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No beco escuro, rodeada por sacos de lixo e pelo cheiro oleoso e velho de fritos, começava a duvidar das minhas escolhas de vida.

Quase me arrependia da minha ideia estúpida. Quase, porque a vontade de descobrir a verdade era maior.

O Jungkook não queria falar sobre a maldição, nem sobre a sua vida antes dela, nem sobre o futuro, nem queria responder a nenhuma das outras perguntas que lhe fazia. Tinha que falar com alguém que soubesse, e quem melhor do que os espíritos que queriam vingança dele?

Parecia um raciocínio perfeito, mas de pé no beco atrás da cantina, como o isco perfeito para fantasmas raivosos, eu começava a perceber as falhas do meu plano.

Só me queria esconder atrás dos caixotes do lixo e dissolver-me nas sombras.

Supunha que não fosse a pior das opções em termos de lugar. Era perto o suficiente do resto do campus para poder fugir caso algo corresse mal, o que era um cenário bastante provável.

Também era aí que entravam as gémeas.
Sabia que era impossível o Jungkook ficar em casa parado, eu tinha-lhe dito que só tinha uma aula é que depois voltaria logo para casa, mas já tinha passado da hora de almoço e ele com certeza estaria à minha procura na faculdade.

Se eu estiver em perigo de vida ou de morte a Jennie, que me estava a vigiar de uma janela no segundo andar, devia avisar a Jisoo, que estava à entrada da faculdade com os olhos no Jungkook.

O Jeon Jungkook era o único capaz de afastar aqueles fantasmas. Mas esperava mesmo que não chegasse a esse ponto. Não tanto pelo perigo, mas pela fúria que enfrentaria do Jungkook assim que ele descobrisse.

Sabia que era uma péssima ideia, mas tempos desesperados exigiam medidas desesperadas.

Isso não me impedia de sentir medo. Aliás, eu estava com o coração a saltar na garganta enquanto esperava contra os tijolos vermelhos escuros do prédio.

Virei-me com as mãos à volta do corpo, suspirando alto.

Quanto mais teria que esperar? Cada minuto parecia uma tortura.

Uma mão agarrou-me pelo cotovelo, virando-me com um puxão.

— Joon. — respirei fundo, pousando a mão sobre o meu coração desenfreado.

O que é que aquele chato estava ali a fazer?

— Olá outra vez, Emilie.

O meu corpo quase relaxou, mas o seu tom de voz fez-me lembrar do incidente com a Jennie. Qualquer pessoa podia ser usada por eles.

A minha suspeita foi confirmada quando observei bem o seu rosto. Os olhos encovados e vazios dos meus pesadelos.

O reconhecimento deve ter trespassado no meu rosto, porque ele deu um sorriso torto e apertou o meu cotovelo com uma força que me fez encolher de dor.

Esquivei-me com um gesto brusco, mas não comentei, tentando não escalar a situação ainda mais.

Dezenas de pensamentos corriam pela minha cabeça de um lado para o outro sob uma névoa desagradável.

A voz profunda do Joon ecoou pelo beco vazio.

— Querias encontrar-nos. Agora encontraste. Mas não foi uma decisão acertada.

Se ainda precisasse de confirmação, aquele tom de ameaça bastava. Também não queria saber como eles sabiam que os queria encontrar, se bem que talvez fosse pela forma como eu estava no beco como a vítima para o crime perfeito.

𝐂𝐔𝐑𝐒𝐄𝐃↪𝘫𝘫𝘬Onde histórias criam vida. Descubra agora