Suporte

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        Eu estava sentada, estava frio com aquele ar condicionado no frio extremo. Ja estava cansada de chorar, na verdade acho que não tinha mais lagrimas em meu corpo para chorar. Pedro estava na recepção conversando com uma enfermeira, todo engravatado. Assim que ele soube do acidente ele foi me buscar, eu só consegui me acalmar quando ele me abraçou forte.

        Eu estava gelada, minha maquiagem borrada e eu estava suja. Mas não estava me importando com mais nada, nem mesmo com algumas pessoas que me olhavam com o canto dos olhos. Eu ali sentada apenas olhando para um ponto fixo no chão, tentando acordar desse pesadelo.

        Pedro veio em minha direção, ele estava abatido também, mas ainda mantinha uma postura que tudo iria dar certo.

        - Mana, vamos para casa, ela esta na sala de cirurgia! Vai demorar até eles darem alguma noticia e você precisa tomar um banho. - Disse ele se agachando em minha frente segurando meus ombros.

        - Não vou a lugar nenhum Pedro! Eu preciso saber como ela esta! Vá você, Ana deve estar apavorada! Mas eu ficarei aqui...

        Pedro ficou me encarando, tentou buscar alguma motivação para fazer eu mudar de idéia, mas ele sabia que eu não iria me mexer daquele lugar até saber se a minha namorada estava bem.

        - Tome, use meu paleto até eu buscar alguma roupa pra você. Vou ver como Ana esta, deixa-la mais calma e depois venho ficar com você! Ok?

        Balancei a cabeça concordando, ele me deu um beijo no rosto e tirou o seu paletó colocando em mim logo em seguida.

        - Te amo! Vai dar tudo certo! Eu volto logo. - E terminando a frase, ele saiu pela porta do hospital.

        Sempre que eu fechava meus olhos eu via aquele carro em alta velocidade acertando o de Andréa, ainda conseguia ouvir o estouro em meus ouvidos. Tentei me concentrar o máximo possível para ter pensamentos bons em minha mente. 

        Lembro do cheiro do casamento de Rafael e Yara! Lembro dos garotos Bruno e Gabriel na praça. Eu estava presente no dia em que Bruno pediu Gabriel em casamento, uma etapa que eu queria um dia alcançar com Camila. Lembro das folhas do Outono que caiam na frente da festa. Pedro estava zangado comigo por causa do meu atraso, onde eu estava com Denis. Como será que ele esta?! Nunca mais ouvi falar dele, nem sei como esta... espero que esteja feliz. E o mais importante naquela noite. Lembro de ver pela primeira vez a minha garota, com seu gênio um pouco grosseiro, que me irritava, que me tirava do serio. Grrrrrr! Como posso amar tanto ela assim? Como posso amar tanto alguém que eu um dia tive raiva?! Mais uma vez a frase da minha tia se encaixou em minha vida.

        "Amor e ódio são melhores amigos, se você carrega muito um com você, uma hora o outro vai aparecer. Mas isso serve para o ódio também!"

        Eu estava sentindo falta do cheiro dela, do seu cabelo muito bem escovados e seus dentes brancos e perfeitamente alinhados, eu estava sentindo falta do seu "Bom dia Cinderela". Eu não aceitava o que estava acontecendo. "Eu vi ela nessa manhã, ela estava feliz!". Comecei a chorar novamente, baixinho. Era um choro só meu, meu e dos meus pensamentos, até que uma enfermeira saiu pela porta! Eu pulei do meu banco e corri até ela. Todos no local que já me olhavam de canto ficaram assustados com tamanha investida.

        - Camila, a moça que sofreu um acidente! Como ela esta? EU PRECISO SABER ALGUMA COISA!

        Ela se assustou quando eu pulei em sua direção, arregalou os olhos para mim. mas logo pude notar uma ternura em seu olhar, talvez ela estivesse muito acostumada com pessoas nervosas e preocupadas como eu.

        - Se acalme! - disse ela passando a mão em minhas costas, me acalmando de alguma maneira. - Não sei muito a respeito dessa moça, ela esta na sala de cirurgia agora, com um ótimo médico! Preciso que você se acalme e reze por ela, okay? Vou tentar coletar o máximo possível de informações para você, se eu achar algum médico que saiba do caso dela eu vou pedir para ele vir  falar com você, no mais é só esperar e torcer!

        - Obrigada. - Foi tudo o que eu consegui dizer.

        Fui até um bebedouro e peguei um pouco de água, bebi, e voltei a me sentar. Agora tinha alguns olhares de compaixão em minha direção.

        Fiquei ali por mais uns vinte minutos. Até que tive uma surpresa. Sra Estela entrou pela porta do hospital em sua cadeira de rodas sendo empurrada por Clarisse, sua sobrinha.

Fiquei de pé e elas vieram até mim. Clarisse sorriu, um sorriso de consolo.

        - Vou deixar vocês duas a vontade, com licença! - disse ela passando a mão em meu ombro e sorrindo com o mesmo sorriso de antes. 

        Me sentei, fiquei meio de lado com a Sra. Estela, ela pegou em minha mão e segurou forte, apertando contra a sua mão enrugadinha,

        - Eu já passei pela mesma coisa que você minha filha, sei da dor que você esta sentindo, e nada, nada nesse mundo e nem ninguém pode te ajudar. Quando eu perdi meu esposo e minha menina em um acidente também de carro, eu estava sentada do mesmo modo que você! Esperando alguém aparecer e tirar toda a tristeza que estava em meu coração, esperando ver os dois saindo pela porta apenas com alguns arranhões... Mas ja era tarde demais. - Ela secou uma lágrima que escorria pelo meu rosto, com a sua mão tremula. - Mas eu sei que Camila é uma moça forte, sei que você a ama muito e sei que agora mesmo ela esta lá dentro lutando entre a vida e a morte para ficar mais um pouco com você! Aquela moça ainda vai nos abençoar muito com a graça da sua presença!

        Fiquei um pouco surpresa por ela dizer com tanta naturalidade que eu amava ela, e pelo modo que ela falou ela sabia que eu amava realmente Camila como um casal. Mas não era hora para eu me preocupar com aquilo, nem questionar.

        - Obrigado por ter vindo! - disse fraca, mas esboçando um sorriso para ela, um sorriso sincero.

        - Eu estava na recepção quando ele chegou, seu irmão um homem lindo, um homem de presença chegou como uma criança desolada. Perguntei para ele o que tinha acontecido, então ele nos contou. Na mesma hora nos três viemos correndo para cá, para dar o máximo possível de força para você.

        - Você, Clarisse e Pedro?! Onde ele esta?! - Perguntei um pouco atônita, Pedro ja estava ali?

        - Não meu anjo, Seu irmão ficou para dar suporte para a sua irmã que devia estar uma pilha de nervos. Outra pessoa se propôs a nos trazer de bom coração. Ele esta lá fora.

        Me levantei, ainda olhando para a senhora Estela e fui até a porta. Havia algumas pessoas na frente do hospital, talvez parentes de outros pacientes, mas um rosto entre eles me era conhecido. Encostado em um carro que ja tinha visto algumas vezes em frente ao prédio estava o nosso porteiro. Sim, o porteiro que eu tanto odiava, que eu tanto desprezava.

        Caminhei até ele.

        - Obrigada! - disse fraca, mas de coração. Ele assentiu com a cabeça. Me virei para voltar para o hospital.

        - Moça... sua namorada vai ficar boa, eu acredito nisso! Se existe um Deus lá em cima, Ele esta olhando por aquela moça.

        Eu me virei para ele e sorri, entre um sorriso e o inicio de um choro.

        Fiquei mais alguns minutos com a Sra. Estela, conversando e esperando Pedro chegar. Comecei a reconhecer alguns rostos: Garçons do Café House, duas garotas da pensão onde ela morava, o tio porcão e até alguns clientes.

        Pedro entrou pela porta com Ana que correu em minha direção me abraçando, tremendo e assustada. Logo em seguida meu primo Rafael e sua esposa Yara, Bruno e Gabriel.

        Eu não esperava por essa, mas todos estavam ali torcendo por ela. Camila tinha que sobreviver... por mim ... por todos nós!

Folhas de Outono. (Um romance lesbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora