Segredos do Oceano

VOCÊ NEM IMAGINA Parte 1

LORELEI

    Simon e Victório estão há dois dias nessa viagem, e mal estamos conseguindo nos comunicar, a última notícia que tive, eles estavam em Boston realizando uma reunião de última hora com um dos professores de Simon.

    Meu pai anda me evitando a todo custo e para falar a verdade é melhor assim, ainda me sinto traída por passar tanto tempo acreditando que o problema estava em mim quando na verdade ele sofria por dentro todas as vezes lembrando da Morgana. Em uma de nossas conversas Andréia me relatou que pouco tempo depois que eles começaram a sair juntos ela se abriu com ele, era necessário que meu pai conhecesse toda a verdade sobre o que elas eram e o por quê dele ser tão apaixonado pela minha minha mãe.

     Ainda existem muitas coisas sobre esse mundo que preciso descobrir mas por enquanto tudo isso tem se tornado um peso muito grande para mim e tenho evitado tocar nesse assunto, por outro lado o medo de que Morgana entre novamente em meus sonhos vem se tornando crescente e durante as últimas noites acordei tendo pesadelos de que ela invade minha casa e me arrasta até o mar mesmo sem minha vontade, felizmente consigo diferenciar esses dos que ela me causava, não sei por qual motivo desde a noite em que quase me afogou ela não tentou contato, mas por segurança vovó mandou instalar um sistema de fechadura automática no qual eu não sei a senha para impedir que eu saia sonâmbula, Kiara tem dormido comigo em casa, ela ainda não sabe sobre a história e eu vou esperar o momento certo para contar, nós somos amigas desde crianças e não há nada sobre minha vida que ela não saiba, exceto sobre Simon. Sobre o relacionamento de Mark e Morgana, ela ainda não teve a coragem necessária para interrogar o pai.

Estamos voltando para casa do lago, ligo assim que chegar. -S.

    — Pelo sorriso estampado no rosto, deve ser algum certo vizinho. — Andréia entrou na cozinha bem no momento em que eu estava terminando de ler a mensagem de Simon, senti tanta saudade nesses dias em que estamos distantes que quando ele avisou que estava voltando nem percebi o quanto estava sorrindo de orelha a orelha.

     — Simon está voltando de viagem.

    — E onde ele estava? 

    — Eu não sei ao certo o que aconteceu, mas ele teve que viajar correndo até Boston, não teve tempo para despedidas.

    — Lorelei, você precisa manter segredo sobre a sua mãe e toda essa história, pelo menos por enquanto, eu sei o quanto você dele mas seria um risco tanto para ele quanto para você.

    — Claro, não que eu queira contar aos meus amigos que minha mãe que até pouco tempo atrás estava morta, é uma assassina dos mares perseguidora de homens.

    — Eu não acredito que você falou isso. — Ela começa a rir.

    — Nem eu.

   Pego o telefone na mesinha de centro ansiosa por substituir toda essa conversa sobre mães pela voz de Simon, mas mal disco o código de Boston e uma batida alta soa na cozinha me fazendo quase saltar de susto no lugar em que estava.

    — Quem será a essa hora Lorelei, você está esperando alguém?

    Abro a porta e a visita surpresa na minha varanda veste moletom e jeans.

    — Simon? — Me viro para que ele não consiga ver o sinal rosa que vai do pescoço até minhas bochechas.

    — Ei, desculpe, sei que é tarde... Tudo bem?

    — Sim, obrigada — abro mais a porta e dou entrada — Quer entrar?

    — Na verdade... — ele olha para o lado em direção a sua casa — Eu vim aqui para ver se você gostaria de sair.

    — Para onde? 

     Ele aperta o maxilar.

    — Aconteceu uma coisa e a gente precisa conversar. 

    Meu coração faz força contra o peito. Eu havia planejado ir até a casa de Kiara ver se poderíamos tirar a noite para fazermos coisas de meninas — a verdade é que eu preciso de qualquer assunto, por mais ridículo que seja, para esquecer as coisas ruins que andam me acontecendo.

    — Me dê só alguns minutinhos.

    Ele entra enquanto corro para o banheiro para tomar um banho rápido, eu não sei qual tema é tão importante para Simon, mas me sinto feliz por saber que qualquer que seja, ele quer me incluir.

    Linda, Lorelei. 

    Termino de me vestir quando escuto uma voz. Olho para meu reflexo no espelho e uma luz brilha ao fundo, a casa do lago tem cerca de 50 anos, e desde que foi comprada nunca sofreu alterações de nenhum tipo, os armários são de um marrom escuro, enquanto os azulejos das paredes e o chão são verde musgo. Qualquer coisa como puxadores, torneiras ou luminárias que em outros lugares seriam reluzentes, aqui são bronze fosco. — Você está alucinando, mais um pouco e posso começar a atestar insanidade. — Outra luz brilha acima de mim enquanto um arrepio percorre meu corpo. — Já estou indo Simon. —Grito na esperança de afastar o medo, ou qualquer coisa que esteja próximo a mim. Sai correndo do banheiro sem me importar de estar derrubando todos os objetos que estavam em meu caminho.

    — Você está bem? — Simon pergunta assim que entro derrapando no tapete da cozinha.

    — Estou ótima, só ansiosa com nosso passeio. — pego minha bolsa em cima do balcão e caminho em direção a porta, Simon vem logo atrás de mim e antes de descer as escadas certifica-se de fechar a porta. Ele aperta o passo quando nos aproximamos do mustang preto e abre a porta para mim. — E então, para onde vamos?

    — Pela marina. — Quando ele fechou a porta e deu a volta por trás do carro, me senti como se estivesse ali pela primeira vez, Simon ganhou esse carro quando tirou a carteira e por dois verões seguidos agiu como se fosse o motorista do nosso grupinho, estar aqui, só nós dois, me parece estranho, é como se o grupo tivesse acabado.

    — Você está com fome? — Estou prestes a dizer que não, quando vejo dois copos plásticos no porta-copos entre nós. — Cappuccino com canela, lembrei que são seus preferidos. — fico muito emocionada por saber que Simon lembra desse detalhe, nunca tomamos café juntos, isso significa que alguma vez eu possa ter comentado... e ele lembrou. 

    — E acertou, obrigada, então, o que estamos indo fazer na marina? 

    — Vitório e eu fizemos uma descoberta.

    — Que tipo de descoberta?

    — No dia em que nós fomos procurar alguma pista na praia sobre seu afogamento eu recebi uma ligação de um professor, ele queria falar sobre um acontecimento de anos atrás e que agora está se repetindo.

    — Que acontecimento? 

    Simon aperta o maxilar e começo a ficar preocupada sobre o que ele tem a dizer.

    — Victório está nos esperando, acho melhor deixar para contar quando estivermos todos juntos.