Denis realmente era temperamental, eu sabia disso. Segui para casa, ainda preocupada com a Sra. Estela! Será que ela tinha chegado em casa bem?
Estacionei o carro na garagem e entrei pelo Hall, o porteiro ficou me olhando e mascava um chiclete, em cima do seu balcão tinha duas cartas e ele apenas apontou para elas, e se virou para a televisão. De má vontade eu as peguei lancei um olhar de puro nojo para ele, que nem estava me olhando, e entrei no elevador. Uma das cartas era uma propaganda de banco e a outra foi a que me chocou, era do nosso pai.
Fazia um ano que não tinha noticias dele, ele estava morando em uma casinha no interior e tinha casado com outra mulher, acho até que eu e Pedro já tínhamos mais irmãos, mas ele nunca nos ligou ou se quer nos procurou. Assim que minha mãe engravidou de mim, meu pai a largou para se casar com essa outra mulher. Eu o vi algumas vezes, mas nunca o chamei de pai!
Quando cheguei ao décimo primeiro andar, resolvi guardar a carta em minha mochila, Pedro não gostava do nosso pai, nem mesmo de saber que ele existia, se ele descobrisse que tinha uma carta, ele rasgaria antes mesmo que eu pudesse abri-la! Puxei a chave do bolso e abri a porta de casa. Pedro estava sentado na mesa todo descabelado comendo um bolo de chocolate!
- Bom dia senhor ressaca! - Disse eu trancando a porta por onde passei, e largando a chave na mesinha da sala. Ele sorriu para mim, ainda de boca cheia. - Bom dia mana, como foi lá?
Encarei ele e o bolo. - Foi você que fez esse bolo? - Pedro cozinhava muito bem, mas não sabia que era perito em bolos. - Não! Aquela vizinha do 112 que veio me entregar agora a pouco, ela disse que queria te agradecer, era seu, mas acabei comendo uma fatia, ta! Talvez duas fatias... Desde quando você é gentil com os vizinhos Leila? - Ele me encarava com uma expressão de duvida e sacanagem ao mesmo tempo. - Ah, ainda bem que você me lembrou, tenho que ali ver como esta a Sra. Estela, eu a ajudei mais cedo a chegar à feira. - Agora a expressão de sacanagem de Pedro sumiu e se tornou espanto.
Dei um beijo nele, e passei a mão em seus cabelos numa tentativa fracassada de ver se eles voltavam para o lugar, me virei e sai pela porta de entrada. Eu nunca tinha ido a outro apartamento antes, como eu disse eu nunca fui sociável. Chequei em frente ao apartamento da Sra. Estela e toquei a campainha, não demorou muito e aquela pequena senhora enrugadinha veio abrir a porta.
- Leila minha querida, tudo bem?! - Eu sorri pra ela, meio incomodada de estar fazendo aquilo. - Tudo bem Sra. Estela, eu só vim ver como a senhora estava e agora agradecer pelo bolo de chocolate que a senhora fez para mim! - Ela sorriu meigamente. - Entre minha querida, venha tomar uma xicara de chá comigo, dizem que abre o apetite antes do almoço! - Fiquei horrivelmente com vergonha, e por mais que eu não quisesse entrei no apartamento dela. Era como uma pequena casinha de bonecas, tudo tinha muito crochê, vasinhos de plantas por todos os lugares, tinha um perfume pelo ar que lembrava um parque botânico, uma cadeira de balanço no canto da sala e muitos porta-retratos nas estantes.
- Sente-se! Vou lhe trazer um xicara de chá de camomila bem quentinho! - Eu sentei no sofá, que tinha uma colcha de crochê feito a mão, e senti algo passar em minhas pernas. Era um gato siamês com os olhos incrivelmente azuis! Eu gostava muito de animais, nunca tive nenhum, então não tive reação quando vi o bichano. - Esse dai é o Sr. Rouffles, meu companheiro! - Disse a Sra. Estela entrando pela sala com uma bandeja, duas xicaras e um pequeno bule. Eu apenas sorri, e me virei para encarar o gato que me olhava e miava baixinho. Dona Estela tossiu fazendo as xicaras balançarem. - A senhora esta bem mesmo? - Perguntei a ajudando, tirei a bandeja de suas mãos e coloquei na mesinha de centro. - Desculpe minha querida, estou um pouco doente... Coisa de gente velha! - Me disse ela, levando um lencinho até a boca! Ela me serviu um pouco de chá, e o cheiro estava ótimo. - Seu marido ficou muito feliz com o bolo! - Disse ela, agora me encarando. - Ah não, não! Ele é meu irmão, não é meu marido! - Ela sorriu. - Me desculpe, achei que uma moça como você já estava casada, e ele é um moço adorável! - Sorri para ela, estiquei o braço para pegar um porta-retrato que estava ao meu alcance. - Desculpe a minha pergunta Sra. Estela, e a sua família? - Ela largou a xicara de chá, deu mais algumas tossidas levando o lenço à boca, aquilo me deixava aflita, e voltou a sorrir. - Eu os perdi querida, meu esposo e minha filha em um acidente de carro, quando ainda era uma mulher nova! - Ela ainda sorria amavelmente. Eu fiquei chocada, como ela lidava "bem" com aquilo. - Me desculpe, sinto muito por sua perda! - Ela levantou a mão num sinal de que estava tudo bem. - Fazem muitos anos minha querida, tantos que você nem era nascida ainda! Ainda sinto falta deles todos os dias, mas o Sr. Ruffles é um ótimo companheiro não é mesmo?! - O gato pulou em seu colo e ela fez carinho em sua cabeça, ele começou a "ronronar" e ela sorriu para mim.
Assim que terminei o chá, agradeci e disse que tinha que ir para casa. - Tudo bem minha querida, não esqueça que sempre que quiser conversar com essa pobre senhora aqui, é só me chamar! Eu e o Sr. Ruffles vamos adorar ter companhia. Fiquei encarando ela naquele momento, e senti uma carinho enorme por ela, não sabia o porquê! Tinha prometido para mim mesma que não iria ser melhor amiga de uma senhora de 80 anos, mas realmente tinha um carinho por ela que não saberia descrever. - Eu prometo que vou vir mais vezes Sra. Estela! Obrigado pelo chá estava delicioso! - Sai pelo corredor pude ouvir mais algumas tossidas antes dela fechar a porta.
Quando cheguei ao meu apartamento, Pedro estava no banho, então corri para meu quarto fechei a porta e peguei a carta do meu pai! Fiquei olhando para ela, virei de um lado, virei do outro... Então voltei a guarda-la. Ainda não estava pronta para abri-la!
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Folhas de Outono. (Um romance lesbico)
RomantizmAquela garota me irritava, e como eu gostava disso! Me chamo Leila e essa é minha historia. Tenho apenas 4 estações para te amar! Até a ultima folha do outono cair! (Um seguimento do romance Enfim Sós) #2 ### PROIBIDO A CÓPIA OU ADAPTAÇÃO ####