Cinderela

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        Estava muito ansiosa pelo resultado da audição, mas não tinham me ligado ainda. Talvez eu não tenha passado e por isso ainda não me ligaram, mas no formulário dizia que levaria até uma semana para me darem uma resposta, então aquela aflição não iria adiantar de nada. 

        Denis estava uma fera comigo e depois daquela mensagem que ele me enviou pensei que realmente estava sendo fria com ele. Eu estava mesmo, não sei o por que. Talvez eu estivesse empurrando meu namoro com a barriga, talvez fosse mais fácil e para a alegria de Pedro eu terminar. Liguei dizendo que eu precisava conversar, o convidei para tomar um café, e como não queria estender muito o papo convidei ele para tomar o pior café da cidade.

        Esperei meu irmão sair de casa, para resolver uns assuntos do trabalho, desci e passei antes que o porteiro me visse, Denis estava me esperando de carro na frente do prédio. Quando entrei ele fez menção de me dar um beijo, mas virei o rosto. Ele ficou me encarando, como se não acreditasse que virei o rosto para ele, e depois me perguntou amargamente aonde queria que ele fosse então disse que poderíamos tomar um café no Café House, e foi para lá que ele me levou. Não trocamos muitas palavras no caminho, minha vida estava um caos. Precisava dessa vaga na academia de ballet, chegou a carta do meu pai e eu não tinha coragem de abrir e por ultimo tinha aquele buraco negro que me sugava no interior do meu peito, aquele buraco negro que de alguma forma roubava minha alegria momentânea, fazendo com que eu ficasse triste novamente.

        Quando chegamos ao Café House, passamos pela porta com aquele sininho irritante, lembrei que a garota do quase atropelamento trabalhava ali, ela estava em uma mesa atendendo dois rapazes engravatados. Assim que o sininho tocou, ela se virou e me encarou. Ela não sorriu, apenas voltou a dar atenção para os rapazes. Denis sentou e eu o acompanhei, ele não parecia nada feliz, realmente ele não iria ficar. Eu estava ali para terminar nosso namoro.

        - Então Leila, o que esta acontecendo?! - Ele cruzou os braços e se atirou no encosto da cadeira, me olhando com uma cara de poucos amigos.

        - Denis, você sabe que não estamos mais feli... - Camila, a garçonete se aproximou da mesa.

        - Vão querer o que? - Disse ela, como se não me conhecesse. Eu a encarei e forcei um sorriso, mas ela não me deu atenção. - Oi, lembra-se de mim? - Perguntei fazendo com que ela me encarasse. - Olá Cinderela, estava bom o café que você saiu sem ao menos me agradecer? - Denis olhava dela para mim e de mim para ela, como se aquilo não estivesse acontecendo bem no meio do termino do nosso namoro. Eu a encarei e fechei a cara. - Eu não lhe agradeci, por que você estava ocupada, além do mais aquele café estava horrível! - Ela me encarou brava, e eu a ignorei fingindo que estava lendo o cardápio. - Aquele café foi descontado do meu bolso okay Cinderela, e além do mais, sim eu estou trabalhando por isso estou ocupada, mas não justifica a sua falta de educação. - Quando ela terminou, eu me virei para ela incrédula. - Minha falta de educação? Eu fui prestar socorro para você, achando que tinha te atropelado e você lembra quem foi mal educada? - Ela estava com os braços colados no corpo, me encarando furiosa. Foi então que Denis levantou da mesa.

        - Denis aonde você vai? - Peguei minha bolsa, e segui atrás dele. - Não terminei de conversar com você, me espere. - Ele se virou, parecia bravo, mas ao mesmo tempo só queria sair dali. - Você esta estranha comigo, não quer mais transar comigo, só pensa no tal ballet, o babaca do seu irmão me odeia e me trás para uma porcaria de café pra terminar nosso namoro, coisa que poderia ter feito no portão do seu prédio e quando chega aqui você da mais atenção para a garçonete do que para mim sentado na sua frente. Quer saber Leila, quem cansou disso tudo fui eu! Então pega um ônibus e volta pra casa sozinha. Beijos e boa sorte. - Ele entrou no carro e saiu cantando pneu, me deixando ali parada.

        Eu comecei a chorar, minha vida estava uma bagunça! Sentei na escada da entrada do café e chorei, chorei não pelo termino do namoro, eu queria aquilo, eu chorava por que queria que aquela angustia fosse embora, queria que o buraco negro se fechasse, ou me engolisse de uma vez. Larguei a bolsa de lado, coloquei as mãos apoiando minha testa e continuei chorando. Quando senti uma mão em meu ombro.

        - Cinderela, você esta bem? - Assim que levantei meu olhar Camila estava se sentando ao meu lado. - Me desculpe pelo o que eu disse lá dentro. Esse era seu namorado? "Ex" agora né... - Ela olhava por onde o carro de Denis tinha sumido. - Venha, vamos ali pra dentro, eu vou lhe fazer outro café, e dessa vez eu prometo que vou caprichar! - Eu estava tão chateada que não tive nenhuma reação, ela me ajudou a levantar e eu a acompanhei para dentro do café, assim que entramos algumas pessoas que estavam ali ficaram me olhando, por causa do fiasco que ocorreu.

        - Tão olhando oque? Vão cuidar da vida de vocês! - Gritou Camila, encarando as pessoas, inclusive os rapazes de terno. Algumas pessoas resmungaram, outras se levantaram e foram embora. Ela me ajudou a se sentar e largou a bolsa em outra cadeira. - Espera um minuto, que eu vou lhe trazer um café! - Fiquei ali sentada, já tinha parado de chorar, mas ainda soluçava, aquele aperto no peito foi aos poucos cessando. Camila voltou com duas xicaras de café, e sem o seu avental. - É meu intervalo, se importa se eu te fizer companhia? - Balancei a cabeça afirmando que estava tudo bem.  Ela sorriu e largou a xicara na minha frente. - Esse também é por conta da casa! Só espero que esteja melhor que o ultimo! - Dei um sorrisinho para ela e agradeci. Tomei um gole do café e realmente estava muito melhor do que o ultimo. - Quer conversar? - Perguntou ela, me encarando seria. Eu estava com o olhar fixo na minha xicara.

        - Eu não sei... Eu tenho um vazio dentro do meu peito! - Levantei o olhar para encara-la, ela estava me olhando seria. - E você já falou com alguém sobre esse vazio? - Ela me perguntou, ainda me encarando seria. Balancei a cabeça negando, e ela sorriu.

        - Então esta ai o problema Cinderela! Você precisa compartilhar isso que você carrega com alguém! Carregar todos os problemas para si faz muito mal! - Ela pegou em minha mão. - Você não tem ninguém que possa conversar? - Senti ela apertar a minha mão e voltei a encarar a minha xicara de café. - Tenho o meu irmão, mas ele é muito ocupado, além do mais ele não me entenderia, não como ele poderia se nem eu consigo me entender. E agora tenho uma amiga de 80 anos, que mora no mesmo andar que eu, mas acho que não seria correto encher a cabeça de uma idosa com problemas de uma garota de 21 anos! - Camila sorriu e apertou minha mão com mais força. - Agora você tem mais uma amiga! Sempre que precisar pode vir conversar comigo! - Eu levantei o olhar e então sorri, era um sorriso verdadeiro. - Só se você me prometer uma coisa! - Ela me olhou com uma cara de curiosa. - Promete que não vai mais me chamar de Cinderela? - Ela soltou uma risada alta e estendeu a mão, eu estendi a minha e fechamos um aperto de mãos. - Prometido Cinderela! Opa Leila!

        Camila me fez companhia até o seu intervalo acabar. Tomei aquele café e de alguma forma me sentia melhor! Parecia que aquele buraco negro não tinha conseguido me roubar aquela alegria momentânea!

Folhas de Outono. (Um romance lesbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora