Post Mortem Vol. 1 - O Livro dos Mortos

Epílogo

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Faziam poucas horas desde que o sol havia apontado os primeiros raios no céu por trás das nuvens cinzentas. Emily caminhava abraçada a Julian. "Nós conseguimos", pensou ela enquanto seus olhos vagavam no horizonte. Julian beijou-lhe o topo da cabeça. Seu corpo ainda doía nos lugares onde levara os golpes de Eros durante o ritual de Aldrick. Ambos estavam exaustos e ansiosos para reverem seus amigos.

Ao pararem no meio da rua, de frente para a calçada da antiga casa dos Smiths, o som da vassoura varrendo o asfalto e uma voz rouca fizeram os dois virarem-se para trás. Era a Madame Albretchs. Emily esquecera-se do habito de Zafira Albretchs de varrer a calçada de sua loja cigana antes do sol nascer. Era praticamente um ritual para ela.

- O sol resolveu nascer mais cedo hoje. - disse a senhora apoiando-se no cabo da vassoura. - Talvez seja pelo o que meus olhos se negam a acreditar. - Zafira sorriu e chacoalhou um dos braços para arrumar as pulseiras de ouro. Julian e Emily trocaram olhares e voltaram sua atenção para a Madame Albretchs, esperando que ela dissesse algo a mais. - Eu olho para vocês e vejo apenas luz.

- Luz? - indagou Julian olhando ao redor com seu tipo ar zombeteiro. - Não vejo nada, minha senhora.

- No dia em que vocês se conheceram... - Zafira abaixou a cabeça e deu uma leve gargalhada nostálgica. - No exato momento em que vocês cruzaram os olhos como acabaram de fazer, tudo o que eu via ao redor de vocês era escuridão e ódio. - Emily ouvia as palavras da cigana com atenção, envolvida embaixo dos braços de Julian. - Havia tanto ódio, mas ao mesmo tempo havia atração. Eu não conseguia entender, mas agora, vendo vocês, eu compreendo completamente.

- Vamos lá, o que a senhora compreende completamente? - perguntou Julian tentando imitar o tom de voz de Zafira. Emily deu-lhe uma cotovelada no peito, onde ela sabia que ele ainda sentia dor.

- Vocês carregaram algo que não era de vocês, por muito tempo. - Os olhos caídos de Madame Albretchs olhavam para Emily, em seguida para Julian. - Tempo suficiente para exigir um sacrifício. A luz ao redor de vocês, me diz que vocês venceram esse fardo, essa maldição. - Emily olhou nos olhos de Julian. Se o caçador pudesse traduzir aquele olhar em palavras, Emily estaria repetindo o que lhe disse no Urbain Grandier quando ela o procurara. "Não existe maldição, Julian... Nós podemos mudar isso". Agora, ele podia concordar com ela, sem medo de se arrepender. Eles conseguiram mudar isso. Eles quebraram a maldição que impedia os Fynne e as Waterhouse de ficarem juntos. - Mas algo ainda maior está por vir. - Um frio percorreu a espinha de Emily, fazendo-a afastar-se de Julian. - Aqueles os quais você chama de família... - Zafira encarava Julian com firmeza, referindo-se aos caçadores. - Eles estão por vir. Eu vejo sangue nas ruas. Eu vejo algo... algo sombrio, perverso. - Os olhos caídos se arregalaram. - Ele trará a morte de todos nós. - As mãos de Madame Albretchs tremiam, fazendo a vassoura cair no chão. - Estaremos todos embaixo das asas do anjo da morte. - As palavras da cigana fizeram Julian lembrar-se do que Alicia dissera após voltar a realidade, logo depois de vasculhar a mente de Eros em busca do Livro dos Mortos. Ela dissera que vira o anjo da morte na casa dos Smiths e que ele era o guardião do Al Azif, e que ninguém poderia deixar que ele colocasse as mãos no livro. Madame Albretchs sentiu seus olhos embaçarem. Sua visão ficou turva. Emily apoiara a senhora em seu ombro. - Eles virão porque... Porque alguém fez algo muito grave.

- Uma criatura sobrenatural matou alguns deles. - disse Julian com desprezo. Emily lembrou-se de como ele referia-se ao fato de ser um caçador. "Malditos negócios de família". - Eles virão atras dela.

- Não seja tolo, meu rapaz. - Zafira respirava fundo, enquanto começava a sentir-se melhor. - Eles não virão pela garota De La Barthe. - Mesmo sem citar o nome, Emily sabia que eles referiam-se a Jolie. - Eles virão pelo rapaz que tem a alma presa ao passado. Eros Gauthier.

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