Quando Ana se afastou do abraço, que foi um dos melhores que eu já recebi na minha vida, ela me encarou nos olhos sorrindo, já chorando. Ela era uns dez centimetros menor que eu e tinha o cabelo mais escuro também, ela se parecia muito com o meu irmão. Pedro como eu já disse era a cara do meu pai e eu lembrava mais a minha falecida mãe. Ana tinha os olhos mais claros, devia ter puxado a sua mãe, mas em geral era de longe mais irmã de Pedro do que eu em termos de fisionomia
- Eu achei que vocês não viriam, ou se viessem não pensei que fosse tão rápido! Onde esta Pedro? - perguntou ela olhando em direção ao carro e depois para Camila.
- Pedro não vem Ana, ah! Essa aqui é uma amiga minha! - eu disse enquanto secava as lagrimas que já tinham se criado.
Camila sorriu e apertou a mão dela.
- Você é bem diferente do que eu imaginava! Nosso pai fala muito sobre vocês! Ele ia me levar para conhece-los, mas acabou adoecendo! Entrem, por favor! - disse ela empurrando mais o portão para que pudessemos passar!
Eu dei uma olhada nervosa para Camila que sorriu meigamente e daquele sorriso eu pude tirar a força de que precisava para dar os primeiros passos para dentro do quintal muito florido e bem cuidado. A casa era simples mas muito organizada, a sala tinha um grande carpete vermelho vinho e moveis sem luxo algum, mas que estava muito bem limpos e bem distribuídos pela sala. Pude ver na parede alguns retratos quando entrei.
- Estão com sede? Vou buscar alguma coisa para vocês beberem! - Disse Ana passando por uma cortina que separava a sala da cozinha.
Aproveitei a ida dela e me aproximei dos porta retratos e pude ver um bebê pequeno, que devia ser Ana, algumas fotos do meu pai pescando, uma mulher que deveria ser a minha madastra, e me assustei ao ver um porta retrato em cima de uma mesinha de canto. Pedro devia ter uns treze anos e eu vestida de bailarina sorridente ao seu lado. Não imaginava que eu iria ver uma foto minha na casa do meu pai, mas ali estava ela.
Ana entrou na sala com três copos em uma bandeja simples.
- Trouxe um suco de goiaba, espero que gostem fiz agora a pouco! E as goiabas são colhidas aqui do quintal mesmo! - disse ela sorridente. Camila sorriu e pegou um copo, eu ainda estava nervosa com aquilo tudo, então aceitei por educação.
- Não acredito que você esta aqui na minha sala! - disse Ana me encarando sorridente. Ela tinha um ar muito maduro para uma garota de apenas quinze anos, talvez seja por morar numa zona rural, ou isso é de família pois eu era igual a ela.
- Eu não acredito que tenho uma irmã ainda! Como fui saber isso só hoje pela manhã? Por que nunca me ligou, ou nunca escreveu?
- É complicado Leila, o pai sempre disse que vocês, na verdade Pedro nunca gostou dele! Ele tinha medo de vocês me tratarem mal ou algo do tipo, por ser meia irmã! Eu sempre quis falar com vocês, sempre ouvi ele falar de vocês! De como você dança, de como Pedro tem um gênio forte igual ao meu! O pai sempre me falou da sua mãe, da sua tia que cuidou de vocês! Ele me prometeu que me levaria para conhece-los assim que ele pudesse conversar a respeito desse assunto. Mas ele acabou adoecendo! Como você viu não temos muitos médicos e muito menos recursos para o tratamento dele! - pude notar lagrimas já se formando nos olhos de Ana. - Leila, que bom que você esta aqui, ele vai ficar muito feliz em ver você! - concluiu ela sorrindo e secando de leve as lagrimas.
- Onde ele esta? Posso ve-lo? E sua mãe Ana, o que ela disse a respeito disso? - perguntei contendo a vontade de ir abraça-la novamente.
- Minha mãe esta trabalhando, ela que esta sustentando a casa no momento, o governo ajuda por que ele não pode trabalhar, mas não dá para pagar as contas só com essa ajuda. Eu fico aqui cuidando dele! Ele esta dormindo a proposito, tomou um medicamento forte que dá muito sono, ele sempre dorme depois que toma! - terminou ela triste.
- Mas o importante é que estamos aqui! - disse Camila quebrando aquele clima tenso.
Ana sorriu para ela e ficou um silêncio incômodo na sala.
- Ana, você sabe de algum lugar que possamos ficar aqui na cidade, uma pensão ou hotel para passarmos essa noite? - perguntou Camila já sabendo que eu não queria ficar ali.
- Fiquem aqui em casa! Podem ficar no meu quarto! Eu durmo na sala sem problemas! Tem uma pequena pousada no centro, mas dizem que é ruim e tem baratas! Aqui é melhor! - sorriu ela com a maior simplicidade. Camila me olhou esperando que eu falasse algo.
- Não queremos incomodar, ficaremos na pousada! Só quero ver ele antes de ir! Posso? - disse um tanto aflita.
- Claro Leila! Por favor, por aqui! - disse Ana se levantando um pouco chateada com a situação de não aceitarmos ficar na casa com ela.
Me levantei e segui ela por um pequeno corredor de madeira, entrei em um quarto mal iluminado. Pude ver em cima da pequena comoda muitos remédios e um copo com água. Uma cadeira do lado da cama e um homem magro e careca deitado nela, meu coração apertou como se nunca mais fosse bater! Aquele não era meu pai, não era o homem forte e vivaz que eu me lembrava.
- Vou deixar você a sós com ele! - disse Ana baixinho saindo pela porta. Eu olhei pra ela desesperada querendo gritar para ela não me deixar ali sozinha com ele, mas ela já tinha saido pela pequena porta. Eu me virei encarando meu pai ali naquele estado e me sentei na cadeira ao lado da cama.
Fiquei por um tempo sem reação, aquilo era muito estranho para mim! Eu perdi minha mãe muito pequena e agora estava prestes a perder meu pai! Seria eu e Pedro novamente, eu sei que sempre foi assim, eu e Pedro desde sempre, mas era estranho pensar que eu iria ficar realmente órfã, sem meu pai e sem a minha mãe. Era algo que eu nunca imaginaria que me assustaria tanto.
Ele estava no soro, e imaginei se ele não precisava estar num hospital apropriado, mas como Ana disse ali as situações eram aquelas e pelo o que eu via, ela estava cuidando dele muito bem.
Automaticamente eu segurei na mão dele, ela estava quente. E comecei a chorar, baixinho mas intenso. Eu chorei por que eu precisava, eu chorei por que fui forte por muito tempo, por que eu estava ao lado do homem que esperava meu perdão.
- Pai o senhor pode me escutar? - Sussurrei em meio aos soluções do meu choro desesperado. - Pai eu te perdoo! Não teria por que não fazer isso! Não é!? O senhor é um ótimo pai, posso ver isso pelo modo que criou a Ana! Sei que o senhor não foi presente na minha vida como eu queria que fosse, mas eu sei que o senhor foi na dela, pois ela cuida e fala do senhor como se você fosse o herói dela! Eu sei que você não esta me escutando, mas eu fiquei orgulhosa de você quando coloquei os pés nessa casa! Vi que tem uma filha que te ama muito! Você teve seus motivos quando partiu, mas eu te perdoou por isso! Obrigada por cuidar tão bem dela! - eu chorava tanto que sentia as lagrimas caindo em minha blusa. Quando senti a mão dele apertar a minha.
Por mais que ele estivesse fraco e debilitado por causa da medicação, seu aperto foi forte! Eu levantei a cabeça e vi ele me encarando pelo canto dos olhos, sem mexer a cabeça. Num esforço fraco eu ouvi as palavras:
- Minha bailarina! Você veio! - ele ainda segurava a minha mão com força, como se fosse me perder ali para sempre.
Eu me levantei e o abracei como pude! Orgulhosa dele por criar a minha irmã nas condições que tinha, mesmo não sendo eu.
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Folhas de Outono. (Um romance lesbico)
RomanceAquela garota me irritava, e como eu gostava disso! Me chamo Leila e essa é minha historia. Tenho apenas 4 estações para te amar! Até a ultima folha do outono cair! (Um seguimento do romance Enfim Sós) #2 ### PROIBIDO A CÓPIA OU ADAPTAÇÃO ####