Capítulo 28

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Assim que sai da sala de atendimento com o braço enfaixado e alguns pensos rápidos espalhados pelo rosto por conta dos arranhões, visualizei uma cena que fez meu coração derreter, por mais que estivesse chateada e frustrada com toda a situação que o Leonel trouxe para as nossas vidas, nenhum dinheiro compraria a felicidade que sinto ao ver minha filha abraçada ao pai com um sorriso tímido.
Mesmo que seu rosto esteja vermelho e inchado por conta do choro, minha filha parece um anjo, com seu rosto delicado e perfeito.

Imediatamente lágrimas rolaram por meu rosto, os últimos dois meses foram doloridos pra ela, principalmente pela distância que ela decidiu manter do pai. De noite o choro dela vinha com força, as vezes tinha febres, noutros dias ficava sem apetite e vontade zero de brincar.
Infelizmente nada fazia ela mudar de ideia, Patrícia é teimosa feito uma mula, assim como o pai, e a mãe também!

Não queria ver o pai e tinha vezes que até me ignorava, ela estava chateada por ter sido enganada, mas pelos vistos, a saudade e o amor venceram o orgulho e a dor dela.

Graças a Deus!

Assim que eu me aproximei deles, num pulo Patrícia veio até mim e voltou a chorar, carreguei ela os meus braços e afaguei seus cabelos distribuindo beijos por seu rosto.

- Perdoa a mamã sim? Prometo que nunca mais faço isso contigo...__ pedi baixinho e ela assentiu.

- Vocês precisam descansar, venham que eu vos levo a casa. Jasen teve que ir ao serviço e me deixou essa tarefa.__ Leonel avisou e então saímos em direção ao carro.

O caminho até a minha casa foi feito num silêncio confortável, Patrícia dormia embrulhada no casaco do pai no banco de trás, Leonel estava totalmente concentrado no volante mas com a mente distante e eu apenas me limitei em observar o movimento. Já tinha uma dor de cabeça no momento para me concentrar nos problemas.

Foquei minha atenção no pai da minha filha e observei seu semblante sério, cansado, olheiras visíveis e uma ruga bem evidente na testa.
Ainda via nele aquele homem justo, honesto, humilde e amoroso que conheci, o arrependimento dele me fez lembrar dessas características. Mas cada vez que a minha filha me perguntou sobre as mentiras que eu contei durante anos nesses dois meses, eu tive lembranças da dor que ele me causou quando estraçalhou meu coração.

Me julguem se quiser, mas por incrível que pareça eu ainda amo esse homem, amo o sentido que ele deu pra minha vida, a filha que tive, fruto do nosso amor. Mas também o odeio, por toda dor e sofrimento que ele me causou.

Mas o que posso fazer? Dizem que entre o Amor e Ódio existe uma linha tênue que divide dois sentimentos tão imensos.
É por isso que alguém pode amar e odiar com tanta intensidade de uma hora para outra.
É esta proximidade de dois sentimentos tão opostos que causa muitas vezes tanto sofrimento.
Na natureza tudo que muda tão rápido causa grandes turbulências, entre amor e ódio não é diferente.

Mas de todo, eu me recuso a carregar o ódio por ele, me recuso a alimentar esse ódio. Eu sempre fui uma mulher com princípios cristãos e Jesus nos ensinou sobre o perdão, sobre o amor e sobre a fé.

Eu rezo todos os dias para que meu coração consiga perdoá-lo e ficar em paz.

O sonho de ter uma família nunca sumiu, só foi afastado, se calhar seja com ele o meu futuro, assim como também pode não ser com ele. Mas de tudo, eu só quero que a minha filha seja feliz, independentemente de estarmos ou não em um relacionamento amoroso.

Porque em algum lugar vago deste meu coração, essa hipótese não morreu.

Meus devaneios são interrompidos assim que chegamos a minha casa, descemos do carro e Leonel carregou a filha no colo que resmungava algo durante seu sono.

- Deixe ela no sofá da sala, tenho que fazer o jantar e depois dar um banho nela.__ disse depois de abrir a porta.

Patrícia abriu os olhos quando seu corpo entrou em contacto com o tecido do sofá, focou seu olhar perdido em mim e depois olhou para o pai que já ia se afastando.

- Papá... não vai, sempre tenho pesadelos... eu não consigo dormir... sonho que pai vai me deixar...__ seus olhos encheram de lágrimas e os meus também.

Respirei fundo segurando o choro e engolindo o nó em minha garganta.

- Ohhh meu amor, pai não vai te deixar nunca mais. Eu prometo! E como prova, hoje nós vamos dormir bem juntinhos... que tal?!__ ele disse afagando os cabelos dela e ela assentiu colando sua cabeça no peito dele.

- Está bem papá, eu te amo...__ disse baixinho e minhas lágrimas caíram.

- Também te amo muito tesouro, te amo daqui até a lua. Mas agora vai lá fazer um banho pra tirar o cansaço do corpo sim?!__ ela assentiu e saiu a passos lentos para seu quarto.

Funguei e limpei as lágrimas teimosas, enquanto Leonel vinha ao meu encontro e deu-me um abraço apertado.

- Desculpa... por tudo!__ alisou minhas costas e deixou um beijo em minha testa.__- Nunca quis te causar essa dor toda, eu sinto muito e espero que um dia me perdoes...

- Um dia com certeza eu vou te perdoar.__ falei com a voz abafada.

- Faça um banho enquanto vou pedir pizzas, não estás em condições de cozinhar e acho que não devemos deixar a nossa abelhinha sozinha... hmm?!___ disse todo carinhoso e eu assenti e sai em direção ao meu quarto.

Me despi, fui até meu banheiro e deixei que a água morna fizesse seu trabalho, levando consigo o cansaço, a dor e as preocupações daquele dia. Eu tenho que ser forte pela minha filha. Sempre.

Por 3 SegundosOnde histórias criam vida. Descubra agora