Capítulo 60

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30 de Abril de 2019
Terça-feira

—Prova esse doce. — Gabriel enfiou um dos doces que havia comprado no mercado junto de Lucas na boca dele — É muito bom.

—Hm! — Ele mastigou o doce — Muito bom mesmo. Que sabor é esse?

—Abacaxi.

—Eca! — Ele cuspiu na mesma hora — Odeio abacaxi.

—NA MINHA CAMA NÃO, NÉ, PORRA!

Os dois estavam sentados lado a lado na cama de Gabriel. Ele recolheu o doce do colchão e enfiou na boca, e Lucas fez uma careta.

—Eca, tava na minha boca!

—Por isso mesmo que eu tô provando. — Gabriel piscou pra ele, que sorriu e lhe deu um empurrãozinho de leve.

—Palhaço. — Ele enfiou outro doce na boca — Esse aqui não é tão bom, mas dá pro gosto.

Ele ouviu seu celular vibrar. Ao abrir a mensagem, viu que era de Felipe. Ele sorriu na mesma hora.

Felipe: EU ATENDI UMA TRAVESTI HOJE MANO. UMA TRAVESTI LIN-DIS-SI-MA!

Lucas: MANO, eu já vi uma travesti na boate gay, mas nunca falei com uma. Queria muito ter um amigo trans!

Felipe: Ela estava com um grupo de amigas. Elas beberam até cair XD

—Deixa eu adivinha. — Gabriel mastigava o doce — Tá falando com o Felipe?

—Ele mesmo. — Lucas sorriu, digitando — Ele falou que atendeu uma trans hoje. Eu queria ter uma amiga travesti.

—É a mesma coisa que ter uma amiga cis, ué. — Gabriel deu de ombros, enfiando outro doce na boca.

—É, mas eu sinto que entrei há muito pouco tempo nessa comunidade. Sei lá. — Lucas deu de ombros — Sinto que não sou gay o suficiente.

—Claro que é. Mais do que o suficiente. — Gabriel deu um beijinho em sua bochecha, entrelaçando os dedos nos dele

—Não sou nada. — Lucas estalou a língua — Eu não tenho muitos amigos LGBTs.

—Você tem a mim e o Felipe.

—É, mas você não conta, porque é meu namorado. Então eu só tenho um, que é o Felipe. — Ele suspirou, enfiando outro doce na boca — Eu sei lá. Tenho inveja daqueles garotos que tem um bonde de amigos gays. Deve ser muito daora.

—É, deve ser legal mesmo. — Gabriel sorriu — Mas nós já temos o nosso próprio bonde.

—De héteros. — Lucas revirou os olhos — A Lisa e o Pedro são muito héteros. Eu queria ter vários amigos LGBTs, sabe? Sinto que sou uma vergonha pra comunidade por não ter amigos assim.

—Isso é besteira, Lucas. — Gabriel franziu o cenho — Você tem amigos que te amam e é isso o que importa. A sexualidade das pessoas não deve ser levada em conta na hora de escolher os amigos.

—É, só que ter amigos LGBTs deve ser bem mais legal. — Ele o encarou — Pensa comigo. Tu tem amigos que entendem perfeitamente como é ser você. Eles passam pela mesma coisa. A questão da aceitação, do preconceito, enfim...tudo é parecido. A Lisa e o Pedro são as melhores pessoas do mundo, mas jamais saberão como é estar na nossa pele.

—Isso é verdade. — Gabriel concordou, pensativo — Na verdade, eu nunca tinha pensado sobre isso.

—E pra você é bem pior. Porque eu sou amigo do Felipe, e você não. — Lucas franziu o cenho — Espere...eu tenho uma ideia!

Gabriel sorriu.

—Qual?

Lucas sorriu, animado, se virando de frente pra ele.

—Vamos sair nós três. Eu, você e o Felipe. Assim você fica amigo dele, assim como eu, e pode ter um amigo LGBT também. Vamos, vai ser legal.

Gabriel pareceu não gostar muito da ideia. Sua expressão demonstrava apreensão.

—Er...acha mesmo que isso vai dar certo?

—Claro. Fica estranho ele sendo meu amigo e não sendo seu amigo. Você vai ver como ele é divertido. — Lucas torceu o lábio — E...ele e eu...bem. Tivemos aquilo, né. Talvez se você amigar com ele, o clima esquisito vai passar toda vez que mencionar o nome dele.

Gabriel coçou o queixo.

—É. Pode ser. Mas eu acho que, se for assim, você também precisa amigar com a Marília. — Ele encarou Lucas — Porque eu sei que você, no fundo, ainda implica com ela.

Lucas suspirou, sorrindo.

—Eu não implico.

—Implica sim. Dá pra ver pela sua cara.

—Eu a trato super bem.

—Mas é falso com ela. Eu vejo que você a detesta.

Ele respirou fundo, dando de ombros.

—Bem....é verdade. Eu não consigo gostar muito dela. Principalmente depois de tudo o que ela fez.

—Viu? É isso o que está errado. A gente deveria se sentir confortável sendo amigo dessas pessoas. Não temos nada com eles, então deveríamos parar de ciúme. — Gabriel sorriu — E se a gente saísse, nós quatro? Tipo, a gente pode ir no shopping, ou num parque, ou sei lá, beber em casa, ou ir numa balada. Nós quatro, juntos. Assim, eu conheço melhor o Felipe e você conhece melhor a Marília.

Lucas lentamente sorriu.

—É uma boa ideia. É, pode ser!

—Né? Então vamos sair nós quatro. Que tal amanhã de noite?

—Eu tenho que ver com o Felipe se ele vai querer ir. E você precisa ver com a Marília.

—Podemos ir naquele parque de diversões que inaugurou há pouco tempo. Lembra dele? Eu te falei sobre ele há alguns meses.

—Será que ele ainda tá funcionando?

—Claro que tá, eu sigo a página do insta desse parque. A gente pode ir lá. Faz tempo que eu tô querendo ir. O que acha?

Ele deu de ombros.

—Ótimo. Por mim, tudo bem.

—Vai ser massa. — Gabriel beijou a mão dele.

Lucas esperava que sim. Entretanto, quando pensou no parque de diversões, algo estranho aconteceu. Ele sentiu um aperto no coração. Como se algo fosse dar errado. Ele balançou a cabeça, tentando deixar o pensamento de lado. Era pura neura dele.

—Tá tudo bem? — Gabriel perguntou, franzindo o cenho.

—Claro. — Mentiu Lucas, sorrindo — Vamos marcar com eles.

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Notas: Vocês me conhecem. E aos que não conhecem, deveriam saber que eu AMO um circo pegando fogo. Não literalmente(só as vezes hehe). Então óbvio que alguma coisa pode vir a acontecer, como pode não acontecer nada. Vocês só vão saber lendo os próximos capítulos. Até lá, não esqueçam de comentar o que acharam e de votar o/

O céu é um lugar da terra (Livro 1) - João Marcelo SantosOnde histórias criam vida. Descubra agora