Capítulo 21

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Era meio dia e eu já estava uma pilha de nervos, sem contar com Patrícia que estava super animada e não desgrudava do portão, ela sabia que a qualquer momento o pai passaria por ali.

Com os cachos rebeldes amarrados e um vestido amarelo pomposo, minha filha exibia a maior sorriso do mundo, a partir de hoje ela teria um pai presente e escaparia do bullying.

- Patrícia! Saia debaixo do sol! Vais ter dores de cabeça por isso!__ berrei da varanda.

- Estou a espera do pai!!__ gritou de volta.

- Patrícia minha filha, venha pelo menos tomar um copo de sumo para te refrescares e depois voltas...__ disse quando percebi que ela não iria mudar de ideia tão cedo, teimosa!

- Rápido mamã, ele vai chegar...__ disse depois da pequena corrida até a varanda.

- Ele disse que vinha almoçar connosco, ele conhece muito bem a casa, sabe abrir o portão, não precisas ficar ali.__ tentei acalmar a miúda.

- É que, estou com saudades e quero muito o conhecer...__ disse depois de tomar o último gole do sumo.

- Está bem! Vá lavar o cara, estás toda suada, depois voltas para o teu posto de guarda...__ disse depois de afagar o monte de cachos e ela assentiu saindo feito um foguete para a casa de banho.

Suspirei nervosa e ajeitei os pratos pela milésima vez, parecia que eles tinham vida própria e estavam a zanzar pela mesa. É um defeito meu, sempre que estou nervosa as coisas saem do lugar. Quando terminei de ajeitar os pratos, olhei para o portão e meus batimentos cardíacos aceleraram.
Lá estava o motivo de todo alvoroço e nervosismo, com dois buquês, um de rosas amarelas e um de girrasois.
Em sua outra mão havia duas sacolas coloridas e em seu rosto um sorriso nervoso e me arrisco a dizer que era sincero.

- Patrícia, ele chegou...__ falei num tom médio, acompanhando seus passos até aqui.

- Estou bonita mamã?!__ meu pingo de gente apareceu com os cabelos soltos e tímida.

- Sim meu amor, está perfeita...__ falei depois de me abaixar até sua altura e deixar um beijo em seu rosto.

- Boa tarde...__ ele disse depois de limpar a garganta, levantei-me, alisei a saia e dei um meio sorriso...

- Boa tarde. Teve uma boa viagem?!__ questionei e ele apenas assentiu me entregando as flores e as sacolas.

- Olá pequena...__ disse depois de estar dobrado até a altura da filha.

- Olá... Você é meu pai?!__ perguntou receosa e nem parecia aquela teimosa de agora a pouco, típico da minha família.

- Sim, sou o teu papá...__ disse de forma carinhosa brincando com os cachos dela.

- Por quê demorou?! Meu coração doeu muito papá...__ disse chorosa, uma lágrima desceu por sua bochecha gorda e meu coração se apertou me fazendo chorar também.

- Desculpa pequena, prometo nunca mais te deixar...__ seu tom sôfrego denunciou que também estava emocionado ao dar seu primeiro abraço.

- Eu senti tantas saudades papá... Disseram que você nunca ia voltar porque sou feia e chata...__ murmurou mais chorosa ainda e o pai tirou-lhe do chão com as mãos envolvidas em seu corpo pequenino.

- Shiuuu... Mentiram pra ti, eu voltei, não voltei?!__ ela assentiu__- voltei porque você é linda, meiga, uma menina maravilhosa, porque é minha filha e porque te amo muito...__ finalizou com um beijo em sua testa.

- Promete que nunca mais vai me deixar?__ disse com o rosto escondido no pescoço do pai enquanto suas lágrimas molhavam a camisa preta que ele trazia.

- Prometo...__ disse depois de olhar para mim.

-- Agora vamos comer por favor, essa menina não aceitou colocar nada na boca hoje por conta da ansiedade...__ disse afastando as cadeiras.

- E essas flores?__ Patty perguntou.

- Esses girassóis são para você, significam felicidade, a felicidade que eu carrego todos os dias por ser seu pai. E essas rosas são para sua mãe, significam respeito, alegria e gratidão. Respeito por ela ter cuidado tão bem de você, alegria e gratidão por me dar o meu maior presente, que é você...__ disse nos entregando os buquês.

- Obrigada...__ murmurei sem jeito. Não vou negar que fiquei fraca, fraquinha. Era bom saber que ele tinha noção do significado de tudo isso apesar de nos ter rejeitado no início.

- E aquelas sacolas?! São para mim? São as minhas bebés?__ perguntou toda sapeca.

- Sim, são as suas bebés, espero que goste delas, escolhi as mais parecidas contigo...__ disse tirando duas bonecas de tom castanho e cheias de cachos sintéticos.

- Olha mamã, as minhas bonecas, ele trouxe...__ disse toda feliz.

- Eu disse que ele traria, agora vamos comer por favor!

O almoço decorreu da melhor forma possível e eu literalmente não esperava aquilo. Meu coração estava feliz e em paz, finalmente minha filha tinha um pai, finalmente ela estava feliz, de verdade.

- Boa tardeeee família lindaaaa...__ Tânia entrou sorridente.

- Madrinha, venha conhecer meu pai...__ Patty gritou alegre.

- Calma abelhinha, eu conheço seu pai, ele é meu primo...__ disse carregando a menina.

- Ohhh, não sabia. Então somos todos uma família?!__ perguntou espantada.

- Sim, somos todos uma família. Boa tarde primo...__ disse com um sorriso irónico.

- Boa tarde Tânia... Patty, podes ir buscar as tuas outras bonecas?!__ pediu  e ela assentiu.

- Espantado?__ Tânia debochou.

- Decepcionado pra ser sincero, tiveste coragem de esconder a minha filha Tânia?! Eu sempre achei que fôssemos do mesmo time!__ disse frustrado e me segurei para não rir.

- Deixamos de ser do mesmo time quando tu rejeitaste a tua filha, quando deixaste uma mulher grávida a deriva por caprichos teus!__ suspirou__- Não venha bancar o ofendido agora, quando quem chorou foi a Ana por 6 anos. Tens noção do que ela passou?!__ perguntou frustrada.

- Olha, esse não é o momento para lavar a roupa suja, não quero que a minha filha ouça isso, então, por favor, comportem-se!__ decretei nervosa.

- Desculpa Ana, não queria causar tudo isto...__ baixou a cabeça envergonhado.

- Seja bem vindo a família primo...__ Tânia sorriu, e pelo portão passava ninguém mais, ninguém menos que o Jansen.

A tarde será longa...

Por 3 SegundosOnde histórias criam vida. Descubra agora