Outono

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Peguei minha bolsa, tranquei o carro e segui para a festa de casamento. Passei por dois garotos que se abraçavam no meio da praça e sorri. "Eles parecem se gostar!" Pensei comigo mesma. Entrei no salão onde meu primo tinha recém se casado com a sua nova esposa Yara! Avistei a mesa em que meu irmão estava sentado e me dirigi até ele.

Ahh! Desculpe por não me apresentar. Chamo-me Leila, tenho 21 anos e moro com o meu irmão Pedro, que é 3 anos mais velho que eu. Moramos em um pequeno apartamento no centro da cidade. Nossa mãe morreu quando eu era pequena e meu pai não é muito presente em nossas vidas. Nós dois fomos criados por nossa tia que mora em uma cidade próxima, e assim que meu irmão atingiu a maioridade, ele tomou conta de mim. Amo muito Pedro, ele é minha mãe, meu pai e meu irmão.

Ao sentar ao lado dele, percebi que ele estava bravo.Como de normal. Pedro tem um gênio muito forte.

- Pedro, desculpe por não vir para a cerimônia, cheguei atrasada porque... - Ele me encarou e me interrompeu sem que eu pudesse ter chance de concluir a frase.

- Você se atrasou porque estava com o babaca do seu namorado, Leila! Eu já te disse que não gosto daquele moleque. - Disse Pedro em um tom de voz furioso.

Pedro era muito ciumento e protetor. Ele nunca aceitou meu namoro com Denis. Após ele terminar de falar, eu sorri para ele. No fundo, eu adorava aquelas cenas de ciúmes do meu irmão.

- Pedro, eu já tenho 21 anos e sei me cuidar muito bem. - Eu disse, tentando confortá-lo.

Ele deu de ombros e levou seu copo à boca para terminar sua bebida. Rafael e Yara se aproximaram da mesa, me levantei sorrindo para felicitar meu primo e sua nova esposa. Não a conhecia muito bem, mas ela me parecia uma menina adorável.

- Olha se não é minha prima linda! Que saudade de você Leila! Quanto tempo! - Disse Rafael, me abraçando.

- Muito tempo mesmo Rafa, lembro de você quando era do tamanho de uma criança normal! - Disse, em um tom descontraído. Depois que o abracei, olhei para a esposa dele que sorria. - Seja bem-vinda à nossa família, Yara! Espero que vocês dois sejam muito felizes! - Yara me abraçou, e agradeceu pelos votos de felicidade. Rafa e Pedro estavam conversando, troquei algumas palavras com a noiva, que me pareceu muito querida, pensei comigo mesma que ela realmente iria fazer meu primo feliz, então eu voltei a me sentar.

Eu sentia um vazio em mim, algo que me faltava. Há poucas horas eu estava com o meu namorado, aos amassos dentro do carro... e agora estava em uma festa de casamento, onde as pessoas me pareciam felizes, mas eu tinha um buraco negro em mim que sugava a minha felicidade momentânea! Avistei ao fundo os dois garotos que tinha visto anteriormente na praça, em frente ao salão. Eles me pareciam muito felizes, e fiquei pensando se algum dia eu poderia sorrir com aquela vontade. Foi aí que meu transe foi quebrado com o meu irmão me chamando.

- Leila, você esta bem? - Pedro me encarava, apenas respondi que sim forçando um sorriso falso.

Fiquei mais algumas horas na festa, então resolvi ir embora. Pedro já tinha bebido um pouco e resolvi levá-lo para casa, ele não estava em condições de dirigir. Já começava a esfriar, esse Outono estava de fato mais gelado do que qualquer outro. Ajudei meu irmão a entrar no carro, no banco do carona, joguei a minha bolsa para o banco de trás, e segui pela rua. A cidade estava calma, as folhas caiam das árvores e o vento surrava os prédios, assoviando freneticamente. Olhei para meu irmão e ele já estava dormindo. Era inexplicável o amor que eu sentia por ele, afinal, ele sempre me protegeu. As vezes chegava a ser chato o modo como ele cuidava de mim, mas sempre respeitou meu espaço. Devia muito a ele que sempre batalhou para me criar. Continuei sorrindo olhando para ele, e quando voltei a olhar para frente, tive que apertar o freio repentinamente, desviando de uma garota que estava no meio da rua. Os sons dos pneus no asfalto acordaram meu irmão. Eu desviei e subi a calçada, parando bem a tempo de bater no muro de uma casa.

- Leila, o que está acontecendo? - Perguntou meu irmão sem entender absolutamente nada, assustado.

- Está tudo bem Pedro. Fique aqui no carro. - Eu disse, tirando o meu cinto de segurança. Desci do carro para ver como estava a garota que quase atropelei.

- Nossa. Me desculpe!!! Você esta bem? Te acertei com o carro?! - Perguntei atônita.

A garota estava parada no mesmo lugar, ela tinha a estatura mediana, o cabelo raspado de um lado da cabeça, e usava um blusão que parecia que as mangas eram maiores que os braços dela, ela parecia ser uns dois anos mais nova do que eu.

- Olha por onde anda sua retardada! - Ela gritou me encarando, e eu fiquei perplexa com aquilo tudo.

- Você estava no meio da rua sua louca, e eu que tenho que tomar cuidado?? - Eu disse, alterada.

Ela começou a rir, seus dentes eram perfeitamente alinhados e brancos.

- De onde a princesinha saiu? Cuidado já virou borralheira, ou você não olhou o relógio? Já passou da meia-noite, Cinderela. - Ela terminou a frase, com um ar de deboche na voz.

Ela olhava para o meu vestido e meu cabelo muito bem penteado.

- Vai se ferrar garota, pelo visto você já esta bem! Se não te atropelei, então já posso ir! Boa sorte sua louca! - Virei as costas e segui para o carro, que estava em cima da calçada. Pedro abriu a porta do carona se segurando para não cair.

- Quem é aquela Leila?! - Ele pergunto. Eu estava furiosa, aquela garota quase me fez bater o carro, ou talvez atropelado ela de fato, e nem para me agradecer que fui ver como ela estava.

- Ninguém Pedro, entra no carro! Nós vamos para casa. - Assim que entrei no carro, olhei para o retrovisor e ela me mostrava o dedo do meio sorrindo. Arranquei com o carro, pensando que deveria ter atropelado ela.

Cheguei em casa estacionando o carro na garagem do prédio e ajudei Pedro a entrar no hall de entrada. O porteiro do prédio, um homem realmente detestável, ficou olhando eu ajudar meu irmão, que estava um pouco mole, a entrar no elevador. Como eu já estava exaltada por causa daquela garota idiota, tive o prazer de mostrar o dedo do meio para ele enquanto a porta do elevador se fechava. Isso me fez lembrar novamente dela, e eu já estava bufando.

Tirei a roupa de Pedro o deixando apenas de cueca e o coloquei no chuveiro, amanhã ele iria me agradecer por isso. Fiz um café bem forte e assim que ele saiu do banho dei para ele tomar, arrumei a sua cama e o vi capotar. Tomei um banho bem quente. Sentia aquela água cair, e fiquei pensando o porquê eu estava tão triste. Eu tinha uma casa, tinha Pedro que era a minha família, e tinha a Denis que já o namorava há um ano e meio. Não posso dizer que ele era um príncipe, ele apenas era bom para mim e ponto.

Assim que sequei meus longos cabelos, fiz um chá bem quente e sentei no sofá olhando para a varanda. O bom de morar no décimo primeiro andar era isso, poder ver uma parte da cidade e acompanhar as folhas das árvores que caiam com o Outono. Consultei o horário em meu celular e vi que já era tarde. Precisava dormir, pois tinha uma seleção importantíssima no outro dia. Assim que deitei na cama e apaguei todas as luzes, flashes daquela garota me passavam na cabeça. E pensei que se eu tivesse atropelado ela, não estaria deitada em minha cama naquele momento.

Folhas de Outono. (Um romance lesbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora