Capítulo 2

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11 de Março de 2019
Segunda-feira

Gabriel percebeu que Lucas não havia respondido as mensagens que ele havia mandado no whatsapp. Na verdade, ele ainda não havia nem visualizado. Desde que o pai dele havia o deixado em casa, ele mandara várias mensagens e áudios se declarando para o amigo, e agora Gabriel podia ver o quão vergonhoso aquilo fora. Quase todas as mensagens estavam com erros de digitação, e quando ele deu play no primeiro áudio, ele quase teve um troço só de ouvir a própria voz.

"AÍÍÍ, LUCAS, ME ESCUTA...EU GOSTO MUITÃÃÃO DE TU, SABE, GOSTO PRA CARACA! A GENTE DEVIA TER FEITO SEXO NA SUA CASA!"

Gabriel passou a mão na testa, sentindo uma ressaca horrível.

"Eu vou cochichar agora...a minha mãe foi dormir, mas eu tenho medo dela me escutar...a gente era pra ter feito seeexo, sexo, sexo..."

Risadas seguiram o resto do áudio. Ele nem teve coragem de ouvir os outros três áudios que ele havia mandado. Era vergonha demais para ele ter que lidar. Ele se levantou, indo tomar banho, enquanto pensava no beijo que ele e Lucas compartilharam na noite passada.

Fazia muito tempo que Gabriel gostava de Lucas. Se não fosse pela bebida, ele jamais teria coragem de ficar com o amigo, nem jamais teria coragem de se declarar para ele daquela forma. Ele se lembrou da expressão de Lucas ao ouvi-lo dizer que gostava dele. Gabriel sorriu. Lucas pareceu tão feliz, tão animado...mas ele não havia aceito seu pedido de namoro.

Merda. Gabriel havia pedido ele em namoro. Como ele teve coragem de fazer isso? Ele havia estragado tudo, com certeza.

Ele deveria mandar uma mensagem para Lucas. Devia dizer que não queria namorar ele, que ele bebera demais, mas será que havia sido realmente algo tão ruim a ser dito? Haviam coisas piores a se dizer, mas ele havia apenas o pedido em namoro. Não era algo tão ruim, certo?

Não, era certamente algo muito ruim. Sua mãe não sabia que ele era bissexual. Ela pensava que ele estivera numa balada hétero, beijando meninas, como ele sempre costumou fazer. Ele tinha certeza de que ela não fazia ideia de que ele gostava de meninos, uma vez que ele passou anos de sua vida se relacionando com garotas. Seu primeiro beijo fora aos oito anos com sua prima Amanda. Ele sempre foi, como Lucas gostava de chamar, "pegador". Mas ele não gostava de ser chamado assim. Dava uma impressão que ele era do tipo pegar e largar. Se bem que...mais ou menos. Ele também possuía sentimentos.

Quando vestiu o uniforme, ele tomou um engov pra passar a ressaca. Ele encheu um copão de água três vezes e tomou todas elas, até que sua mãe apareceu, surpresa.

—Ei, vá com calma, rapaz. Vai acabar te dando uma mijadeira mais tarde.

Gabriel suspirou.

—Eu tô péssimo.

Sua mãe passou o braço ao redor de seu pescoço, sorrindo.

—Eita que a noite foi boa, né? Me conta tudo o que aconteceu.

Gabriel nem sabia como contar tudo o que aconteceu. Na verdade, ele não podia contar tudo o que havia acontecido. Sua mãe não sabia sobre ele. Ele pigarreou, pensando no que mentir.

—Ah, o de sempre. Bebi pra cacete, beijei uma pessoa...depois a gente foi embora, porque o Lucas passou mal.

—Beijou só uma? Só umazinha?

—Só tinha gente feia naquela boate.

Sua mãe riu, empurrando ele de leve.

—Pra ficar com você, precisa ser uma gatinha mesmo pra chegar aos seus pés.

O céu é um lugar da terra (Livro 1) - João Marcelo SantosOnde histórias criam vida. Descubra agora