Capitulo XXXIV - Paredes de Tempo

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O som dos saltos altos de Jolie ecoavam pelo salão do Urbain Grandier quando ela e Petrus deixaram o local. Os convidados do baile começavam a despertar. Alguns ainda cambaleavam ao levantar, enquanto outros olhavam atordoados para todos os lados, provavelmente perguntando-se sobre o que havia acontecido.

No decorrer da noite, todos corpos foram caindo, um a um. Enfeitiçados. Jolie e Aldrick uniram-se para criar um feitiço capaz de colocar todos para dormir por tempo suficiente para que eles conseguissem botar o plano do feiticeiro em pratica.

Tudo caminhava como planejado. Emily, Julian, Eros e Marie foram feitos de reféns, Alicia entrara na mente de Eros para descobrir onde estava o Livro dos Mortos, Emily cedera suas vidas à Julian e Aldrick dera o próximo passo no ritual para tornar-se um Lich. Praticamente tudo caminhava como planejado. Um lobisomem aparecera e mordera Petrus.

- Alguma chance de eu me tornar um animal com muitos pelos e forte tendencia a pulgas? - perguntou Petrus com sarcasmo enquanto pressionava a mordida em seu braço com a outra mão. Ele não admitiria, mas a dor estava estampada em seu rosto, assim como o suor provocado pelas toxinas da mordida. Seu lábios começavam a tremer. Febre. Outro sintoma.

- Você é um Imortal. - ponderou Jolie em pé com os braços cruzados de frente para Petrus que estava sentado na calçada. Eles estavam a três quadras de distancia do Urbain Grandier. - As células do seu corpo não envelhecem, mas também não se regeneram. Remédios não irão funcionar com você. - Jolie descruzou os braços e levantou a cabeça. As nuvens começavam a desaparecer do céu. Podia-se sentir ainda o cheiro de chuva. A lua crescente escondia-se por trás de uma grande nuvem carregada. - Magia. - Jolie voltou seu olhar para Petrus. - Magia Elementar.

- Má Cherie, sua magia é tão negra quanto o seu coração. Você é incapaz de usar esse tipo de magia a seu favor. - acrescentou Petrus com um sorriso disfarçado no canto da boca.

- Eu não estou falando de mim, idiota! - rebateu Jolie segurando o rosto de Petrus com o polegar e o dedo médio nas bochechas. - Estou falando da minha irmã. - deu leve tapa no rosto de Petrus. - Marie pode te ajudar.

- O que te faz pensar que ela vai me ajudar depois de tudo o que fizemos essa noite com ela e os amigos dela? - indagou Petrus levantando-se do chão. Ele cambaleou e apoiou-se na parede com uma das mãos.

- Ela não terá escolha. - respondeu Jolie com acidez. - Ela irá encontrar uma forma de te ajudar e em troca eu vou transferir o feitiço de Aldrick para Samantha. Julian irá acordar e todos estarão ocupados o suficiente para não darem por falta do Al Azif. - Petrus invejava a inteligencia de Jolie. Ele sempre agira por impulso, enquanto ela calculava milimetricamente cada coisa que fazia. - Vamos! - ordenou - Antes que você comece a ter pulgas.


Eros desenterrou um dos muitos livros de uma das pilhas sobre a mesa, na tentativa de encontrar alguma coisa que o levasse ao Livro dos Mortos ou o levasse a Samantha. Folheou as paginas amareladas, passou o dedo sobre as linhas e uma frase chamou sua atenção. "Todos são arquitetos do destino, vivendo nestas paredes de tempo, então não se lamente pelo passado. Ele não voltará de novo". Como era de se esperar, ele conhecia o autor daquela frase. Era um poeta norte-americano chamado Henry Wadsworth Longfellow. Eros levou dias para conseguir pronunciar o nome do autor corretamente pela primeira vez.

O que mais chamou a atenção de Eros foram as partes sublinhadas da frase. "Vivendo nestas paredes de tempo" e "voltará de novo". Elizabeth, pensou Eros. Só poderia ser. Elizabeth Smith deixara pistas sobre Samantha esse tempo todo. Desde o diário até aquele monte de livros empilhados na mesa diante de Eros. Paredes. O rapaz de cabelo loiro começou tatear as paredes do corredor. Marie assistia sem entender. Ela ainda estava perdida em seus pensamentos desde que Eros prometera-lhe que Samantha nunca ficaria entre eles.

Um som oco fez Eros paralisar. Ele olhou para Marie e pensou na promessa que fizera-lhe alguns minutos atrás. Se ele estivesse certo, Samantha estaria do outro lado daquela parede. Eros esperou a vida toda pelo momento em que encontraria a garota de cabelos vermelhos que visita seus sonhos desde criança e agora que ele estava prestes a conhece-la, sua mente fez que questão de lembra-lo da promessa que ele havia feito à Marie de que Samantha nunca ficaria entre eles. Ele sabia que isso seria impossível.

Eros socou a parede com tanta força que fez o seu braço tremer. Marie se assustou com o golpe. Outro golpe. Mais outro. O som do impacto entre o punho fechado de Eros e a parede era praticamente o mesmo das batidas do seu coração. Marie tocou-lhe o ombro com a mão e ele se afastara bruscamente. Os olhos de Marie arregalaram-se. Era como se Eros tivesse se tornado outra pessoa. Alguém que ela nunca conhecera. Suas pupilas estavam dilatadas. Sua respiração era ofegante. Olhou para o chão e viu um machado caído embaixo da mesa de livros.

Quando Samantha comunicara-se com ele pela ultima vez, eles estavam dentro de um sonho de Eros. No sonho, eles estavam na sala de estar, próximos a estatua do anjo, a mesma que dá acesso ao porão da casa. Não haviam portas no comodo, a única luz que iluminava o local vinha das janelas. Sombras. A lanterna segurada por Marie formava sombras. Houve uma explosão e um buraco se abriu na parede. Machado. As ultimas peças do enigma deixado por Samantha começavam a se juntar na mente de Eros. Tudo levava ao porão. Samantha estava no porão e se Alicia estivesse certa, o livro também estaria. Bastou uma, duas, três machadadas para fazer uma abertura suficiente para uma pessoa atravessar.

Entraram no cômodo desconhecido. Úmido e escuro. Marie se assustou com um rato que passou entre suas pernas. Levou a mão a boca para segurar o grito. Aproximou-se de Eros, mesmo temendo outra reação agressiva dele. A luz da lanterna vagava na imensidão escura até iluminar algo a poucos metros de distancia. Seguiram a luz e encontraram algo que fez o corpo de Marie arrepiar e o coração de Eros bater ainda mais rápido. Lá estava ele. O caixão de Samantha Smith.

O caixão estava trancado com cadeados já enferrujados devido à umidade do local. Talvez Elizabeth providenciara os cadeados para evitar que alguém tirasse sua filha de lá. "Quem roubaria um cadaver?" perguntava-se a garota de cabelos dourados. Eros apalpou os bolsos da roupa em busca de algo que pudesse abrir os cadeados. Quando ele era criança, Julian ensinara-lhe a abrir fechaduras com clipes de papel. Marie tirou um grampo do cabelo e entregou a Eros. Uma parte dela temia que estava dando-lhe a chave para quebrar não só o cadeado, mas a promessa que ele havia lhe feito. Levou poucos minutos até que Eros tivesse destravado todos os cadeados. Levantou a tampa do caixão e assim como Marie, não acreditou no que estava vendo.

Mesmo depois de mais de um século morta, o corpo de Samantha estava intacto. Nenhuma marca de decomposição. Era como se o tempo não tivesse passado nem se quer um minuto desde sua morte. Ela parecia uma boneca de porcelana, com a pele pintada cuidadosamente por um artista. Ela é tão linda, pensou Eros. As mãos pálidas sobrepostas no peito seguravam um livro com capa de couro escuro. Necronomicon ou Al Azif, independente do nome, aquele só poderia ser o Livro dos Mortos.



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Post Mortem Vol. 1 - O Livro dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora