Post Mortem Vol. 1 - O Livro dos Mortos

Capitulo XXVI - O Feitiço

 Londres, 1 de Novembro de 2010

Numa sala escura com pouca ventilação, estavam dispostas quatro cadeiras de madeira, uma ao lado da outra. Na cadeira da ponta esquerda da fileira estava Emily ainda desacordada e amarrada assim como os demais. Ao seu lado estava Julian encarando Aldrick com olhos atentos a qualquer movimento do feiticeiro. Na ponta da direita estava Eros. Fazia poucos minutos que ele havia recuperado a consciência. Não lembrava-se do rosto de quem lhe chutara, apenas da dor que sentia em seu rosto.

Um dos seguranças do Urbain Grandier acompanhava Marie com as mãos amarradas nas costas. Ela sentou-se na cadeira vazia entre Julian e Eros. O rapaz de cabelos loiros perguntava-se o porquê de Marie não usar a magia para fugir daquele lugar.

- Minha irmã não irá causar problemas. - disse uma garota emergindo das sombras e juntando-se a Aldrick. Os cabelos dourados caídos sobre os seios em cachos. Era impressionante a semelhança entre as duas. Jolie. Eros lembrou-se do nome dela. Marie lhe contara sobre ela após a irmã ter se passado por ela no dia do jantar no Magdalen e atacado Eros na porta de casa. - Ela ficará sem magia por um tempo. - Jolie tirou uma das mãos de trás das costas segurando uma seringa com um liquido esverdeado. Ela havia usado aquela substancia para bloquear a magia de Marie, isso respondia a pergunta de Eros.

- Vocês foram especialmente convidados para o meu humilde baile de Halloween porque cada um de vocês tem um papel importante no desenvolvimento dos nossos planos. - disse Aldrick caminhando de uma ponta a outra da fileira de cadeiras. Julian pensara em esticar o pé para faze-lo tropeçar, mas ele estava em desvantagem. A corda em seu pulso estava amarrada com vários "nós-cegos". Seria impossível desamarra-la ou até mesmo arrebenta-la, uma vez que esta era bem resistente. Portanto, se ele conseguisse derrubar Aldrick, não seria capaz de lutar para escapar do Urbain Grandier.

- Nós não iremos te ajudar, Aldrick. - Emily, agora consciente, encarava o feiticeiro. Seus olhos pareciam arder em chamas. Toda a raiva que ela sentia por Aldrick pelo fato dele ter matado a sua mãe, mentido para ela e transformado-a em Imortal, concentrava-se em seus olhos naquele momento.

- Todos nós sabemos que você rejeita o dom cobiçado por tantos. - Aldrick parou diante de Emily. - A Imortalidade. - Sorriu. - Portanto, com a minha grandiosa generosidade, eu proponho um acordo. - Julian desviara os olhos para o feiticeiro. Ele sentia que qualquer acordo vindo de Aldrick, resultaria em algum sacrifício que enalteceria seu próprio ego. - Eu não me tornei "O Poderoso Grandier" à toa. Eu dediquei anos da minha existência à busca do feitiço ideal de Imortalidade que meus... - olhou para Jolie. - nossos antepassados sempre buscaram. - Eros lembrou-se que o feiticeiro era descendente de Urbain Grandier e Christine D' Barthe. Aldrick desviou o olhar para Marie. - Christine usou sua amiga Waterhouse como cobaia em seus experimentos quando deu-lhe o "Bichano Imortal". - Agora, os olhos do feiticeiro pousaram em Julian. - É uma pena que ela tenha tido tempo de aperfeiçoar sua criação. Os caçadores – disse praticamente cuspindo a palavras. - mataram ela antes que pudesse concluir o feitiço de Imortalidade.

- Aonde você quer chegar com isso? - perguntou Emily impaciente.

- Existe uma parte da história que você e sua mãe, que ela descanse em paz, não conhecem. A Imortalidade das Waterhouse era passada de geração em geração porque existe um sentimento comum dentro de uma família. - Aldrick aguardou alguns segundos como se esperasse ouvir alguma resposta. - Amor. É preciso amor suficiente para se abrir mão da própria vida para trazer alguém de volta a vida. - O feiticeiro deu as costas a Emily. - Você é a sétima e ultima Waterhouse, Emily. - Aldrick caminhou, parou ao lado de Jolie e virou-se para olhar para a mulher dos gatos novamente. - Eu sei que você fez a estupida escolha de se apaixonar por um miserável caçador. - Emily pensou em rebater as palavras de Aldrick. Ela não escolhera se apaixonar por Julian. Mesmo que ela pudesse escolher, ela teria o escolhido ainda assim, nem que para isso ela tivesse que morrer novamente pelas mãos do caçador. - Sei que os últimos acontecimentos, vulgo a sua morte pelas mãos dele... - Aldrick exibiu um sorriso de prazer no rosto. - abalaram o relacionamento de vocês, assim como os sentimentos dele por você. - A expressão no rosto de Aldrick tornara-se rígida e determinada. - Eu proponho uma prova de amor sua para que ele acredite que você realmente o ama.

- Isso é ridículo. - disse Julian. - O que você vai ganhar com isso?

- Se ela realmente o ama, ela lhe dará todas as vidas dela.

- Você é um psicopata! - gritou Emily remexendo-se na cadeira.

- Tudo bem, já sei. - arfou Aldrick. - Vocês querem a participação de seus amigos. Eu entendo. - o feiticeiro desviou o olhar para Marie e Eros. - Vamos fazer da seguinte maneira. - Aldrick retirou um punhal de dentro do bolso de seu sobretudo preto. - Você! - apontou o objeto para Eros. - Eu sei que você guarda rancor pelo comportamento do seu amigo. Por que não o mata? - Antes que Eros pudesse abrir a boca, Aldrick prosseguiu. - Não era para soar como uma pergunta. Julian Fynne é morto seis vezes por seu melhor amigo, Eros Gauthier. - disse Aldrick com escarnio. - Ah, e antes que você diga que não irá fazer, devo lembrar-lhe que seria um desperdício cortar esse lindo rostinho angelical. - os olhos de Aldrick pairavam sobre Marie.

- Lich. - disse Marie entre os dentes. Todos voltaram a atenção para a garota de cabelos dourados. Marie pensara que ninguém teria escutado, mas os pares de olhos voltados para ela diziam o contrario. Ela sabia qual era o plano de Aldrick. - Você quer se tornar um Lich. - a palavra soava estranha para todos ali. - Um feiticeiro morto que adquire Imortalidade por meio do sacrifício de outro Imortal.

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