Post Mortem Vol. 1 - O Livro dos Mortos

Capitulo XIII - Mulher dos Gatos

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Londres, 13 de Abril de 2001.

Ela tossiu. O sangue escorreu pelo canto de sua boca. Seus olhos lacrimejavam. Sua cabeça pesava. Não tinha forças se quer para alcançar o lenço ao lado do seu leito. Ela tinha apenas a certeza de que não lhe restava muito tempo. Ela ia morrer. Levantou os olhos caídos para olhar o rosto preocupado de sua mãe, como se gravasse em sua memoria cada traço daquele rosto cansado de passar noites debruçada ao lado dela, na esperança de que sua filha melhorasse.

Os médicos não conseguiam identificar qual era o problema da garota e depois de baterias e mais baterias de exames que não apresentavam nenhum resultado concreto, eles disseram que não havia mais nada a ser feito. Pauline Waterhouse não aceitaria assistir sua filha definhar até morrer. Ela tinha que fazer algo. Ela tinha que procurar alguém. Aldrick Grandier.

A família Waterhouse estava ligada a caça as bruxas, mas nunca houve nenhuma confirmação de que alguém da linhagem fosse de fato uma bruxa. Pauline ouvira falar sobre Aldrick dias atrás. Diziam que ele era um dos bruxos mais poderosos de Paris. Ela não precisava de poderes sobrenaturais para saber que por trás dessa fachada de "O Poderoso Grandier" ele era apenas um homem descendente de Urbain Grandier, o homem que vendeu sua alma ao demônio em troca de poder e o amor das virgens, e Chistine D'Barthe. Aldrick poderia não ostentar a fama que as pessoas lhe atribuíam, mas de fato, ele tinha poder, e era exatamente esse poder que Pauline esperava ser capaz de curar sua filha.

- A que devo-lhe a honra, Sra. Waterhouse? - perguntou o homem parado na entrada da casa após Pauline bater incessantemente na porta. A pele do homem era pálida, podia-se ver as veias em seu rosto. A cor da boca era levemente arroxeada. Vestia um sobretudo aberto, exibindo o peito e a barriga nus. Seu corpo chegava ser esquelético de tão magro. Aldrick tinha cerca de vinte e cinco anos. Apesar da pouca idade, ele demonstrava saber muito bem o que deveria ser feito para ajudar a filha de Pauline. - Está meio tarde para uma visita, não acha? - Espreguiçou-se.

- Por favor. - suplicou Pauline. - Eu preciso da sua ajuda, Aldrick.

- Muitas pessoas precisam da minha ajuda. - disse secamente. - E caso não viu o cartaz estampado na entrada, eu só atendo em horário comercial.

- Eu não vim pelas cartas de tarô ou para ter a pessoa amada de volta em três dias, Aldrick. - sua voz era tremula. Um misto de raiva, impaciência e desespero dominava seu corpo. Cerrou os punhos enquanto seus olhos mantinham-se fixos nos do homem a sua frente. Ele tinha um olho azul e outro verde, ambos rodeados por uma maquiagem escura e levemente borrada. - Minha filha está morrendo!

Pauline levou Aldrick até seu carro, para que ele apanhasse a criança e a levasse para dentro da casa. Colocou-a em uma das camas do quarto de hospedes. Ela analisou a garota da cabeça aos pés. Os cabelos negros esparramavam-se sobre o travesseiro. Aldrick encostou a mão no pescoço da filha de Pauline e percebeu o quanto ela estava fria. Se ele fosse ajuda-la, teria que fazer algo logo. Aquela pobre alma não resistiria por muito tempo.

- Bem. - ele encarou Pauline com firmeza. - Tenho algo que pode salva-la, mas... - antes que a mãe da criança abrisse a boca para implorar-lhe para fazer tudo que tivesse a seu alcance, ele a advertiu. - Saiba que terá consequências para ela, e um pagamento, que eu diria, um tanto caro para ambas.

- Apenas salve minha menina. - Os olhos de Pauline encheram-se de lagrimas. Ela estaria disposta a pagar o preço que fosse necessário, mesmo que fosse por toda sua vida, para salvar sua filha.