Perdão

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        Eu estava sentada na cama enquanto Camila tomava banho, tentando me decidir se ligava para Pedro ou não! Ele sabia onde eu estava, com quem eu estava e o que eu estava fazendo... Evitaria mais uma briga ou ligaria mesmo assim? Evitei mais uma briga... Pedro era teimoso e eu sabia que nada do que eu falasse adiantaria.

        - AAAAAAHHHH!!! LEILA SOCORRO!

        Senti como se tivesse tomado um soco no estomago, quando vi Camila saindo do banheiro gritando logo me coloquei de pé e corri para ver o que estava acontecendo com ela, que agora estava no canto do quarto.

        - Camila o que houve? Você me assustou!

        - Ana tinha razão! Eu vi ela saindo do ralo do banheiro, enorme e com antenas medonhas! Parecia uma capivara e não uma barata!

        Comecei a rir, aquilo tudo por causa de uma barata! Fui até o banheiro e me deparei com um barata menor que a minha unha. Comecei a rir mais ainda, com a comparação dela sobre a barata. Eu não tenho medo, nojo talvez. Ratos me assustam, aranhas me assustam... mas barata se estiver no chão para mim é inofensiva!

        - Se já não fosse tarde eu aceitaria o convite da Ana! - disse Camila rindo enquanto secava o cabelo em frente ao um espelho na parede do quarto.

        - Como você viu, elas entram pelo ralo! Eu vou dar um jeito de vedar aquilo! E podemos dormir tranquilas!

        Camila veio até mim e me beijou o pescoço, ficando abraçada em minhas costas!

        - Minha heroína!

        Me virei, para poder fixar o olhar no dela e sorri amavelmente sustentando o olhar mais doce que eu já vi em minha vida.

        - Você que é minha heroína! Eu não estaria aqui hoje se não fosse por você! Acho que na verdade nada do que esta acontecendo em minha vida estaria acontecendo se não fosse por você! Se tornou importante para mim desde aquela noite que quase te atropelei!

        - Já naquela noite?! - perguntou ela com uma cara de curiosa e surpresa!

        - Claro, desde aquela noite! Só que naquela noite eu te odiava e queria ter te atropelado! - Camila me olhou rindo e me deu um tapinha no ombro.

        - Ai que horror Leila! - riu ela. - Lembro como se fosse ontem... Você toda vestida, elegante! Pedro saindo do carro bêbado! E você veio toda atenciosa ver se eu tinha me machucado...

        - E você foi uma vaca comigo!

        - Eu tava preocupada, irritada e tendo meus problemas lá com aquela garota irritante!

        - Nem fala de coisa ruim a essa hora, por favor! Deixa aquela garota lá na dela! Aquela Andrea so tras problemas!

        Camila riu novamente e foi terminar de se arrumar. Estávamos famintas, saímos para comer alguma coisa mas como a cidade era pequena tinha apenas um pequeno restaurante que já estava fechado, então entramos em um mercadinho e compramos algumas coisas para comer. A menina do caixa tinha o rosto todo pintado de sardas e um abertura entre os dentes da frente que dava para passar o meu dedo entre eles. As pessoas eram na maioria idosas, os poucos jovens que encontramos na rua eram como essa menina! Fiquei imaginando como vai ser a reação da Ana quando eu levar ela para a cidade grande! Mal conheci minha meia-irmã e já estava fazendo planos mentalmente de tudo o que eu queria fazer com ela! Compras, Ballet, Cinema... 

        Depois de comer sanduíches e pacotes de batatas, precisava descansar!

...

        Camila se levantou arrumando os cabelos, eu já estava de pé, por mais cansada que eu estava no dia anterior dormir foi muito difícil. Tinha um turbilhão de coisas em minha cabeça que dificultaram meu sono.

        - Bom dia linda, já esta de pé?! Que horas são?

       - Nove horas! Ana me mandou uma mensagem dizendo que era para nos irmos almoçar com ela e com meu pai! O que você acha?

        - Claro, por mim tudo bem! Vou onde você for!  - disse Camila esticando os braços, eu sorri e fui beijá-la! 

        Quando descemos para a recepção, encontramos com a senhora dona da pensão, que eu jurava que era um homem! Pagamos a nossa estadia, eu quis falar sobre a barata mas Camila me cutucou. 

        Depois de pegar o carro segui para a casa do meu pai. O dia estava ensolarado, já podia ver que a Primavera chegou ali primeiro, tudo era muito florido e muito colorido! Gramados verdes, arvores floridas, pássaros, insetos e a primeira coisa que eu ouvi assim que acordei nessa manhã foi um galo cantando!

     Quando eu virei a curva avistei em frente a casa do meu pai um carro... espera... não podia ser!

       - Eu não acredito. - disse Camila mais surpresa do que eu.

        Estacionei o carro e abri o portão como se a casa fosse minha, dei um corridinha para chegar até a porta da frente e sem nem bater abri a porta da frente.

        Uma corrente elétrica passou pelos meu pés subindo rapidamente pelo meu corpo. Pedro estava sentado na sala, frente a frente com o meu pai que chorava em uma cadeira.

        - Oi Leila! - disse Pedro. Quando me aproximei dele pude notar que ele tinha chorado.

        O abracei com força, forçando a minha mente de que aquilo não era uma ilusão ou uma pegadinha.

        - Como você chegou aqui?! - Perguntei sem solta-lo.

        - Não sei se você fez de proposito, mas deixou a carta com o endereço em cima da mesa. Pensei duas vezes antes de pegar o carro e vir... Eu vim por ela. - disse ele se referindo a Ana. - Mas acho que eu não seria um bom ser humano se não desse o perdão para o nosso pai. - quando ele falou a palavra pai eu me virei não acreditando em tudo aquilo.

        Abracei meu pai e chorei, chorei de felicidade! Chorei por que meu coração queria tudo aquilo. Pedro se aproximou de nós se juntando em nosso abraço. Camila ficou chorando emocionadíssima vendo o que tanto o meu pai buscava e que agora eu buscava! Um perdão por erros cometidos, um perdão de um filho que demorou anos a reconhecer que perdoar é algo que vale a pena, quando é passado por cima do orgulho. Ana apareceu na sala e então eramos nos quatro! Minha Família!

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        Pedro e o nosso pai fizeram as pazes. Talvez ele tenha feito aquilo pela Ana ou por mim! Mas era o que meu pai precisava. E duas semanas depois ele partiu. Hoje sei que ele foi em paz, hoje sei que ele descansou! Obrigada pai pelo presente que nos deixou, vamos cuidar da nossa irmã!

     

Folhas de Outono. (Um romance lesbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora