Capitulo XXIII - Fantasias

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A fachada do Urbain Grandier estava decorada com aboboras tipicas de Halloween aos pés da escada. Uma cortina de teias de aranha artificiais cobria a porta de entrada. Ao seu lado estava a mesma mulher que recepcionara Julian e Eros na primeira vez em que eles estiveram lá.

- Bienvenue au bal annuel d'Halloween d'Urbain Grandier. - A mulher vestia um suéter com listras vermelhas e esverdeadas e um chapéu preto. A roupa cobria até metade de suas coxas. Poucos centímetros abaixo dos seios, haviam cinco marcas de rasgos. Provavelmente feitos pela luva com garras de aço que ela usava em uma das mãos. Ela posicionou o dedo indicador da mão com a luva sobre o pulso do outro braço e rasgou a pele num corte vertical de aproximadamente dez centímetros de comprimento. - Ce n'est pas un rêve. Ce est la réalité. - A mulher sorriu enquanto o sangue escorria pelo seu braço. Emily entendia poucas coisas do francês. O máximo que ela sabia, foi lhe ensinado pela amiga Marie, mas era suficiente para entender o que a mulher dizia. "Isto não é um sonho. Isto é realidade." Emily sentiu um calafrio percorrer sua nuca. Ela aguardava Eros estacionar o carro para entrarem juntos.

- Bela fantasia de Freddy Krueger. - comentou Eros. Os olhos da mulher ganhava tons alaranjados. Emily puxou o braço de Eros e entraram no Urbain Grandier. - Qual o seu problema?

- Pensei que seu "amigo" Julian tivesse comentado sobre ela. - Eros sentiu uma ponta de nostalgia. A ultima vez que pusera os pés naquele lugar, fora com Julian, e agora eles não se falavam mais. - Alicia Mochizuki é uma meio-kitsune. - Eros parou de caminhar no corredor que levava ao centro do salão. Emily lembrara-se que o mundo sobrenatural ainda era algo muito recente para ele. - Kitsunes são espíritos raposa. Eles tem a capacidade de manipular as coisas que as pessoas ouvem, vêem, pensam ou falam. O pai de Alicia é um Kitsune que veio do Japão e sua mãe é uma humana francesa. - Emily olhava para os lados como se estivesse sendo observada por alguém. - Ela herdou apenas algumas das habilidades, mas isso não a torna menos perigosa.

- Senhorita Waterhouse. - disse uma voz atrás de Eros que estava parado de frente para Emily. - Senhor Gauthier.

- Aldrick. - Emily praticamente cuspira o nome. Aldrick Grandier era o proprietário do Urbain Grandier e responsável pela morte da mãe de Emily e por sua recém-descoberta "imortalidade".

- Fico feliz que tenham aceito meu humilde convite. - Aldrick passou uma das mãos no cabelo preto reluzente. - Aproveitem a noite. - Exibiu um sorriso largo antes de virar as costas para os convidados. - Ela promete muitas surpresas. - Aldrick caminhava como um felino entre os convidados.

No salão do Urbain Grandier, mascaras e fantasias diversas misturavam-se na multidão. Era difícil para Eros acreditar que todos os presentes ali eram criaturas sobrenaturais e ele um mero mortal em meio a eles. O rapaz de cabelo loiro estava fantasiado de Fantasma da Opera. A mascara branca unilateral lhe incomodava tanto quanto a capa em suas costas. Talvez, não fosse a sua fantasia que estivesse realmente o incomodando, mas o fato de todos estarem fantasiados e ele não saber quais eram as intenções daqueles rostos por trás das mascaras.

- Um por todos e todos por um? - indagou Eros referindo-se a fantasia de Emily como tentativa de disfarçar seu incomodo. Ela revirou os olhos como forma de ignorar o comentário de Eros.

- Digamos que eu evolui. - argumentou ela. - De "Mulher dos Gatos"... - deu um sorriso malicioso com o canto da boca. - para "Gata de Botas". - Eros esforçou-se para não gargalhar. Ele podia jurar que Emily estaria fantasiada de uma versão feminina de um dos Três Mosqueteiros. Ela usava uma bota preta até a altura do joelho com uma meia-arrastão levemente rasgada. Abaixo da camiseta branca extremamente colada em seu corpo, ela vestia uma saia curta, tão justa que Eros perguntava-se como ela conseguia andar. Em sua cintura, um cinto servia de suporte para sua espada de plastico. Na cabeça, o chapéu preto com uma pena amarela dava o toque final a fantasia.

- Se você diz, tudo bem. - disse Eros. - Quem sou eu para questiona-la. - Eros levantou o pescoço para observar a multidão. Ele esperava encontrar um rosto familiar. Um rosto de anjo. - Emily? - A "Gata de Botas" voltou sua atenção para o rapaz. Ela procurava por Aldrick em meio as pessoas. Ela sentia que deveria manter seus olhos no feiticeiro na tentativa de prever qual seria seu plano para a noite. - Ela não vem? - "Ela". Marie. Era tão obvio, que o nome da garota de cabelos dourados parecia sair da boca de Eros com todas as letras sem que ele precisasse pronuncia-lo.

- Não consigo te ouvir! - gritou Emily entre as batidas da musica eletrônica que começava a tocar. Varias pessoas começavam a dançar entre eles, afastando um do outro cada vez mais até se perderem em meio a multidão. Emily havia desaparecido. "Ótimo" pensou Eros. Virou-se para trás e caminhou em direção ao bar.

Eros sentiu alguém esbarrar em seu braço. Passou os olhos por cima dos ombros e viu os cachos dourados caídos sobre os ombros nus da garota. Puxou-a pelo braço. Seu pulso estava acelerado. Seus olhos pareciam acender. Ele esperava por esse momento desde que acordara após os acontecimentos da noite em que Paul havia se transformado em lobisomem em sua casa. O corpo da garota aproximava-se do seu peito como um imã. Ele segurou-a pela cintura. Ela usava um vestido branco cortado de forma irregular. Em suas costas um par de asas com penas macias. Um anjo. Era desse jeito que Eros a via. Ela olhou no fundo dos seus olhos. O som da musica tornara-se abafado. O coração de Eros pulsavam cada vez mais rápido. Os rostos seguiam em direção um ao outro. Os lábios se tocaram. Os lábios de Marie eram frios como o gelo. Eros sentiu um frio percorrer todo o seu corpo. Não era um frio qualquer. Era um frio de medo. Aquela garota que ele segurava em seus braços poderia parecer com a "cachinhos dourados", como Julian costumava referir-se a ela, mas Eros sabia. Aquela não era a Marie.


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