Lição N° 26.

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Algumas coisas não podemos cumprir, outras escolhemos não fazer nada.

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As manhãs na escola começavam a se tornar cada vez mais melancólicas.

Era estranho a sensação de estar na aula de educação física, por exemplo, e saber que estávamos participando das últimas vezes jogando qualquer coisa que fosse na quadra. As risadas nas salas de aula e no pátio se tornavam a cada segundo mais repletas de memórias. Eu, pelo menos, já olhava para cada pessoa naquele lugar com o coração mais pesado, como se já estivesse tentando me acostumar com a ideia de nunca mais me encontrar com boa parte dos alunos.

Felizmente, isso era bastante diferente quando se tratava dos meus amigos. Eu tinha poucas certezas na minha vida, mas era bom demais saber que uma delas era justamente que Laura e Cláudio ficariam ao meu lado pelo resto dos meus dias.

Diferente deles, eu não podia dizer o mesmo sobre Davi. Naquela manhã quente, o garoto do vômito estava completando dezoito anos e, em poucos dias, já faria um ano desde que aquele seu apelido tinha vindo à tona. Faltava pouco mais de dois meses para o ensino médio nos abandonar pela vida, mas aquela lembrança da festa em que nos conhecemos ainda estava bastante fresca na minha memória.

Sorri minimamente quando, sentada ao lado dele no gramado de frente para o pátio, pude observar melhor seu rosto à luz do sol. Soltei um suspiro ao constar mais uma vez que ele parecia cada vez mais bonito. O cabelo recém cortado aparentava estar mais escuro e liso e eu detestava a ideia de reparar tanto em cada detalhe seu.

— Tá me encarando de novo. — soltou de repente, me distraindo dos meus pensamentos. Espanha levantou a cabeça para me observar melhor. — Já é a terceira vez que te pego me olhando que nem doida só nesses cinco minutos.

— Para de ser mentiroso, estúpido. — retruquei de imediato, obviamente tentando disfarçar.

— É meu aniversário. Quero ser tratado direito. — sorriu de canto quando voltou a fechar os olhos e se apoiar novamente na árvore. Balancei a cabeça negativamente, pois não conseguia acreditar em como aquele rostinho bonito podia pertencer a alguém tão idiota ao mesmo tempo.

— Falando nisso... — mudei de assunto, visto que implicar com ele não parecia obter grandes resultados mais. — Vai fazer o que hoje? 

— Ah, nada demais. — deu de ombros. Parecia que, diferente de mim, ele não dava a mínima para a data do aniversário. — Só vou tocar mais tarde com a banda no mesmo lugar de sempre. O Arthur vai me deixar cantar todas hoje, então vai ser legal. E você tá super convidada. 

— Nesse caso, mal posso esperar. — sorri abertamente, não conseguindo conter minha felicidade repentina, mas desviei meu olhar do seu.

Permaneci distraída ao observar todos os arredores e notei que Davi estava olhando para um certo ponto no pátio. Tentei encontrar o que ele tanto observava e avistei Guilherme sentado entre seus amigos em um banco, nos olhando de relance.

— Ele tá encarando a gente há um tempão. Tô começando a ficar assustado. — Espanha se virou para mim e ergueu as sobrancelhas. — Faz um tempo que não vejo vocês juntos. O que rolou? 

Engoli em seco e passei a mexer no chaveiro que ganhei de presente do meu melhor amigo, na mochila. Eu e Guilherme tínhamos conversado há poucas semanas e ele disse que entendia eu não querer nenhum relacionamento, apesar de não ter ideia do motivo real de eu não querer nada disso.

— Rolou que o lance que a gente tinha não tá rolando mais. — contei baixinho, mas Espanha me observou de forma curiosa.

— Ué, por quê? — ele se ergueu de repente, aparentando estar realmente surpreso com a informação.

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