Capítulo 40

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"Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos se a tivéssemos

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"Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito." - Fernando Pessoa


— Nós declaramos Dinesh Yamir culpado.

O seu corpo se remexia inquietamente na cadeira, sendo tomado por um sufoco angustiante. Ele se encontrava tão perturbado com a possível condenação que ouvia essa frase em sua mente, sem ao menos ter sido dita.

Os dedos de Dinesh batiam inquietamente contra a mesa de madeira, seguindo um ritmo constante. Ele refletia sobre a lei do carma a qual utilizou para justificar parte de seus atos. Contudo, naquele momento em que desejava viver com todas as forças, se sentia apavorado com a possibilidade dessa lei cobrar as consequências. O Yamir fechou os olhos por breves segundos enquanto lembrava das pessoas que machucou, manipulou e humilhou para estar sentado naquela cadeira. Ele queria recomeçar a sua vida e provar que merecia uma segunda chance, mas não era tolo o suficiente para ignorar que toda ação possuía uma reação. No fundo, temia que os seus acertos fossem esmagados pela brutalidade de seus erros.

Mahara segurava com firmeza a mão de Miyuki. As duas tremiam sem tirar os olhos do jurado que anunciaria o veredito dos demais. Masaichi batia inquietamente a ponta do sapato contra o piso enquanto Youko mal conseguia se mover, tensa demais diante da situação. Ninguém ousou dizer uma palavra sequer e o silêncio era angustiante.

Dinesh sentiu a garganta secar, nem mesmo tinha ânimo para jogar algum comentário irônico com tantas emoções em seu peito. O jurado encarava o juiz esperando a confirmação para comunicar o resultado. Naquele momento, tudo pareceu transcorrer em câmera lenta. Uma voz distante e masculina chamava pelo Yamir. No início, ele ignorou com todas as forças mas, gradativamente, essa voz o puxava mais ainda para um momento do seu passado.

"Dinesh..."

O indiano apertou os olhos tentando à todo custo ignorar a forma como ele o chamava.

"Dinesh."

Ele abaixou a cabeça afundando os dedos entre as mechas macias de seu cabelo, bagunçando-o mais ainda. O advogado o olhou um pouco confuso mas entendeu que era um reflexo da grande pressão do momento. Todos que assistiam àquela sessão se encontravam apreensivos, pois uma vida poderia ter fim com base na decisão dos jurados.

"Dinesh!"

A voz o chamou com tanta intensidade que se viu obrigado a abrir os olhos.

Raj suspirava pesadamente enquanto jogava o cabelo para trás. Os dois se encontravam no pequeno escritório da casa deles na Índia, refazendo alguns cálculos. Dinesh tinha dezenove anos e trajava uma calça folgada branca junto com uma longa camisa marrom que tocava os seus joelhos. Os músculos eram pressionados contra o tecido de qualidade enquanto o cabelo estava preso em um rabo de cavalo baixo. Por outro lado, o seu pai usava uma calça bege e uma camisa no mesmo estilo em uma tonalidade cinza, a única diferença era o tecido de seda que fazia a roupa brilhar. O cabelo curto dele estava perfeitamente alinhado e um sutil topete jogado para o lado, fixo no mesmo lugar por causa do gel.

O filho perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora