Correspondências

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        Era cedo, conseguia ouvir alguns passarinhos cantando naquela manhã fria. Eu estava deitada abraçada com Camila, depois de ouvir aquela musica eu queria acorda-la e dizer que a amava, mas ao invés disso, a deixei dormindo e dormi com ela! Tinha certeza que eu iria ter muitas oportunidades para fazer isso.

        Fomos acordadas com um celular tocando, Camila levantou da cama enrolada em uma das cobertas e atendeu. Era o dela que tocava. Ficou muda por um tempo, mas logo respondeu.

        - Me deixa em paz garota, eu não te devo satisfação! Já disse pra você cuidar da sua vida!

        Eu acordei assustada e fiquei olhando para ela que estava furiosa no telefone!

        - Você viu que horas são Andréa? Por favor, eu não tenho que dizer onde estou pra você! Segue a sua vida! - revirei os olhos pra cima e voltei a me deitar no travesseiro olhando para o teto. Andréa, aquela garota estava me irritando, mas no fundo eu esperava que Camila fizesse algo a respeito.

        - Tchau, eu vou desligar! Não complica a situação. - Ela desligou o telefone e se sentou na cama, me encarando seria.

        - Bom dia! Desculpa por isso! Eu não sei mais o que fazer com ela! - Camila baixou a cabeça, mas eu a encarava seria.

        - Você precisa sair daquela pensão Camila, se não aquela garota nunca vai largar do seu pé! Eu não entendo, ela sai pra festa, mas você dormiu uma noite fora e ela te liga como se vocês ainda fossem (fiz uma voz de nojo) namoradas!

        - Ela é louca Leila, ela acha que sou propriedade dela, não sei onde eu estava com a cabeça!

        - E se você vir morar aqui conosco? Posso conversar com o Pedro! O que você acha?! - Disse animada pelo impulso. Camila ficou vermelho rubro.

        - Claro que não, eu não aceitaria! Por favor Leila, nem fale isso com o seu irmão! Eu vou dar um jeito prometo! - ela se levantou da cama e começou a se vestir, foi quando ela olhou para o notebook e viu os fones e o pendrive conectado.

        -Você ouviu a musica ontem? - Disse ela num tom assustado! Se virando para mim.

        - Ouvi sim! Muito Linda! - Sorri um pouco forçada, já reprimindo a vontade de dizer que tinha amado, aquele papo da Andréa logo de manhã cedo já tinha criado uma barreira.

        Camila sorriu e se vestiu. Não falei mais nada sobre a musica. Por mais que eu tivesse amado, e realmente queria dizer isso pra ela, pensei que seria melhor em outra ocasião! Eu estava gostando dela, e ela de mim. Mas ela precisa sair daquela pensão, ou eu não iria conseguir dizer pra ela tudo o que eu queria, pois só de lembrar daquela Andréa ja criava um nó em minha garganta!

        - Preciso ir em casa tomar um banho e ir pro Café! Meu uniforme ficou em casa. - disse ela vestida e refazendo a sua trança em meu espelho.

        - Tudo bem, eu te levo até lá! - disse eu já me vestindo. Camila me encarou pelo espelho com uma cara de que não era uma boa ideia. Fiquei brava com aquilo, não podia nem ir na frente da casa dela, por causa daquela garota.

        - Tudo bem então Camila, eu te deixo na esquina que seja! - disse furiosa.

        Camila sorriu e se apróximou, me abraçando. Ela me deu um beijo.

        - Obrigada pela noite, eu amei estar com você e seu irmão! Tudo foi maravilhoso Leila! - Ela me amoleceu, mas ainda estava chateada com aquela situação da pensão.

        Quando saímos do quarto, Pedro estava na sala. Ele usava terno e gravata, estava realmente muito lindo.

        - Bom dia garotas! E ai Camila, conseguiu dormir com os roncos da Leila?! - Disse ele sorridente.

        Camila sorriu concordando com a cabeça. 

        - Uau, não te vejo assim desde o casamento do Rafa! Que gato Pedro!

        - Já esta indo Camila?! Eu estou de saída, tenho uma reunião importantíssima hoje! Se quiser te dou uma carona! - disse ele pegando as chaves de cima da mesinha perto da porta. Eu olhei pra ela, esperando a resposta, então percebi que era melhor ele a levar do que eu, já que ela não queria que Andréa me visse com ela.

        - Leva ela Pedro, é melhor por que é caminho, não se importa não é Camila? - Ela concordou sorrindo, e me abraçou dando um beijo em minha bochecha se despedindo.

        - Vou com vocês até la embaixo.

        Descemos no elevador, cruzamos o hall de entrada, Pedro deu bom dia para o porteiro que apenas assentiu com a cabeça, fazendo daquilo o mais próximo de um bom dia.

        - A gente se fala então! Cuida bem do meu irmão no caminho Camila! - dei uma piscada pra ela, Pedro sorriu e os dois foram em direção a garagem. Quando eu estava voltando, o porteiro do prédio me chamou com uma especie de " Ei ". Me virei, um pouco assustada, pois ele nunca tinha dirigido a palavra para mim, ele acenou para a mesa onde estava uma carta. Eu fui até a mesa, peguei a carta e me assustei! Era outra carta do nosso pai. Agradeci automaticamente, pois não estava prestando a atenção, eu estava focada na carta.

        Assim que entrei no elevador, eu abri a carta, não aguentaria esperar até chegar no apartamento.

        Ela dizia assim:

Leila e Pedro.

Esperei resposta de vocês, mas vi que não gostaram muito de ter noticias minha! Queria muito ver- vocês, eu preciso ve-los na verdade! Se puderem me responder, ou entrar em contato. Pedro sei que você esta zangado comigo e tivemos nossos problemas quando você era um garoto imaturo, mas tenho certeza que você já é um homem e vai me perdoar! E Leila minha bailarina, seu pai quer ver como esta minha princesinha que não vejo a anos. 

Com amor, seu pai!

        Logo abaixo, no canto inferior da folha tinha um numero de telefone, eu estava estática olhando para ele. Assim que a porta do elevador se abriu, eu corri até o apartamento fechei a porta com o pé, ainda focada nas palavras que ali estavam. Fui até meu quarto em busca do meu celular, procurei em cima da escrivaninha mas lembrei que tinha deixado dentro da bolsa, corri peguei ela despejando tudo em cima da cama, assim que peguei o celular digitei os números mas exitei não fazendo a chamada.

"Leila, você vai ligar? E se Pedro estiver certo?" Pensava comigo mesma, me sentei na cama. Olhando do celular para a carta e vice e versa. Então resolvi ligar.

        Chamou uma vez, duas e alguém atendeu. Era uma voz feminina.

- Alô? - a voz parecia ser de uma garota. - Alô?! Tem alguém ai?

        Fiquei nervosa e desliguei o telefone. Aquela seria a nova esposa do meu pai? Será que eu tinha ligado para o numero certo? Conferi os números e estavam todos corretos conforme a carta.

        Eu precisava saber o que ele queria e eu já sabia o que fazer, na próxima folga de Camila eu iria pegar o carro e ir ver nosso pai. Mal não iria me fazer, eu precisava saber o que ele queria! Se fosse realmente apenas me ver, eu iria fazer a vontade dele. Se fosse outra coisa, como Pedro diz, eu iria virar as costas e entrar no carro com Camila e voltaria para casa! Estava decidido, eu iria acabar com essa duvida!

Folhas de Outono. (Um romance lesbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora