UM MÊS DEPOIS

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LORELEI


   Acordei uma semana depois da luta contra as sereias no hospital com papai e vovó ao meu lado, aparentemente os médicos não conseguiam descobrir o porquê eu não conseguia acordar do coma, o que eles não imaginavam era que meu corpo não estava respondendo por estar desidratado. Mas quem imaginaria que para acordarem uma adolescente que supostamente não queria abrir os olhos era só jogar o corpo dela em água, o mais natural possível. E então quando finalmente pude a primeira coisa que fiz foi perguntar por meus amigos e por Simon mas os rostos tristes que eles fizeram me deram uma resposta mais triste do que aquela que meus ouvidos poderiam de alguma forma escutar. A melhor explicação que os policiais encontraram para justificar o que aconteceu naquele dia, foi a de que Simon entrou no mar para me salvar depois que viu que eu estava afogando e como não era um nadador tão bom assim jamais conseguiu voltar para superfície, seu corpo jamais foi recuperado. Nenhum procedimento de busca durou mais que dois dias e nem todas as reportagens foram necessárias para que alguém pudesse pelo menos ter sinal de qualquer coisa que possa ter acontecido a ele. Nada foi feito.

   A manchete escrita Jovem adolescente morre afogado durante tempestade estampou as capas de todos os jornais durante exatamente cinco dias, apenas cinco dias. Antes de ser substituída por qualquer assunto fútil que os jornalistas acharam necessário estampar e os adultos com vidas vazias e superficiais acreditavam inevitável comprar.

   Pobre garoto sem sorte era o que eles diziam.

   — Pronta? — Olhei para Kiara que estava encostada na porta do meu quarto com uma xícara de chá quente na mão. Minha irmã. Jamais esquecerei quando a vi depois do acidente e ela me examinou com piedade, como se estivesse com medo de qual seria minha reação. Kiara ao contrário de mim jamais soube que vinha de uma linhagem de mulheres assassinas e para ela o impacto de descobrir de uma forma tão indelicada foi o que mais a afetou.

   — Sim, estou pronta. — Peguei as malas em cima da cama e sai em direção ao carro que agora seria meu e me levaria rumo a minha nova vida. Era fim de verão, dia em que os irmãos Miller entrariam em seu veículo sendo guiados por Simon e voltariam para suas vidas, Kiara partiria logo depois e ligaria para mim no dia seguinte só para dizer que já estava marcando em seu calendário a data do próximo verão por que havia adorado as férias, aproveitaria para ressaltar mais uma vez como Simon estava lindo e a cada ano que passava sua aparência de menino da cidade grande só melhorava e o quanto tinha raiva de Victório por ele ser um babaca mas que sentiria falta de alguém para brigar e trocar farpas todos os dias. Eu riria dela enquanto ouvisse seus gritos no outro lado da linha e depois de muito tempo e de ficar com minha orelha cansada, iriamos nos despedir e prometer que nos falaríamos no dia seguinte e mesmo sabendo que essa ligação não iria acontecer pois com toda certeza ela se encantaria por qualquer novo garoto da escola e ficaria perdida com suas amizades de casa, eu esperaria o próximo verão com ansiedade por nosso reencontro.

   Mas daquela vez seria diferente, Simon não retornaria para casa, Victório não me daria um abraço de despedida e Kiara não ligaria para mim quando chegasse, pois, eu iria retornar com ela.

   — Promete que vai me ligar todos os dias? — Vovó perguntou enquanto uma lágrima ameaçou rolar dos meus olhos por saber que iria sentir falta dela assim que me afastasse de casa, e daquela cidade que por tantos anos foi o meu lar.

   — Prometo. — Sorri na esperança de passar algum tipo de conforto.

   — Vamos? — Olhei para Kiara que também estava com os olhos vermelhos de lágrimas e tentava disfarçar a emoção do momento.

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