Capítulo 19

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- Ela fez o quê?!__ Tânia gritou me interrompendo.

- Calma... Ela literalmente chamou minha filha de aquilo e disse que não ia dividir nem o dinheiro nem a atenção do marido dela connosco...__ falei exausta.

- Aquela filhote de cobra!!! Arrrrggggghhh!! Eu quero partir ela em pedacinhos! Como ousa chamar a Patty de "aquilo"?! Perdeu a noção do perigo?! Eu já tinha avisado ao Leonel sobre o carácter daquela zinha! Mas ele não me ouve!!!__ minha amiga zanzava pelo meu quarto toda nervosa.

- No momento eu quero é manter distância daquela família!__ disse nervosa.

- Não é como se isso fosse resolver teus problemas! A Patty precisa conhecer o pai, mesmo que ele não mereça! Ela precisa de um pai Ana!__ Tânia disse exasperada.

- Que não seja por isso, prefiro que Rafael desempenhe esse papel, porque ele sim, ama a minha filha como um verdadeiro pai! Não vou permitir que ela seja rejeitada de novo, não! Isso não!__ disse furiosa e a deixei sozinha.

Em hipótese alguma eu permitiria que Patrícia fosse alvo daquele tormento, Leonel já havia a rejeitado uma vez e com certeza faria de novo. Eu já não me importo muito com o que ele faria aos meus sentimentos, mas quanto aos sentimentos de Patrícia?! Uma criança pura e inocente que sonha em ter um pai, que provavelmente a rejeitará. Não!

Naquela tarde não tive mais contato com Tânia, o que foi bom, porque se nos encontrássemos novamente terminariamos num bate boca já que ela torce para que eu e o primo terminemos juntos.

Na manhã de sexta-feira saí para o restaurante, era o dia mais movimentado e eu não queria deixar trabalho ou motivos para reclamações.

Dispunhamos de uma variedade de pratos e não era fácil gerir aquele restaurante, até meio dia eu já estava aos pedaços, o restaurante estava lotado, de executivos principalmente.
Aconteceu algo na mesa 8, Dennia estava muito transtornada quando veio ter comigo.

- Ana, uma senhorita insuportável exige a sua presença na mesa 8...__ disse respirando fundo.

- O que aconteceu?!__ perguntei atenciosa.

- Eu me atrapalhei e troquei os pedidos, eu sei que errei, mas ela me tratou tão mal, chamou-me de garçonetezinha de merda e mal trapilha... Me descontrolei e joguei um copo de água nela... Desculpa Ana...__ Dennia chorava compulsivamente e eu tentei acalma-la.

- Heyyy, tudo bem, respira, eu vou resolver essa confusão está bem?! Agora beba um pouco de água, respira, limpa o rosto e vá atender as outras mesas, esse restaurante está um caos!__ disse sorrindo e ela assentiu sorrindo.

Respirei fundo, era a primeira vez que aquele tipo de problema acontecia no restaurante, eu precisava manter a calma e resolver a situação sem sobressaltos.
Caminhei até a mesa 8 com um sorriso cordial no rosto, no mínimo tinha que passar uma boa impressão.

Meu coração gelou no instante em que eu identifiquei os ocupantes daquela mesa. Eu não podia acreditar, não estava pronta para ver aquelas pessoas, não agora que eu estava a recuperar a paz.
Érica, Leonel e mais um casal ocupavam a mesa 8.
Respirei fundo mais uma vez e acabei com a distância que me separava da mesa.

- Boa tarde, sou Ana Seixas, a dona e gerente do Tuc Tuc! Em que posso ajudar?!__ falei firme tentando não demonstrar o nervosismo.

- Nesse seu restaurante de quinta não sabem tratar os clientes??!__ Érica gritou chamando a atenção das outras pessoas.

- Érica! Controla-te!__ um homem barrigudo resmungou irritado enquanto Leonel continuava pasmo olhando para mim...

- Mas papá! Aquela ordinária molhou-me... Eu quero que ela...

- Ana? És tu mesma?!__ Leonel interrompeu a Érica.

- Bo... Boa tarde senhor Leonel...__ respondi seco.

- Ana, aquela Ana?! A empregadinha?!__ Érica perguntou pasma e eu respirei fundo.

- Creio que houve um inconveniente com Dennia, peço imensas desculpas pelo ocorrido! O almoço e a sobremesa serão por conta da casa. Aproveitem o almoço...__ tentei soar calma.

- Muito obrigada minha jovem... Imensas desculpas pelo comportamento da nossa filha...__ a senhora falou envergonhada.

- Sem problemas, com licença...__ me despedi e ao me virar um furacão crespo abraçou a minha cintura...

- Mamã... O tio Rafael vai me pagar sorvete hoje...__ disse muito animada alheia a saia justa em que eu me encontrava.

- Ohhh que bom meu amor... Vamos para o parquinho lá fora...__ disse tentando tirá-la do salão.

- Ahhhh tens uma filha...__ Érica gritou e foi o suficiente para Patrícia desgrudar e ficar a vista e de cara com o pai.

- Sim, tenho uma filha...__ respondi seco e ela arregalou os olhos.

- Mas ela é cópia do Leonel...  Não me diga que essa é...

- Vamos filha, vamos tomar o sorvete AGORA!__ falei alto demais chamando atenção da Patrícia.

- Agora? Vou chamar o tio Jansen...__ disse eufórica e correu...

- Ana?! Ela? É a...__ Leonel perguntou nervoso.

- Com licença...__ falei me retirando e ele seguiu-me até a cozinha, tirando minha paciência e calma.

- Ana! Fala comigo por favor! Eu sei que errei muito, mas estou muito arrependido, me deixa explicar...__ Leonel disse desesperado e respirei fundo.

- Leonel, chega, essa não é a hora e nem o local pra tratar esse assunto. Para além de que esse encontro foi totalmente ao acaso. Se você quisesse falar comigo, teria me procurado.__ exaltei-me.

- Eu não vim por vergonha, por medo e você pediu que eu te esquecesse...__ murmurou cabisbaixo e com a voz embargada.

- Sim, você devia desaparecer da minha vida depois de tanto mal que me causou! Eu não quero ter que passar por tudo aquilo de novo, tenho uma filha por cuidar...__ minhas lágrimas rolaram pelo rosto.

- Me perdoa...__ tentou limpar meu rosto.

- Mamã?! O tio Jansen já vem... Ohhh, por quê choras??!__ Patrícia disse me abraçando e eu a carreguei.

- Passei ali pela cebola e fiquei assim...__ limpei o rosto.

- E esse senhor quem é? Vai trabalhar aqui?__ olhou curiosa para o pai.

- É um amigo da mamã... E ele não vai trabalhar aqui, ele até já está de saída...__ olhei diretamente pra ele que entendeu o recado.

- E quando poderemos conversar?!__ perguntou abatido.

- Deixe seus contatos na recepção, ligarei quando estiver pronta...__ falei decidida e ele assentiu, aproximou-se e deu um beijo na testa da Patrícia que sorriu confusa e logo de seguida acenou pra ele.

Por 3 SegundosOnde histórias criam vida. Descubra agora