Segredos do Oceano

SENTIMENTOS

    Os dias que passaram foram rápidos e calmos demais. A ponto de estranhar tudo que estava acontecendo.

    Simon e eu passávamos o dia e a noite juntos como se fôssemos um só e eu me sentia bem ao seu lado, como nunca havia me sentido antes. Foi em uma dessas noites que enquanto olhava para ele dormindo percebi que seja lá o estivéssemos fazendo, eu queria repetir muitas outras vezes. Mas pensando no bem estar do grupo, decidi que o melhor seria esconder dos nossos amigos, pelo menos até toda minha situação se resolver. Victório e Kiara estranhavam nosso comportamento mas nenhum dos dois comentava nada.

    Morgana sumiu, e eu realmente comecei a acreditar que ela havia desistido do que estava planejando. Minhas noites de sono começaram a me dar o pouco de descanso que precisava e minha família desistiu de tentar a todo custo me proteger, o que foi ótimo para mim. Já que estava me sentindo pressionada demais. Mas mesmo com toda tranquilidade, meu peito sempre doía em pressentimento de que algo ruim iria acontecer.

    Um dia enquanto estava no banho jurei que senti quando meu corpo foi jogado na água fria e salgada do mar, o que mais me espantou foi o sentimento que brotou em mim, eu não sentia medo ou repulsa da água. Ao contrário, eu me senti estranhamente... Bem.

    — Tá pensando em quê? —Olhei para Simon á minha frente. Eu estava em pé na porta da cozinha e examinava o lugar. A mesa estava repleta de itens que serviam para café da manhã, pães abertos, massa de panqueca e bacon. Não vi a hora que ele levantou da cama, mas pela bagunça deduzi que há muito tempo. 

    — Que eu preciso ir pra casa.

    — Dorme comigo hoje?

    — Não. — Fez beicinho e cara triste. — Você sabe que se eu pudesse não sairia do seu lado.

    — Mas...

    Caminhei até seu lado na tentativa de diminuir o tom de voz, não estávamos sozinhos em casa.

    — Mas minha família vai começar a sentir minha falta, e eles já estão me olhando torto ninguém acredita mais que eu ando dormindo no seu quarto de visitas.

    Simon segurou minhas mãos puxando-me para mais perto dele, meu estômago revirou com apenas seu toque e naquele momento meu coração disparou contra o peito quando me pôs sentada em seu colo e me beijou.

   — Amo você. — Ele disse assim que separamos nossas bocas. Suspirei com os olhos ardendo em um misto de sensações dentro de mim. 

    Queria dizer que também o amava mas ainda não me sentia preparada.

    Victório entrou na cozinha logo em seguida, o rosto amassado significava que ele havia acabado de acordar, felizmente é lerdo demais e não percebeu quando pulei do colo de Simon para cadeira ao lado, essa seria uma situação bem embaraçosa de explicar.

    — Ovos no fogão. — Simon disse sem tirar os olhos de mim. — Suco na geladeira.

    Sorri tirando um copo com leite da mão de Simon e pegando um dos vários livros de Victório que estava jogado em cima da mesa, o estranho título Mulheres que matam foi o que mais me chamou atenção.

    — Encontrei esse daí na sessão de perdidos da biblioteca da cidade.

    — E ele fala sobre o que?

    — Sobre Sereias. — Senti meu estômago se revirando dentro de mim. — Cada vez mais me sinto convencido de que essas mulheres existem e estão mais perto do que imaginamos.

    — Preciso ir pra casa. — Foi a única coisa que consegui dizer.

    Por puro reflexo inclinei meu corpo enquanto ia na direção da boca de Simon, ele por sua vez desviou de mim me deixando congelada. Entendi que ele havia feito aquilo para não deixar o irmão constrangido. Mas mesmo que minha cabeça estivesse certa, meu coração gritava outra coisa.

    Subi pro quarto para pegar meus objetos pessoais e fui surpreendida por Simon que estava logo atrás, ele colocou os braços em volta de mim e apoiou o queixo no topo da minha cabeça. Quando falou sua voz era suave.

    — Talvez a gente não deva deixar isso acontecer de novo. Pelo menos não agora. 

    Recuei de seus braços.

    — Não que eu não queira, mas existem muitas pessoas envolvidas nessa história.

    E com pessoas eu entendia muito bem a quem ele se referia.

    Tentei argumentar, mas eu não podia eu sabia que ele tinha razão não era certo magoar nossos amigos escondendo um segredo que dizia tanto sobre nós. Ele estava certo. Não era justo.

    — Tenho que ir. — Eu finalmente disse. — Volto amanhã.

    Simon abriu a boca para falar alguma coisa, mas não deu tempo. Eu já estava distante. Talvez não fosse a hora certa, mas isso não significava que o que tínhamos vivido era errado, que foi um erro. Eu não deveria me sentir culpada por pela primeira vez pensar em mim antes de qualquer um.

    Atravessei o quintal da minha casa correndo mas não parando para prestar atenção no movimento próximo ao lago. Entrei no deque de casa, tão dispersa em meus pensamento que não reparei quando a porta de casa se abriu revelando uma pequena reunião que me esperava.

    Parei na porta.

    — Como foi a noite, soube que você e Simon estão mais próximos. — Meu pai foi o primeiro a falar.

    Ele estava sentado à mesa da cozinha com a xícara de café fumegante em uma das mãos e o celular na outra. Olhou para tela do aparelho enquanto falava e fingiu ler alguma coisa sem desviar a atenção para mim. 

— Não é o que você está pensando. — Era sim. — Nós estávamos assistindo a um filme e eu acabei pegando no sono, dormi no sofá. 

    — E nas outras noites? 

    — No quarto de hóspedes.

    — Perdão Lorelei. Eu não dormi a noite inteira e acabei não entendendo direito o que você quis dizer. — Suspirou fundo. — Você está me dizendo que há semanas vêm dormindo na casa de Simon enquanto nós ficamos aqui preocupados, porquê pega no sono durante algum filme, e que você está dormindo no quarto de hóspedes sem acordar de madrugada sem nenhum pesadelo mesmo estando dormindo sozinha?

    — Isso mesmo que eu quis dizer. — Vovó sorriu de lado e eu sabia o que aquele ato significava.

    Sem mais esperar algum outro tipo de sermão ou seja lá o que ele estivesse querendo me dizer, aproveitei a brecha enquanto ele tomava outro gole do seu café e sai arrastando minha mochila até o banheiro na expectativa de que eles não sentissem a necessidade de prolongarem aquela conversa. 

    Meu peito ainda doía toda vez que me lembrava de Simon e de nossa última conversa, eu não sabia como seria a reação dele quando nos encontrássemos novamente. Seja ela qual fosse, não estava preparada para o término do nosso quase relacionamento

    Naquela noite sonhei que Simon estava sendo levado por Elas.