Sacudi o ar perto da minha cabeça, mas se estava lá algo, eu não conseguia ver ou tocar o que era.

Sem hesitar, apanhei um dos cacos grandes do chão, segurando-o pela parte lisa.

Cega pela raiva, pelo pânico, brandi-o à minha volta, esfaqueando o ar antes que pudesse dar lugar a espíritos sombrios. Eles tinham partido o vaso para me assustar, mas não duvidava que podiam fazer pior se quisessem.

O meu coração disparava fora do ritmo.

Senti uma forma a aproximar-se por trás. Golpeei o ar com toda a força apontando com a superfície afiada.

Ouvi-o a sibilar antes de me agarrar o pulso. O meu olhar selvagem girou, parando quando o encontrei.

— Emilie.

Não o tinha ouvido a chegar, nem tinha notado o chuveiro desligado.

O Jungkook só usava uma toalha à cintura, o corpo ainda completamente despido, e a escorregar água desde os cabelos negros. Devia ter corrido assim que me ouviu gritar.

Bastaram-lhe dois segundos para assimilar o vaso no chão, a lasca na minha mão, a minha postura violenta... Como os espíritos tinham ficado zangados ao perceber que eu tinha arranjado uma maneira de lhes escapar durante a noite. E se eu me esforçava para os evitar, eles esforçar-se-iam o dobro para me atormentar.

O seu rosto ficou branco de ódio, depois ele piscou e desapareceu.

— Emilie, — ele repetiu. — calma, estás a respirar rápido demais.

Estava? O Deus, eu estava.

Ele puxou o meu cabelo para trás, escovando-o sobre o ombro.

Enterrei o rosto nas mãos, as minhas pálpebras e a parte de trás da minha garganta ardiam e sentia-me a segundos de começar a chorar.

O Jungkook viu isso e suspirou, ao puxar-me para ele sem mais palavras.

O seu corpo estava totalmente encharcado, mas não me importei, nem quando a sua bochecha encostou-se à minha e gotas escorreram do seu cabelo para o meu pescoço sensível.

As minhas mãos subiram por vontade própria, agarrando-me a ele como um macaquinho na sua árvore.

— Quem me dera que não tivesses que passar por nada disto.

Ele afastou-se apenas o suficiente para ver o seu rosto. Ele tentava manter-se inexpressivo, mas a faísca de preocupação ali brilhava demasiado forte para passar despercebida.

Uma mão subia e descia pelas minhas costas, em movimentos longos e calmantes. Foi então que vi a outra mão a pender ao lado do corpo, uma mancha vermelha a cobri-la.

Um corte feio atravessava-lhe a palma da mão. Um olhar para o pedaço de barro sujo de sangue que tinha largado no chão e percebi que tinha sido eu a fazer aquilo.

Comecei a respirar ainda mais rápido, a realmente hiperventilar.

As suas feições estavam estampadas com preocupação. Era ele quem estava a sangrar, porque é que ele estava preocupado?

Ele seguiu o meu olhar.

— Estou bem. — segurei o pulso dele mais perto, ignorando-o. — Emilie, não é nada.

A ponta dos meus dedos sujou-se com o líquido espesso e quente e o Jungkook puxou a minha mão trémula para longe. Beijou a minha palma onde o corte estaria se fosse no meu corpo.

— É só um corte, não faz mal.

Mas todo o meu corpo tremia.

— Desculpa.

— Não faz mal. — ele repetiu, apertando a minha mão.

— Desculpa.

Eu tinha estado tão embrulhada no medo que o tinha magoado. Não o conseguia encarar, então quando sai para procurar a caixa de primeiros socorros, fi-lo de cabeça baixa.

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Está relação é como uma montanha russa
Ufa...

𝐂𝐔𝐑𝐒𝐄𝐃↪𝘫𝘫𝘬Onde histórias criam vida. Descubra agora