LINDA DEMAIS PRA SER VERDADE

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     A primeira vez que eu ouvi uma Sereia foi há 6 anos. Eu estava na beira da praia quando a ouvi me chamando, ou melhor dizendo ela cantou meu nome. Seu canto mais parecia um choro desesperado do que uma canção bonita com notas reconfortantes que as lendas dizem por aí, não era bonito e nem muito menos calmo, era estridente e meus tímpanos pareciam querer explodir ao ouvir aquela voz. Me pergunto como os homens se sentem atraídos por aquilo. Mas ela me chamou e não consigo dizer por quê mas eu fui, em poucos minutos a água tocou minha perna e o frio me tirou do transe mas já era tarde demais, as ondas eram fortes. Os olhos dela brilhavam na imensidão do oceano. Quando consegui dizer que não eu já estava quase em seus braços.

    Acordei enquanto a luz entrava pela janela do quarto anunciando que já era dia, forcei os olhos a abrirem mesmo sentindo dificuldade. Simon dormia ao meu lado ainda com o peito nu. Comecei a sorrir enquanto lembrava dos acontecimentos da noite passada e rapidamente pensei em Vitório que estava em casa, tudo que eu menos queria era que ele descobrisse que Simon e eu havíamos passado a noite juntos.

    Como se para confirmar que meu maior medo estava se realizando um barulho de panela caindo surgiu da parte de baixo da casa avisando que infelizmente era tarde demais, e ao menos que eu tivesse uma desculpa muito boa seria difícil explicar o porquê de ter passado novamente a noite no quarto de seu irmão.

    — Bom dia. — Simon virou-se para mim e sorriu.

    — Bom dia. — Sentei na cama me sentindo constrangida.

    — Acho que não estamos sozinhos. — Falou referindo-se ao barulho que Victório estava fazendo. — Vem, vamos tomar café.

    Descemos as escadas, e quando entrei na cozinha dei de cara com Victório sentado na bancada enquanto se alimentava.

    — Tem café e eu fiz panquecas. — Falou.

    — Obrigada.

    Simon entrou logo em seguida e sentou-se ao lado irmão, enquanto eu me ajustei na cadeira á frente dos dois.

    — Eu aproveitei que estava sem sono a noite e fiz algumas pesquisas sobre as sereias. — Olhei para Victório ainda incrédula por ele tocar nesse assunto em um momento que eu nem queria me lembrar da minha querida mamãe.

    — E o que você conseguiu descobrir? — Simon perguntou.

    — Que esse lugar tem mais segredos do que se pode imaginar.

    — Como assim? — Foi minha vez de perguntar.

    Victório levantou enquanto ainda me olhava e subiu as escadas correndo, olhei para Simon em busca de respostas mas a cara confusa dele mostrava que ele sabia tanto quanto eu, nada.

    — E então, o que somos agora? — Simon olhava para mim aguardando uma resposta. O que somos? Amigos, amigos coloridos, super mais que amigos? Ou a definição que mais me assustava — namorados — eu odiava ter que ignorá-lo, mas nem eu mesma sabia definir como estava nossa amizade. Victório desceu as escadas novamente e eu agradeci por não ter que responder nada.

     — Encontrei algumas notícias antigas, datadas em anos diferentes, mas todas com o mesmo tipo de informação, homens, morte, verão e mar. 1983, Robert Cristian foi encontrado na praia depois de uma forte tempestade. — Ele falou enquanto mostrava as imagens na tela do computador. — 1989, Jonh Deniro saiu para pescar e teve o azar de ser atingido pelas fortes ondas, em 1994 algum peixe muito grande arrastou Pedro Célasar para o fundo do mar e ele não resistiu. Todos eles homens entre 19 e 40 anos.

    Todas as notícias que Victório mostrava tinham ligação entre si, mesmo sendo anos diferentes a forma como esses homens morreram não tinha como negar, eram elas. As mortes mesmo sendo em anos diferentes mostravam um padrão, pelo menos eu sabia que não havia um motivo específico para elas terem voltado.

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