Mais tarde naquele dia, Gabriel percebeu que Lucas o havia desbloqueado no whatsapp. Ele mordeu o lábio inferior, incerto se mandava ou não uma mensagem. Ele decidiu arriscar.
Gabriel: podemos conversar ou vc ainda ta puto?
Lucas visualizou logo de imediato. Ele demorou longos segundos pra começar a digitar. O coração de Gabriel batia forte.
Lucas: se quiser, pode mandar msg. se eu vou responder ou nao, ai eh problema meu
Ainda estava na defensiva. Droga. Gabriel começou a digitar.
Gabriel: eu nao consigo viver sem voce. nao consigo dormir direito, nao consigo me alimentar direito. voce me faz muita falta, lucas...
Lucas: ai, que peninha. buá...
Gabriel soltou um "tsc".
Gabriel: eu me arrependo muito de ter ficado com a Marilia. Achei que voce tivesse me traido, voce sabe disso
Lucas: eu to sabendo.
Ponto final nunca era um sinal de algo bom.
Gabriel: posso te ligar?
Lucas visualizou, mas não respondeu. Ao invés disso, foi ele quem ligou para Gabriel.
—Graças a Deus que você me desbloqueou. — Disse Gabriel, sorrindo — Significa que não está mais com tanta raiva?
—Vai tomar nesse seu cu. Eu ainda tô muito puto.
—Como você é educado. O que posso fazer pra você me perdoar mais rápido?
—Que tal se você morresse? Eu ia amar se isso acontecesse.
—Eu posso dançar sem camisa no seu quarto. Posso até mesmo fazer um show de striptease.
—Você mal tem músculos. É magrelo.
—Não sou magrelo. Eu tenho um shape bonito, não tenho?
—Não.
—E se eu contratar um gogoboy gostoso pra dançar pra você?
—Isso eu ia gostar. Mas você ia ficar de fora.
—Então nada feito.
Gabriel notou que Lucas segurou uma risada.
—Como estão as coisas aí em casa? — Perguntou Gabriel, mudando de assunto.
—A mesma merda. Minha mãe ainda me odeia.
—Aquela vaca.
—Pois é. Aquela puta.
—Não tem medo dela ouvir?
—Eu quero mais é que escute. ELA É UMA PUTA! — Ele gritou.
Gabriel riu.
—Ela vai te dar uma surra.
—Eu fujo de casa.
—E vai pra onde?
—Sei lá. Pra algum canto. Talvez pra debaixo da ponte.
—Não quer vir pra debaixo do meu teto?
—Depende. Tem gogoboy aí?
—Não, mas tem eu. Acho que consigo fazer um papel de gogoboy.
—Seu merda.
Lucas desligou a chamada, e Gabriel franziu o cenho. Ele perguntou:
Gabriel: pelo visto ainda ta putinho
Lucas visualizou e então saiu do whatsapp. Gabriel deu de ombros, e começou a ouvir música. Ele colocou "Heaven is a place on earth" pra tocar. Era a música dos dois. Eles conheciam a música desde a infância, e de certa forma ela havia marcado uma fase gostosa deles dois. Além disso, foi ao som daquela música que os dois deram o primeiro beijo.
Gabriel se lembrou do beijo. Os dois se esfregando, os dois bem próximos e bêbados. Ele desejou poder voltar no tempo pra quando tudo estava em paz com ele. Pra quando estavam apenas começando a namorar. Eles achavam que aquele início de namoro era bem complicado, mas por incrível que parecesse, Gabriel achava que aquele tempo era bem mais fácil.
Depois de vários e vários minutos, ele ouviu uma batida na porta. Ele tirou o fone, e sua mãe apareceu:
—Querido, tem visita pra você.
Gabriel franziu o cenho, se levantando.
—Visita?
Ele esperava que fosse Marília, mas ao sair, viu Lucas na sala. Ele usava um casaco preto e parecia meio desconfortável em estar ali. Gabriel não resistiu e o abraçou com força, enchendo seu rosto de beijos. Lucas não reagiu a nada daquilo.
—Está me sufocando. — Disse ele.
—Eu quero sufocar mesmo. Seu bosta.
—Se eu sou um bosta, por que tá me abraçando?
Ele soltou Lucas, sorrindo. Ele percebeu que Lucas também sorria um pouco.
—Quer ir pro meu quarto?
Só depois de dizer isso ele percebeu o quanto aquilo soara malicioso. Lucas engoliu em seco, mas assentiu com a cabeça.
Os dois fecharam a porta ao passar, e Lucas se sentou na cama dele.
—Eu tô exausto. Essa semana foi horrível. — Ele disse, se deitando.
—E já chega assim? Deitando na minha cama?
—Você sempre fez isso.
—É verdade.
Gabriel deitou ao lado dele, e ambos ficaram encarando o teto por um momento.
—Será que a gente pode recomeçar? — Perguntou Lucas, franzindo os lábios — Sem pedidos de desculpa, sem um "eu te perdoo", sem abraço, sem choro, sem nada. Sem drama, sem toda aquela parte chata. Dá pra gente voltar a namorar normalmente, como se nada tivesse acontecido?
—Claro. — Gabriel sorriu — Quer voltar pra qual parte?
—Pra que você quiser. Talvez pra aquela em que você subiu na cama e me pediu em casamento.
—Eu não pedi você em casamento.
—Ah, tá. — Lucas revirou os olhos, sorrindo.
Os dois entrelaçaram os dedos, e Gabriel beijou sua mão.
—Eu senti sua falta. — Disse ele.
—Eu pedi pra gente pular a parte do drama. — Disse Lucas.
—Não é drama. Eu só tô dizendo que senti sua falta.
—É drama. Se a gente voltou no tempo, nunca ficamos separados. Portanto, não tem como você ter sentido minha falta.
—Vai tomar nesse cu, Lucas.
Os dois riram, se entreolhando. Os dois esfregaram os narizes, fechando os olhos, permitindo que suas respirações se misturassem.
—Fico feliz que tenha voltado. — Cochichou Gabriel — Muito feliz.
—Para de viadagem, Gabriel.
Gabriel o empurrou da cama, fazendo-o cair. Gabriel riu, enquanto Lucas reclamou, dando um tapão em seu braço.
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Notas: Esse capítulo foi bem curto, mas acredito que entreguei a cena direitinho xD gostaram da reconciliação no-drama dos dois? Tava na hora dos pombinhos se entenderem, né? Agora vai ser só felicidade e alegria...SÓ QUE NÃO, MWAHAHAHAHA. Não percam os próximos capítulos.
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O céu é um lugar da terra (Livro 1) - João Marcelo Santos
Teen FictionGabriel e Lucas são amigos de infância. Cresceram juntos, unidos como irmãos de carne e unha. Há alguns meses atrás, eles descobriram que compartilham uma característica em comum: ambos gostam de meninos. O que só serviu para os unirem mais ainda, a...