Capitulo II - Para Sempre

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Londres, 16 de Setembro de 1864.

O dia acabara de nascer e os raios de sol atravessavam as frestas deixadas pela cortina de seda azul. Naquela manhã algo diferente se espalhava pelo ar. Como se a vida estivesse se renovando e novos tempos estivessem chegando. E de fato, algo estava prestes a mudar. Samantha completava dezoito anos naquele dia. Foi acordada pela mãe com um beijo na testa às oito horas da manhã com o café sendo servido em sua cama como todos os dias, mas naquele dia os olhos da mãe brilhavam enquanto assistiam a filha despertar. Após comer as torradas e tomar seu copo de leite, levantou e caminhou até a janela abrindo as cortinas para que a luz do sol iluminasse todo o quarto. Samantha se sentia mais viva do que nunca. Fechou os olhos e sorriu. A luz do sol fez com que seu cabelo ganhasse tons acobreados. Espreguiçou-se e virou-se para a mãe sentada em sua cama.

- Hoje é um dia muito especial para você, minha filha.

- Sim, mamãe - disse ela sorrindo sentando-se na cama. Seus dentes eram pequenos e delicados como os de uma criança. - Como andam os preparativos para o baile? - perguntou animada passando a mão nas pontas dos cachos avermelhados.

- Está praticamente tudo organizado, não precisa se preocupar com nada, exceto com o seu vestido... - a mãe olhou para o guarda-roupa. - Espero que gost... - Antes que ela terminasse de falar, Samantha correu saltitante em direção às portas do móvel. Olhou de volta para mãe, havia um misto de expectativa e excitação.

- Não consigo acreditar. - disse Samantha com os olhos verdes brilhando como esmeraldas ao abrir o guarda-roupa e ver o vestido violeta de seda que usaria à noite. - É lindo. - Sentou-se ao lado da mãe e a abraçou. Foi um abraço demorado. Em outro contexto, soaria como uma despedida, mas naquele momento, era apenas um abraço entre mãe e filha, como se Samantha ainda fosse um bebê e ela o segurasse em seus braços com a intenção de nunca deixar partir. Não seria necessário palavras para que a mãe pudesse desejar-lhe "Parabéns". Samantha sentiu um nó se formar em sua garganta e percebeu que uma lagrima escorria pelo rosto da mãe até cair sobre seus ombros.

- Hoje quando acordei, encontrei este buquê de flores e esse cartão na varanda de casa, são para você. - disse Elizabeth enxugando as lagrimas discretamente com as costas dos dedos. Era uma mulher simples, porém elegante, na casa dos trinta anos de idade e de cabelos vermelhos dois tons mais escuros que os de Samantha. - Agora tenho que acertar os últimos detalhes do baile. - seus olhos brilhavam enquanto olhava mais uma vez para a filha. - Quero que hoje seja um dia inesquecível para você. - Deu um beijo na testa de Samantha. - Até mais. - despediu-se enquanto caminhava em direção a porta até desaparecer pelo corredor. Samantha não conteve a curiosidade e começou a ler o bilhete escondido entre as rosas brancas do buquê. O cheiro das rosas. Olhou para o criado-mudo e lá estava a pulseira que ganhara de Petrus há alguns anos atrás. Ela ainda tinha o cheiro de rosas. Talvez, algumas coisas pudessem durar para sempre ou tempo que o para sempre durasse.

"Já se passaram hum mil oitocentos e vinte e cinco dias, quarenta e três mil e oitocentas horas desde a última vez que nos vimos. Sei que seria mais fácil dizer que se passaram cinco anos, mas queria que você soubesse que eu venho contando dia após dia, hora após hora para que esse dia finalmente chegasse. Deve pensar que eu morri ou que até mesmo voltei para minha terra natal, mas nunca estive distante o bastante de você.

PS: Espero que goste do presente. Sempre lhe presenteei com uma rosa a cada aniversário, e este buquê representa os anos que passei longe e os anos que estão por vir. Estou voltando para cumprir minha promessa."

Com Amor, Para Sempre.

Petrus Kowalski

Samantha não conteve a emoção e sorriu em meio as lagrimas enquanto lia o cartão de linhas tortas e tremidas. Desde sua partida, nunca mais obteve noticias de seu amigo - apaixonado - de infância. Chegou a pensar no pior, mas ali estava a prova de que - mais uma vez - ele estava vivo. Para sempre. Como ela imaginava, ele não desistira dela ainda. Porém cinco anos se passaram e muitas coisas mudaram. Ela se perguntava até quando ele continuaria nutrindo um sentimento não correspondido.

Post Mortem Vol. 1 - O Livro dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora