Segredos do Oceano

OLÁ, QUERIDA MAMÃE

LORELEI

     Firmei as mãos no volante enquanto encarava com medo a direção na qual meus sentidos apontavam para ir. Kiara sentado ao meu lado olhava para mim buscando em meu rosto algum sinal ou resposta para suas inúmeras perguntas enquanto Victório logo atrás balançava as pernas sem parar em um claro sinal de nervosismo, a verdade é que eu estava tão perdida quanto eles, sem saber o que fazer ou até falar. Olhei para o mar que estava agitado com toda sua beleza e quase sorri de desespero quando me peguei com esse pensamento — a vida era totalmente injusta — apenas algumas semanas atrás eu repugnava a ideia de ter contato com a água, e naquele momento tudo que eu mais queria era poder entrar nela e me sentir uma nova pessoa. Mas quando um estrondo soou no céu me despertando e puxando daquele transe tomei aquilo como um aviso de que elas estavam me esperando e com ou sem coragem eu deveria agir.

   Abri o porta luvas e tirei de dentro um par de tampões de ouvidos que antes de sair de casa peguei por precaução em seguida entreguei a Victório que olhou para mim com uma grande interrogação no rosto, ainda sem palavras apenas devolvi um olhar que no máximo pedia para ele só aceitar sem falar muita coisa.

   — Por favor não tira pra nada, e me segue. — Falei com ele que apenas balançou a cabeça em sinal positivo. Em seguida encarei Kiara que me retribuiu com o mesmo olhar junto de um sorriso nervoso. Abri a porta do carro sendo seguida pelos meus dois amigos.

   O céu era uma mistura de nuvens escuras e raios solares. Mas os trovões que soavam ao fundo eram um claro sinal de que elas estariam ali na praia, brincando de mãe natureza com o tempo. Levei mais minutos do que deveria atravessando o longo caminho entre o estacionamento e a praia, meus pés ficavam presos na areia e o nervosismo que estava sentindo não ajudava em nada. Victório observava todos os nossos passos e em algumas vezes o peguei me encarando. Foi em um desses momentos que escutei quando dentro da minha cabeça uma vez conhecida chamou pelo meu nome.

   Lorelei, finalmente.

   Meus passos me traíram quando por um descuido acabei deixando que as Sereias conseguissem me ver chegando, mas eu não podia esperar que isso não acontecesse se nem um plano descente para poder encontrar Simon eu tinha.

   Mesmo estando longe consegui ver quando um grupo de mulheres, todas vestidas de branco pararam o que estavam fazendo para olharem em nossa direção, algumas sereias novas, outras com aparência mais velha, mas todas com a mesma característica:

   Seus rostos eram pura maldade.

   — O que tá acontecendo? — Kiara me tocou como se necessitando chamar minha atenção.

   Conta para ela, Lorelei.

   Era minha mãe quem falava comigo, todo aquele tempo havia sido ela. Reconheci a voz que tanto me perturbava quando ela olhou para mim sorrindo de forma maquiavélica.

   Antes que pudesse pelo menos parar e pensar no que responder, as Sereias abriram a roda que formavam e no centro delas estava Simon. A boca amordaçada por um pano branco, pés e mãos amarrados. Meu olhar chamou sua atenção e eu me senti a pior pessoa do mundo por ter deixado que aquilo tudo acontecesse com ele. Simon me encarava com os olhos cheios de medo, meu coração pulou do peito e a primeira lágrima caiu dos meus olhos. Naquele momento eu tive a certeza que se quisesse mantê-lo em minha vida eu iria precisar proteger ele a todo custo.

   — Vocês demoraram demais. — Morgana quem falou. — Pensei que teria eu mesma que ir te pegar, querida.

   Senti repulsa em como ela falou a última palavra, querendo demonstrar algum tipo de sentimento.