ONDE ESTÁ SIMON?

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LORELEI


   ... Andando na direção do mar consigo ouvi-las me chamando, mas não irei, eu não abri mão do grande amor da minha vida para me juntar a elas, eu só preciso salvar a vida dele, não suportaria que Simon fosse morto. Não o meu Simon.

   E enquanto caminhava sem rumo minha mente vagava por lugares desconhecidos até mesmo para mim, e no fim tudo se resumia a uma única coisa: Era tarde demais. As sereias haviam levado Simon e eu não podia fazer nada para protegê-lo. Fraca, sozinha e com medo, era assim que eu me sentia.

   A súbita sensação de falta de ar tomou conta dos meus sentidos fazendo em um pulo que eu acordasse mais uma vez assustada. Abri os olhos ainda deitada enquanto tentava a todo custo me acalmar, minha imaginação traçava uma linha tênue entre o racional e a insanidade, os batimentos cardíacos acelerados mostravam que meu corpo não estava reagindo bem nem mesmo depois de já ter acordado e percebido que era outro pesadelo. Para ser mais exata o terceiro em uma semana.

   Ainda muito sonolenta e com medo olhei para o lado quando o ponteiro pequeno do relógio marcou o mesmo horário dos outros dias me deixando surpresa e apavorada ao finalmente perceber que o aparelho que antes quebrado, funcionara perfeitamente durante todas essas noites. Mas esse era o menor dos meus problemas. Tudo em minha vida estava sendo estranho. Enquanto deitada fechei os olhos na esperança vazia de conseguir raciocinar, mas algo perturbava meus sentidos me deixando inquieta talvez fosse o pesadelo que havia sido diferente dos outros pois nesse havia mais intensidade e o estado de pânico que ele me deixara era mais forte se comparado com as outras vezes, como se fosse real.

   — Você gosta de café e panquecas ou prefere panquecas e suco? — Meus olhos subiram em direção à pessoa parada em frente ao fogão, tenho certeza de que se ele fosse mais atento a mim perceberia que meu olhar implorava para que não falasse mais nada, mas ele não me conhecia tão bem assim.

   — Eu não lembro, não lembro se você gosta ou odeia café.

   Meu pai continuou falando enquanto eu fazia de tudo para fingir não ouvir o que ele estava dizendo.

   Eu amo café, mas é claro que ele não saberia. Ele nunca sabe.

   — Não, eu não gosto. — Resolvi falar por fim.

   — Ela gosta, não é Lorelei? — Vovó mais afirmou a resposta pelo tom da sua voz do que perguntou. Ainda de cabeça baixa revirei os olhos.

   Normalmente eu teria ficado com medo de ter qualquer tipo de conversa com meu pai por mais fácil que ela fosse, as palavras sumiam e eu nunca sabia o que responder ou como agir e havia sido dessa maneira durante toda minha vida. Lorelei a menina que tinha vergonha de olhar nos olhos das outras pessoas, a reclusa e sempre intimidada. Mas eu não estava com medo naquele momento. Eu me sentia mais forte, mais segura e mais confiante desde a noite com Simon, e os sentimentos só aumentaram depois que ele declarou seu amor por mim na velha cabana da senhora enquanto estávamos os dois embaixo da chuva, foi como se uma carga de adrenalina tivesse me atingido em cheio fazendo a antiga eu morrer de vez. Era como se ele tivesse se tornado minha luz noturna que guiava o caminho no escuro, e mesmo de longe eu ainda me sentia protegida.

   Eu só precisava encontrar ele para confessar como também me sentia.

   Lorelei

   Olhei para os lados à procura de alguém que pudesse estar chamando por mim tirando minha vó e meu pai que estavam na cozinha eu não via ninguém mais. Um frio percorreu minha espinha enquanto algo gelado e frio pareceu tocar em minha cabeça. Naquele exato momento enquanto observava os dois parados na cozinha conversando, um pressentimento de que aconteceria algo ruim tomou conta de mim.

   Peguei meu celular do bolso no exato momento em que ele vibrou anunciando uma nova mensagem. Era Victório:

"Simon sumiu, ele está com você?

   Não. Ele não estava. Meu coração acelerou no mesmo instante fazendo com que mesmo sem perceber eu soltasse um suspiro de frustração e deixasse o celular que estava segurando em mãos cair sobre a mesa. Os outros dois que ainda estavam próximos a mim olharam com espanto no rosto, mas aquele não era o momento de me importar com eles. Simon não estava comigo, e era isso que me deixava mais apavorada.

   Peguei o celular que ainda estava sobre o velho móvel de madeira e marchei em direção à garagem, enquanto procurava o número de Simon, não demorou muito para ouvir a ligação chamando já que o contato dele estava na discagem rápida. Um, dois, três toques depois e eu já havia desistido de escutar sua voz no outro lado da linha. Liguei para Victório e as ligações caíram na caixa postal.

   Entrei no carro e antes de girar a chave na ignição uma vontade enorme de gritar e chorar me assolou, metade de mim pedia para que eu colocasse tudo para fora, a outra metade dizia que eu precisava ser forte e naquele momento eu tinha certeza que qualquer barulho iria me comprometer e se alguém descobrisse o que estava acontecendo não me deixariam sair de casa e se minha intuição estivesse certa ter que enfrentar minha mãe sozinha, e tudo que importava era Simon e saber se ele estava bem. Mas antes que pudesse tomar qualquer atitude que comprometesse tudo lembrei que minha tia Andréia poderia me ajudar.

   Olhei meu reflexo no retrovisor e tentei melhorar a aparência antes de entrar em casa, suspirei mais algumas vezes ainda com as mãos presas ao volante, os dedos quase roxos por tanta força que eu estava colocando. Desci do carro enquanto arrumava o cabelo e as roupas, entrei em casa quase na ponta do pé tomando cuidado para não demonstrar desespero enquanto ia em direção ao quarto que era de Andréia mas ela não estava, olhei as horas no relógio e constatei que ainda era muito cedo para ela não estar em casa, mas ficar procurando só iria me atrasar e quem sabe até prejudicar minha saída.

   Disparei em direção à porta de casa de enquanto mandava uma mensagem para Kiara na esperança de que ela logo recebesse.

" Preciso de você, por favor esteja pronta logo. L"

   — Lorelei, espera. — Era Victório. — O que está acontecendo?

   Senti vontade de contar ali naquela hora, mas a qualquer momento ele iria descobrir tudo, era só uma questão de tempo.

   —Só entra no carro. — Fiz minha pior cara onde medo, angústia, confusão e preocupação se misturavam em um misto de sentimentos. — Por favor.

   E com um leve aceno de cabeça Victório fez o que eu pedi. Felizmente Kiara já estava na porta quando me aproximei de sua casa. Antes de também entrar no carro ela sorriu como se soubesse o mesmo que eu, retribui seu gesto com toda calma que meu coração poderia fornecer naquele momento e assim sem mais nenhuma palavra partimos os três em direção ao pior dos dias de nossas vidas.

   Senti minha cabeça latejar poucos minutos antes de chegarmos à praia, a mesma dor que simboliza para mim que elas estão perto, mas de um modo muito mais forte e insuportável como nunca havia sentido antes. Eu sabia que elas estavam ali por que pude senti-las. Eu só precisava rezar para que Simon não estivesse com elas. 

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