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Uma página a virar de vez em quando era o único som, para além dos roncos suaves que o cachorrinho no meu colo fazia quando lhe coçava as orelhas.

Observei o príncipe sentado no sofá oposto ao meu, a ler com as pernas esticadas e cruzadas nos tornozelos. Ele usava uma variação da roupa habitual, calças largas e uma camisa branca arregaçada até aos cotovelos. A lâmpada acesa atrás dele fazia os seus cabelos cintilarem com pequenos raios dourados e o seu rosto—

Os seus olhos encontraram os meus e baixei-me imediatamente para beijar o topo da cabeça peluda, fingindo-me distraída.

Tamborilei um dedo no joelho, com a outra mão ainda entre o pêlo branco e fofo do Vincenzo.

Esperei um momento e espiei o seu rosto por baixo dos meus cílios, apenas para descobrir que ele me avaliava.

Voltei a desviar rapidamente o olhar, olhei para a mobília, para a janela enorme e para a noite que se punha lá fora, para as gotas de chuva que se agarravam ao vidro...

Quando o meu olhar pousou nele novamente, ele ainda me fitava, agora com as sobrancelhas levantadas.

Mordi o lábio e torci a mão sobre o joelho, mas mantive o contacto visual. Assim que ele considerou que tinha vencido e que eu tinha parado o joguinho, voltou a ler o seu livro, com um sorriso convencido no canto dos lábios.

Quando pensei que não me daria mais atenção, ele tornou a falar, mesmo continuando a folhear:

— Passa-se alguma coisa, Emilie Rose?

— N-não, não.

Nem eu acreditei na minha própria voz, mas ele não levantou o olhar e prosseguiu ignorando-me. Soltei um suspiro de derrota.

— Na verdade, sim.

O sorrisinho no canto dos lábios reapareceu, antes de ele bater o livro fechado e erguer o rosto.

Ele apenas me olhou, à espera que eu reunisse a coragem para falar.

— Tenho uma pergunta. — fazia pequenos círculos nas costas do V, mantendo as mãos nervosas ocupadas. — Aqueles espíritos... eles têm medo de ti, não é?

Antes que ele recusasse ou desviasse o assunto, voltei a insistir:

— Diz apenas se sim ou não.

Um momento longo passou.

— Sim. — admitiu com o maxilar tenso.

— Então tenho um pedido.

A expressão no seu rosto mudou, a reticência dando lugar à curiosidade. Eu pelo contrário, afogava-me numa piscina de nervos.

Ele pousou o livro ao lado dele no sofá e apoiou os cotovelos nas pernas, chegando o corpo para a frente.

— O quê? — Os seus olhos estreitaram quando eu me interessei pelo cãozinho no meu colo.

Num segundo, a dúvida retornou, inundando as minhas veias. Já não me conseguia lembrar porque é que estava a fazer aquilo. Havia uma boa razão?

Inspirei fundo e falei antes que a determinação evaporasse.

— Quero que durmas comigo.

Ele estremeceu visivelmente. Nada a ver com a temperatura, já que o ar da sala estava aquecido, num contraste chocante com a noite tempestuosa que se aproximava.

Os seus olhos aumentaram para o dobro do tamanho e ele começou a tossir. Quando finalmente parou, assentou num silêncio estupefacto. Acho que nunca o tinha visto tão sem palavras.

𝐂𝐔𝐑𝐒𝐄𝐃↪𝘫𝘫𝘬Onde histórias criam vida. Descubra agora