Mais tarde naquele dia, ao chegar em casa, Lucas se virou para sua mãe.
—Mãe, será que a gente pode conversar?
Ela respirou fundo, pondo a mão no ombro, olhando para cima. Ela abaixou o olhar, indo de encontro ao dele.
—Não.
Ela saiu andando para a cozinha, e ele foi atrás.
—Mãe, vai ficar me ignorando agora pra sempre? Eu sei que te decepcionei, sei que eu não sou o que você esperava que eu fosse, mas por favor, fala comigo! Eu continuo sendo a mesma pessoa que eu sempre fui, continuo sendo o seu filho que você tanto dizia amar! Será que você não consegue perceber isso?
Ela fungou, enquanto colocava o almoço no prato.
—Por favor, olha nos meus olhos. — Ele pediu.
Ela olhou para ele, cruzando os braços logo em seguida.
—Quê que você espera que eu diga? Que eu estou super contente e orgulhosa de você, que acho bravo você se assumir, que acho incrível o fato de que você é gay? Desculpa, mas eu não consigo ser essas mães modernas que aceitam tudo, como a mãe do Gabriel. Eu não consigo, eu tenho meus limites, amor de mãe tem seus limites. Se você não está satisfeito, vai procurar a mãe do Gabriel.
—Eu não vou fazer isso, porque eu amo você, mãe. — Ele mordeu o lábio inferior — Por favor, será que dá pra você ao menos considerar que isso é uma coisa normal?
—Normal? Jamais. — Ela colocou o prato dele na mesa — Pronto, a comida tá pronta.
—Mãe, espera aí. — Ele parou na frente dela, esperando que ela o ouvisse — Por favor, talvez só em considerar a hipótese...
—NÃO TEM NADA PRA CONSIDERAR, LUCAS! — Ela bateu a mão na mesa, irritada — Você é gay, eu já entendi essa parte. Você já me disse, e eu já ouvi, agora será que você pode me dar licença pra eu poder seguir com a minha vida?
—Acontece que você não está seguindo com sua vida, está obcecada com o fato de eu ser gay! — Lágrimas surgiram no canto de seus olhos.
—Ah, eu tenho que aceitar tudo calada, é isso? — Ela cruzou os braços — Eu tenho que aceitar tudo mansa, tudo quietinha, e deixar você destruir a sua vida sozinho, é isso?
—Que destruir a vida o quê, mãe? Eu só gosto de homens, só isso!
—"Só isso". Como se fosse a coisa mais normal do mundo. Me dá licença, garoto.
Ela o empurrou, e ele foi atrás dela conforme ela andava.
—Por que é que uma forma diferente de amor te incomoda tanto? Porque o amor entre dois homens é tão asqueroso pra você? Por que o amor entre duas pessoas é tão nojento?
—Porque não é simplesmente entre duas pessoas, é entre dois machos! — Ela revirou os olhos — Olha, me dá licença, senão eu vou ter que sair de casa pra ter sossego.
—Para além de machos, nós somos pessoas, pessoas que se amam e se importam um com o outro! — Ele suspirou — Apesar de que...bom, eu não acho que ele me ama de volta, mas quando eu achar um homem que me ame, nós vamos ser duas pessoas se amando.
—Que história é essa dele não te amar? Vocês não estão juntos? — Ela arqueou a sobrancelha.E
Ele respirou fundo, cruzando os braços.
—Eu tô dando um gelo nele. É uma longa história, mas basicamente, eu tô desconfiando que ele me traiu. E se não traiu, vai trair. Uma vidente que disse.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O céu é um lugar da terra (Livro 1) - João Marcelo Santos
Teen FictionGabriel e Lucas são amigos de infância. Cresceram juntos, unidos como irmãos de carne e unha. Há alguns meses atrás, eles descobriram que compartilham uma característica em comum: ambos gostam de meninos. O que só serviu para os unirem mais ainda, a...