Lição N° 8.

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Não minta para a própria mãe apenas para se livrar da encrenca. 

❁❁❁

— E você bebeu? Não vou perguntar de novo.

Respirei fundo mais uma vez, tentando não deixar evidente toda a minha irritação em estar tendo aquela conversa. E, claro, receio também.

Minha mãe estava em pé com os braços cruzados enquanto me observava de forma rigorosa o meu rosto, que não estava dos melhores. A festa do dia anterior me rendeu uma boa dose de ressaca e talvez ter chegado vomitando em casa, ainda pela manhã, tenha criado suspeitas de que fiz mesmo besteira.

Vivi estava sentada no outro sofá, observando tudo com cautela. Era óbvio que minha irmã sabia da verdade e por conta disso sempre me ajudava a acobertar minhas mentiras quando era realmente necessário.

— Cláudio disse que a comida não devia ter me feito bem e por isso deu a ideia de falar pra Laura te ligar. — expliquei encarando seus olhos escuros com certa expressividade. Estava tentando transmitir a mesma essência que a verdade deveria ter. Balancei os ombros levemente e desviei o olhar. — Mas eu bebi um pouco sim.

Ouvi seu suspiro alto e percebi meu coração se acalmando. Torcia para que os anos de teatro tivessem me feito uma verdadeira atriz. Eu odiava mentir para minha família, mas tinha em mente de que se contasse que bebi mais do que lembrava e que nem ao menos comi nada, seria castigo na certa. E sem sair pelos próximos três anos. Ou, talvez, pelas próximas três vidas.

— Fez alguma coisa imprópria? — ela pensou antes de perguntar, a voz mais suave. — Usou alguma droga?

— Mãe! — a repreendi instantaneamente e deixei minha indignação ainda mais à mostra. — Você sabe que nunca faria isso.

Ela abaixou a cabeça por alguns instantes enquanto parecia refletir sobre suas próprias palavras. Eu não gostava nem ao menos da ideia de pensar em drogas, especialmente o uso de cigarros. Apesar de ser permitido legalmente, repreendia qualquer usuário que ousasse romantizar o ato de fumar. Meu pai fez exatamente isso e acabou com a própria vida, terminando sozinho em algum lugar que eu jamais saberia.

— Lua, nem sei direito o que pensar. — bateu as palmas das mãos na lateral de seu corpo. — Você chega vomitando de manhã e agora só quer saber de rua. Por acaso tem algum garoto envolvido na história?

Tornei a encarar o fundo de seus olhos para entender se ela falava mesmo sério. Eu nunca fui muito de me meter em problemas, muito menos por causa de meninos.

— Ou, então, garota? — colocou as mãos na cintura.

Não contive um sorriso de canto ao escutar sua outra pergunta. Eu sabia que não era o momento, mas nunca deixaria de ficar feliz ao ver que ela não era como a mãe de Laura, uma mulher rígida e preconceituosa. A responsável pela minha melhor amiga assumia bem o papel de padrão da sociedade de classe média alta do Rio de Janeiro.

Após a morte do meu pai, minha mãe começou a ter relacionamentos com outros homens. Apesar de ser mais nova, eu já entendia bem que ela parecia não ser feliz ao lado daqueles caras e, após alguns anos, decidiu finalmente assumir que se entendeu ser, na verdade, lésbica. Fazia poucos meses desde que toda a família ficou ciente, mas fiquei imensamente feliz ao ver que todos reagiram bem. Eu sabia como algumas pessoas podiam ser intolerantes, especialmente os mais velhos. Mas, felizmente, acho que todos perceberam que minha mãe nunca esteve tão bem consigo mesma.

Eu e Vivi estávamos felizes sabendo que nossa mãe estava mais radiante do que nunca. Ela conheceu há dois meses uma promotora em meio às suas audiências, mas alegou que não nos apresentaria a mulher ainda. Se tinha uma coisa que ela detestava era envolver nossa família em relacionamentos fracassados. Eu sabia bem que isso era resultado de um trauma.

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