Capítulo 57

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24 de Abril de 2019
Quarta-feira

—Pelo amor da virgem Maria! — A avó de Gabriel exclamou, levando a mão ao peito — Isso é lá coisa que se faça?

—E eles ainda fizeram um drama do caralho, me chamaram na escola, o diretor deu uma mega bronca...ai, uó. — Jéssica, a mãe de Gabriel, revirou os olhos, enquanto lavava a pia — Aí a mãe do Lucas brigou com ele, e ele suspendeu o Gabriel até a segunda.

—Ora, mas é claro. Inventa de transar em local que não se deve, tu só se fode, menino. — A avó balançou a cabeça, com a mão na cintura — Tem que saber o local aonde vai transar pra gozar direitinho.

Gabriel riu. Sua avó era uma pessoa extremamente divertida. Ele sempre adorava quando ela o visitava.

—Eu estava achando que você estava solteiro, Gabriel. — Sua avó se sentou numa cadeira — Pensei que você tava por aí, comendo todas as menininhas. Mas pelo visto inventou de ficar que nem a sua mãe...

—Olha, nem coloca a culpa em mim. Gabriel tá de prova que eu nunca falei nada pra ele. — Jéssica se defendeu.

—É verdade. Como vocês esconderam de mim que ela era bi? — Perguntou Gabriel, confuso — Todo esse tempo mentindo pra mim?

—Eu sei lá, vai que você ficava que nem ela. Não que tivesse algum problema, é claro, mas não queria que você fosse de certa forma influenciado. — Sua avó deu de ombros — Além disso, os irmãos dela não falavam sobre isso. Meio que deixamos isso em sigilo. Só que eles viam ela saindo com umas garotas de vez em quando.

Gabriel se inclinou pra frente na mesa, interessado naquela conversa.

—Como foi quando a mamãe se assumiu? A senhora aceitou bem?

—Aceitar eu não aceitei, mas que escolha eu tinha? Os outros eram piores do que ela. O Roberto vivia fumando maconha, o Thiago engravidou uma menina na adolescência. A Juliana era a mais quieta. Nem parecia ser minha filha. Aí vem a Jéssica e diz que gosta das duas frutas, eu ia fazer o quê? Tive que aceitar, né? Eu surtei muito mais quando ela apareceu em casa dizendo que estava grávida de você.

—Você foi muito ruim comigo. — Reclamou Jéssica — Eu esperava um apoio, uma palavra de amor, e tudo o que você quis saber era quem era o pai e como eu tivera coragem de fazer aquilo.

—Mas é claro! Vocês me davam muita dor de cabeça! Toda hora um filho fazia uma merda diferente. Tudo isso por minha culpa, quem mandou eu inventar de sair tendo filho desde novinha? Tive que me virar pra criar, porque os pais nunca apareciam pra sustentar o b.o. E eu estava certa quando eu disse a você que o pai iria sumir, não estava?

—Certa até demais. — Jéssica bufou — Parece até que rogou praga.

—Você me respeita, viu, menina? Eu lá tenho cara de rogar praga pros outros? Eu tô mais preocupada dando do que me metendo na sua vida.

Gabriel riu novamente.

—O meu pai...a senhora chegou a conhecer ele?

—Graças a Deus não. — Sua avó bebeu um gole d'água — Mas ele era um velho nojento. Era quase da minha idade. Daí a Jéssica inventa de transar com ele, tendo só 16 anos. Eu não sei o que ela viu num homem tão velho pra ela...

—Ai, sei lá, é que homem mais velho sempre me atraiu mais, sabe? Aí eu não resisti aos encantos do Leo. — Jéssica sorriu, se lembrando — Ele era tão bonito. Tão forte, tão alto, tão...ele era bem parecido com você, Gabriel. Você me lembra muito ele. Até os olhos você puxou dele.

O céu é um lugar da terra (Livro 1) - João Marcelo SantosOnde histórias criam vida. Descubra agora