Assim que Camila voltou para o serviço, eu já me sentia melhor! De alguma forma aquele café e a companhia dela me fizeram bem. Assim que ela entrou na cozinha do café pude ouvir o seu tio que lembrava um porco sujo gritando com ela, por sentar com uma cliente, no caso eu, no horário de intervalo. No fundo me deu vontade de entrar e gritar com ele também, mas evitei mais confusão naquele Café House e resolvi ir para casa.
Liguei para Pedro algumas vezes, mas a ligação chamava até cair. Então fiz sinal para um taxi me pegar em frente ao Café. Os dias estavam cada vez mais frios com a chegada do Inverno, o taxista um homem já careca e com covinhas no rosto, sorriu para mim assim que entrei e ligou o ar condicionado no quente, me perguntando para onde eu iria, passei meu endereço e ele apenas disse um "Certo". No caminho olhando as folhas que já eram poucas nas arvores, comecei a por meus pensamentos em ordem: "Isso Leila, agora você é uma garota solteira, e só tem que focar na sua carreira, é só isso que você precisa agora!", mas ainda tinha algo que me incomodava, algo que estava me bloqueando para que meus planos dessem certo, foi quando me lembrei da carta do meu pai.
A ultima coisa que meu pai falou para mim, antes de voltar para a sua cidade, foi "Minha garota, estou feliz que você esta crescendo", para mim isso não faz sentido algum. Garotas crescem se tornam mulheres, e um dia algum canalha como ele larga a família para se casar com outra. Pedro nunca o perdoou, entendo o lado dele, ver nosso pai deixando dois filhos pequenos para serem criados por uma mulher já doente. Talvez Pedro nunca o perdoe, já eu algo me dizia que precisava ouvir o aquele homem tinha a me dizer!
Ainda perdida nos meus pensamentos, me dei conta que o taxista me observava pelo retrovisor.
- Dia difícil moça? - Ele me encarava com um sorriso entredentes. Forcei um sorrisinho, talvez ele tivesse notado que eu tinha chorado, ou até mesmo o modo como eu colocava meus pensamentos em ordem olhando pela janela. - Talvez! - Respondi não levando a conversa muito a diante. Ele voltou a atenção para o volante, entendendo a minha mensagem.
Assim que entrei pelo hall do prédio, senti um cheiro de comida, quando olhei para a mesa onde nosso porteiro ficava, ele estava sentando comendo um enorme prato de comida. Revirei o meu olhar, não acreditava que pagávamos o salario daquele traste, para ele ficar o dia inteiro comendo e olhando televisão. Eu estava exausta, por mais que não tivesse feito muita coisa, eu estava cansada apenas de estar viva. Subi no elevador, torcendo para que Pedro não tivesse chegado, para que eu pudesse ler a carta do nosso pai. Assim que o elevador parou no decimo primeiro andar, onde morávamos, e a porta se abriu dei de cara com a Sra. Estela! Ela estava toda encasacada, e parecia mais debilitada do que o normal.
- Leila, minha querida! Tudo bem? - Disse ela, segurando um pequeno lenço. Segurei a porta do elevador, para ela poder entrar. - Tudo sim! A senhora vai sair com esse tempo? - Ela entrou e sorriu para mim. - Não minha querida, eu vou pedir para o nosso porteiro vir olhar o meu gás que não esta funcionando, eu pedi mais cedo para ele, mas parece que ele esqueceu. - disse ela seguido de uma tossida. - Não se preocupe aquele lá não faz nada que preste, eu irei pedir para o meu irmão ir dar uma olhada para a senhora, assim que ele chegar, assim a senhora não precisa nem descer! - Ela abriu um longo sorriso e fez menção de sair do elevador, mas parou novamente levando o lenço até a boca para tossir. Segurei os ombros dela, para ajuda-la de alguma forma. - Muito obrigado minha jovem, você realmente é um anjo! Vou voltar, pois deixei o Sr. Ruffles preso dentro do quarto, ultimamente ando com a cabeça nas nuvens! - A ajudei a sair do elevador e ela seguiu para o seu apartamento, e eu para o meu.
Assim que entrei, dei de cara com Pedro sentado na mesa, ele me parecia muito chateado, levantou o olhar que eu conhecia, ele estava bravo com alguma coisa. - Que cara é essa, Pedro? O que houve? - Disse eu trancando a porta. - Leila, pretendia me esconder isso até quando? - Ele puxou um envelope, que logo reconheci que era a carta do nosso pai. - Pedro, quem te deu ordem de mexer nas minhas coisas? Desde quando você faz isso, desde quando deu para mexer nas minhas coisas? - Eu estava histérica, mas ao mesmo tempo com medo do que ele poderia ter lido naquela carta! - Eu fui procurar a chave reserva da garagem na sua gaveta e dei de cara com isso! - Ele me mostrava o envelope, que eu seguia com os olhos como um cão adestrado esperando a ordem do dono para pegar. - Pedro, eu tenho o direito de ler o que ele tem a nos dizer, por favor, o meu dia esta sendo uma desgraça, não torne pior do que já esta! - Ele levantou, e jogou a carta na mesa. - Pode ler Leila, mas eu não quero saber uma só palavra do que esta escrito ai, aquele homem para mim morreu, e assim o quero enterrado! - Ele se levantou e saiu pela porta que eu tinha entrado há poucos minutos, a batendo com força.
Eu peguei a carta, olhei para ela, pensei comigo mesma: "E se Pedro tivesse razão, e se eu tivesse que apenas rasga-la e deixar aquele homem lá com a nova família dele, talvez se ele estivesse com a sua família minha mãe ainda estaria viva, ele estaria aqui cuidando de nos!" Quando me dei por conta, eu já estava chorando, minha lagrimas caiam sobre o papel. Então eu a abri! Sentei na mesa e comecei a ler as poucas palavras que ali estavam escritas.
Leila e Pedro, meu filhos!
Há quanto tempo não os vejo, espero que estejam bem! Sei que devem estar com raiva de mim por sumir mais um ano, ou por não ter dado noticias nem mesmo em seus aniversários, mas quero que saibam que o pai de vocês só os deseja o bem! Queria muito poder ir visita-los, poder ver como minhas crianças estão grandes! Espero receber a resposta de que um dia poderei ir vê-los!
Com amor, seu pai que tanto os ama.
Assim que terminei de ler, algo em mim gritava por responder um sim, mas ao mesmo tempo sentia que algo estava errado, nosso pai nunca pediu para nos visitar, nunca demonstrou muito interesse em saber como seus filhos estavam alguma coisa estava acontecendo. Voltei a dobrar a folha de papel e a coloquei dentro do envelope novamente. Olhei para a mesa vazia e desejei ter mais uma xicara de café, e poder compartilhar aquilo com a minha mais nova amiga!
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Folhas de Outono. (Um romance lesbico)
RomantizmAquela garota me irritava, e como eu gostava disso! Me chamo Leila e essa é minha historia. Tenho apenas 4 estações para te amar! Até a ultima folha do outono cair! (Um seguimento do romance Enfim Sós) #2 ### PROIBIDO A CÓPIA OU ADAPTAÇÃO ####