Capítulo 15

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E lá estava eu em meu quarto andado feito uma condenada... Eu girava por todo o lado, na tentativa frustrada de acabar com o meu medo e nervosismo, mas era tudo em vão.

Os testes que Tânia trouxe vieram confirmar o que eu já tinha desconfiado, eu estava grávida e não tinha como negar isso.
No momento ensaio sobre como passar essa notícia para o pai do meu bebé, esperava que ele voltasse logo para que eu acabasse com essa angústia.
Uma buzina familiar ecoou pelo quintal e eu já sabia quem era, tinha que sair dessa ainda hoje.

Corri para a casa de banho e fiz um banho para tirar o suor em meu corpo, já que tinha transpirado, vesti meu vestido longo, amarrei os cabelos, passei o desodorante e saí do quarto em oração.

Entrei pela cozinha e logo o encontrei procurando por taças...

- boa noite...__ disse calma.

- boa noite, tudo bem?!__ perguntou baixo.

- sim e com o senhor?!

- não precisamos dessas formalidades... Mas também estou bem... Procuro por taças...__ disse voltando a olhar pela cozinha.

- a sua esquerda...__ falei calma e ele assentiu e pegou nas taças...__- desculpa, mas tenho um assunto muito importante por tratar com você...

- não tenho muito tempo, prossiga...__ disse sério.

- eu... Eu... Estou grávida...

- meus parabéns Ana... O pai da criança deverá estar feliz... Precisas de um aumento?!__ perguntou

- o filho é teu... Nunca me envolvi com ninguém além de ti e do Edgar...

- desculpa Ana, mas essa criança não pode ser minha, eu sempre fui prudente e responsável... Das vezes que me lembro, sempre usei proteção.  Portanto esse filho não pode ser meu!__ disse num tom frio.

- lembras da primeira vez que dormimos juntos? Estávamos bêbados e não usamos proteção... Eu sequer me lembrei disso, teria tomado a pílula do dia seguinte...__ disse meio alterada e ele pareceu ponderar, no fim suspirou.

- olha, eu já expliquei a minha situação no momento, a minha carreira está em ascensão e não posso me distrair com outras coisas... Amanhã bem cedo podemos sair pra resolver essa coisa ... Conheço clínicas que podem fazer um trabalho limpo e...

- o quê?!__ gritei incrédula.

- isso não é nada Ana, vais tirar e tu poderás seguir com a tua vida assim como eu!__ respondeu no mesmo tom de voz que o meu.

- eu não acredito... Tu não és um ser humano, tu és um monstro e no momento tenho nojo de ti, e eu espero que te arrependas dessas palavras.
Não vou tirar esse bebé e podes te dar o luxo de esquecer que essa criança virá o mundo, podes também esquecer que eu existo... Te desejo uma vida próspera e cheia de sucessos, espero do fundo do meu coração que mudes e encontres a verdadeira felicidade...__ falei entre lágrimas.

- Leonel...__ uma mulher bonita chamou-o.

- ahhh Pérola, esta é Ana, a cozinheira... Ana, esta é Pérola, minha namorada...__ disse contido.

- muito prazer senhorita, passem bem, boa noite...__ dito isso eu saí da cozinha abalada e fui até meu quarto.

As lágrimas rolavam sem meu consentimento, se dantes eu estava quebrada, agora não sabia meu estado, estava dividida em mil estilhaços... As coisas tinham tomado um rumo totalmente diferente e eu tinha acabado de perder o controle dessa situação, minha única opção é deixar Deus agir.

Na mesma noite elaborei minha carta de demissão, mesmo sabendo que provavelmente teria consequências se eu me demitisse repentinamente, preferi correr esse risco que ficar sob o mesmo teto que ele.

Tentei dormir mas não consegui, rebolei pela extensão da cama até amanhecer... E fiz o que sempre faço, preparei o café e servi, desta vez tinha alguém diferente na mesa, era Pérola que sorria e parecia ter conquistado a todos.

Dentro de um envelope, entreguei a minha carta de demissão e saí para fazer o almoço, minhas malas estavam prontas, bastasse eu terminar os meus afazeres domésticos sairia daquela casa rumo a minha nova vida.

- O que significa isto Ana?!__ Tânia apareceu na cozinha depois de 1h, na companhia de sua mãe e Pérola.

- isso significa que eu não quero mais trabalhar aqui...__ falei baixo enquanto mexia a panela de caril.

- posso saber o porquê?!__ perguntou furiosa.

- porque já não dá! Por favor, respeite a minha decisão...__ disse cabisbaixa enquanto uma lágrima escapava.

- eu não sei o que se passa, mas sinto muito, espero que tudo fique bem e saiba que podes contar comigo...__ dona Cristina disse ao me abraçar.

- obrigada mamã...__ agradeci.

- Ana, te conheci ontem e acho que és uma pessoa boa... Gostei do teu tempero e espero que tudo dê certo para ti...__ Pérola falou de longe e eu agradeci.

- ainda vou te procurar para falarmos bem. Mas sinto muito... Amo-te sim?!__ Tânia falou chorosa e eu desabei em choros e fortes soluços.

- também te amo...__ respondi baixo enquanto a abraçava.

Depois delas terem saído fui até a casa de banho para dar um jeito no meu rosto inchado, voltei e servi a comida, avisei que tudo estava pronto e fui para meu quarto.

Fiz um banho, tirei o uniforme e usei um vestido longo amarelo, soltei os cachos rebeldes e dei um tratamento leve, calcei minhas rasteirinhas e peguei nas malas tirando-as para fora do quarto... Quando me preparava para sair escutei uma gritaria de dentro da casa. Eram vozes de mulheres e pareciam que vinham até o jardim... Segundos depois vi uma Érica gritando histericamente, sendo arrastada pelos cabelos pela Pérola, Leonel apareceu de seguida e parecia se divertir com a cena, duas mulheres se engalfinhando por ele.

Assim que ele me viu com as malas seu rosto ficou sério, abanei a cabeça na tentativa de esquecer tudo que eu tivera vivido com aquele homem, mas era impossível. Porque independente do lugar onde eu estiver, sempre me lembrarei de Leonel, dali em diante eu teria uma parte dele comigo e ele teria uma parte de mim... Ele teria meu coração pelo resto de seus dias...

Por 3 SegundosOnde histórias criam vida. Descubra agora