Capítulo 16

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Eu podia ser uma azarada no amor e tal, mas quanto ao quesito de família, eu tinha a melhor família do mundo!

Naquela tarde peguei um autocarro para casa da segunda mulher mais importante da minha vida, a vovó Carlota. Vovó era o sonho de avó, doce, simpática, carinhosa, era MARAVILHOSA.

Lembro-me de ter chegado a casa dela já emocionada, ela se encontrava em frente á capoeira e lançava grãos de milho para as galinhas enquanto entoava louvores murmurando.
Logo lembrei-me da minha infância e do quanto me sentia protegida e amada ao lado dela, com a minha avó, mesmo que as coisas fossem de mal a pior, ela dava um jeito e era como se fosse um mar de rosas.

Com lágrimas nos olhos, larguei as malas após passar pelo portão e corri em sua direção para dar o abraço que me protegia do mundo e de suas dores...

- vovó...__ disse chorando em seu colo.

- minha menina, a razão do dia ter nascido mais bonito pra mim hoje... Pressenti que vinhas...__ disse após apertar e dar beijinhos em minhas bochechas.

- ohhh vovó... Como está?!__ perguntei enquanto limpava as lágrimas.

- Graças ao bom Deus, eu estou bem... O que não acontece contigo...__ disse me olhando com dó e eu apenas assenti e baixei minha cabeça.

- as coisas não estão fáceis vovó...__ murmurei enquanto lágrimas teimosas rolavam pelo rosto.

- venha, vamos comer, arrumar as tuas malas e depois colocamos o papo em dia... __ disse enquanto limpava as mãos em seu avental.

Naquele dia comi o equivalente a uma semana, vovó tinha uma variedade de comida, parece que teria uma festa!

Depois de ter arrumado as malas em meu antigo quarto e ter feito um banho, tive que contar tudo para vovó. Desde o meu relacionamento com Edgar, as intrigas da Maria e do Elton, até o trágico envolvimento com Leonel.

- assim é a vida minha menina, cheia de surpresas... Lamento muito que tenhas passado por essas coisas, nem imagino o que passaste por causa daquela desnorteada da Maria e do cágado do Edgar. Mas tu tens o sangue dos Ngovene a circular pelas veias e nós não desistimos fácil!
Você vai procurar um emprego, vai trabalhar para sustentar o meu bisneto e dar uma boa educação a ele. Você vai prosperar e se tornar independente e forte, vai alcançar seus objetivos e eu estarei aqui para te dar apoio, não só eu, assim como toda a família. E acredite, todos os que te fizeram mal, vão pagar porque Deus nunca abandona os seus!__ minha avó disse convicta e fez uma oração pela minha vida e apartir daquele dia as coisas mudaram, e pra melhor!

Após duas semanas procurando por emprego, consegui um cargo como cozinheira em um restaurante na zona nobre da cidade, não era fácil porque tinha que estar lá às 4h da manhã e só despegava as 22h depois de ajudar na limpeza. Chegava a casa tarde e cansada pela falta e transportes e pela distância.

Depois de três meses minha família voltou para Maputo e o melhor foi ver minha mãe emocionada e feliz pela minha gravidez que já era visível. Com a chegada deles a vida ficou fácil porque meu irmão Jansen virou meu motorista e começámos com uma conta poupança para abrir o meu restaurante.

Depois de cinco meses nasce minha filha, Patrícia Dos Anjos Seixas, era tão pequena e frágil... Foi o melhor momento em toda minha vida. Como era uma excelente profissional, meu patrão permitiu que eu voltasse a trabalhar depois da licença de maternidade, ele era muito chato.

Quando Patty fez um ano e meio ela disse mamã pela primeira vez, e você não imagina o quão emocionante foi. Imagine um dia que tenha realmente começado mal! O despertador tocou tarde, o carro avariou no meio da estrada e consequentemente atrasei por duas horas, meu chefe estava com um humor de cão e quase fui demitida. Alguém sabotou meu arroz e ele saiu cheio de sal ( digo que foi sabotagem porque sou muito rigorosa com a quantidade tanto do sal, como do açúcar em minhas receitas), tive que fazer um outro arroz que me custou um corte no salário. Na hora de volta o carro ainda continuava avariado e eu tive que pegar um autocarro público que para minha desgraça estavam em greve, só podia contar com a boa vontade das pessoas com carro e depois de tanto tempo consegui a boleia de um jovem muito charmoso e educado que me levou até a entrada do meu bairro, sendo que ele vivia na cidade!

- Rafael, não sei como te agradecer... Você me salvou hoje, com certeza serei muito grata! Que Deus te abençoe...__ falei sorrindo e grata.

- eu já me sinto recompensado só de ver esse sorriso lindo que tens... __ disse todo galanteante e eu baixei a cabeça em sinal de vergonha__- podia por favor me dar o seu número? Eu acho que seremos bons amigos... Por favor...__ pediu de forma educada e eu respirei fundo... Durante esse todo tempo, nunca tive contacto que nenhum outro homem que não fosse meu familiar... Desde o ocorrido com Leonel, comecei a demonstrar uma certa relutância para falar com homens... Confesso, peguei um certo pavor.

- posso dar sim...__ depois de dar o meu número, despedimo-nos e caminhei para casa, já era meia noite.

Entrei em casa toda cansada, fiz um banho e aqueci o meu jantar e antes mesmo de me sentar escutei o chorinho que já me era familiar, fui para o quarto e carreguei a minha princesa toda trombuda.
Fiz um leite para ela que tomou feito esfomeada enquanto eu comia, depois de alimentadas fomos para cama e brincamos um pouco. 

- meu amor, agora vamos dormir tá bom?! Já está tarde! Boa noite meu bebé...__ falei enquanto a cobria.

- nanoite mamã...__ disse sorrindo sapeca e eu congelei emocionada.

- repete meu amor, fala mamã de novo...__ pedi com lágrimas nos olhos.

- mamã...__ disse sorrindo e dei-lhe um beijo na testa...

- eu te amo minha vida...

Por 3 SegundosOnde histórias criam vida. Descubra agora