Segredos do Oceano

TEMPESTADE CRUEL parte 2

SIMON   

    — Simon.

    Escuto quando Lorelei grita meu nome e quando olho percebo que ela estava se afastando, indo para um lugar mais distante de onde estamos.

     —Lore.  — A chamei mas ela parecia não me ouvir, como se estivesse hipnotizada.  —Lorelei, para onde você está indo?

    Victório e eu saímos correndo em direção a ela, e felizmente estávamos próximos para segurá-la quando de repente desmaiou.

    Meus olhos demoraram a focar no motivo daquele desmaio, mas logo pude entender, era um cadáver, na beira da praia, um corpo sem vida, foi por esse motivo que ela desmaiou, ela o encontrou.

     — Victório, leva ela pro carro, eu vou ligar pra polícia.

    De todas as coisas que já vi em toda minha vida, essa sem dúvidas é uma das mais horríveis, O homem, quem quer que fosse, estava morto. Acabado. Franzino. Ele se fora. Levado como um peixe. Quem quer que tenha sido ele quando estava vivo, aparenta estar há dias sem comer, pois seus restos mortais estão magros, encolhidos e pálido, como se há tempos não visse a luz do dia, o que é estranho, se a água trouxe o corpo, significa que antes de partir ele estava navegando, exposto ao sol.

...

     — Você acha que ela vai demorar a acordar? — Victório pergunta quando me vê retornando do interminável interrogatório dos investigadores.

    Não demorou muito tempo para o socorro chegar, vieram dois carros da polícia, acompanhados de uma ambulância e o IML, o mais intrigante de tudo, é que eles não demonstraram nenhum sinal de surpresa ao ver a situação do corpo boiando inerte no mar, como se já tivessem se deparado com aquela mesma cena antes, logo percebi que a grande quantidade de policiais era para prevenir que curiosos tentassem uma aproximação do local, e evitar que uma foto ou coisa do tipo fosse feita, eles embalaram o cadáver dentro de um saco preto e praticamente o jogaram dentro de um rabecão, que, pelo que posso imaginar seja o da perícia, mesmo naquele estado não pude parar de pensar que ali antes era uma vida, um homem que pode ter uma esposa e filhos o esperando em casa.

    — Eu não sei, faz muito tempo que ela tá desacordada.

    — Ela tomou um susto grande Simon, duvido muito que vá acordar bem, e agora, o que faremos?

    Victório alisa o rosto dela que dorme igual um anjo, e na realidade não consigo me controlar, parece ser egoísmo da minha parte, mas vê-lo assim, tão próximo e tão íntimo de Lore, me deixa com um ciúmes que nem sei explicar o porquê.
   
    — É melhor levá-la para casa.

    — Casa não. — Ela respondeu enquanto lutava para abrir os olhos. —Não quero ir para minha casa, o que era aquilo Simon, na praia?

     — Era um corpo Lore, a polícia acha que durante a tempestade o homem que era um pescador caiu e afogou-se no mar, e a água estava muito forte, ele logo foi trazido para o raso.

    — E aquele grito durante a tempestade? Foi de alguém que encontrou o corpo antes de mim? — Perguntou enquanto esfregava as têmporas em um sinal de dor. — Acho que devo ter batido minha cabeça na queda.

    — Que grito? Eu não escutei nenhum grito. — Victório acrescentou enquanto prestava atenção em nossa conversa. — E não, você não caiu no chão, nós te seguramos antes que isso acontecesse.

     — Eu também não escutei, tem certeza disso? —Perguntei por fim.

    — Não, eu não consigo ter certeza de nada, agora eu preciso de qualquer coisa que faça essa latejante dor parar. E, obrigada por me salvarem, vocês dois são meus heróis.

    — Vamos embora, se eles precisarem de mais alguma informação, irão entrar em contato. — Falei enquanto ligava o motor do carro e tirava o automóvel do acostamento.

    A volta para casa foi silenciosa, nenhum de nós três ousou dizer nenhuma palavra, e arrisco pensar que qualquer frase dita nesse momento surgiria como um efeito bomba.

....

    — Toma, vai te ajudar a melhorar.
— A entrego um analgésico e uma xícara com chá, desde que chegamos em casa, sua dor de cabeça parece ter aumentado, pior que isso, ela tem estado estranha, como se só seu corpo estivesse presente, enquanto sua mente vagava por outros lugares. — Pode dormir aqui se quiser, lá em cima tem um quarto de hóspedes, acho que sua vó não se importaria se você passasse uma noite aqui.

    — É melhor não, eu vou embora, vou tentar descansar um pouco, até amanhã. — Falou já levantando do sofá onde estava sentada, enquanto depositava a xícara vazia em cima do centro de mesa da sala de estar, a acompanhei com os olhos, até que saiu e fechou a porta atrás de si.

    — Será que ela vai ficar bem? — Victório me encara com uma interrogação no rosto.

    Fico tentando imaginar como ela está se sentindo, mas não consigo, nós estávamos em uma distância longa em relação ao ponto que o corpo se encontrava na praia, mesmo que ela tivesse uma boa visão, seria impossível avistar qualquer coisa a ponto de conseguir definir o que era, mas mesmo que eu não consiga entender, deve haver uma explicação lógica para isso.

    — Eu não sei, você viu o corpo na praia com atenção?

    — Não, eu só me concentrei nela enquanto estava desmaiada, depois que sai pro carro a polícia chegou e eu não consegui ver mais nada.

    — Mas eu vi, ninguém que morre afogado fica daquela maneira, lembra de quando éramos pequenos e aquela mulher sumiu no mar e só encontraram ela uma hora depois, mas ela já estava morta? Quando a encontraram ela estava completamente diferente, ela parecia uma bolha cheia de água, é assim que pessoas que morrem dessa forma ficam, cheias de água e parecendo grandes bolhas roxas, aquele homem não, era como se toda estrutura corporal existente, tivesse sido drenada dele, e tem mais, eu senti calafrios enquanto o olhava, me senti triste, sem vontade de viver, e por um segundo pareceu que toda maldade do mundo estava presente ali, naquele cadáver.

    — O que você quer dizer com tudo isso? — Pela primeira vez em anos senti pavor nas palavras ditas por meu irmão.

    — Eu não sei, mas tem alguma coisa muito séria acontecendo, essas mortes não estão sendo simples afogamentos, e, seja lá o que for, nós vamos descobrir.