O céu é um lugar da terra (Livro 1) - João Marcelo Santos

Capítulo 25

Mais cedo naquela noite, Lucas havia chamado os pais na sala para conversar com eles. Os dois se sentaram no sofá, enquanto ele ficou em pé.

—O que foi, Lucas? Fez alguma coisa de errada, foi isso? — Perguntou a mãe.

—Não. Quero dizer, não s- ...não, não fiz.

—O quê que é tão importante que você precisou nos chamar aqui pra dizer, meu filho? — Perguntou o pai.

—Bom...é que...eu tô escondendo uma coisa de vocês dois há alguns anos, e a mamãe já tá meio desconfiada disso. — Ele sorriu timidamente — É que...eu escondi isso de vocês por medo de como vocês poderiam reagir. Tive medo que me tratassem diferente, ou pudessem ser preconceituosos. Por isso eu escolhi não contar, mas eu sinto que já chegou a hora de acabar com esse mistério.

—O que foi, Lucas? Eu tô ficando nervosa. Cê tá fazendo alguma coisa ilegal? — Sua mãe levou a mão ao peito.

—Calma, Catarina. Deixa o menino falar. Fala, filho.

—Tá bom. — Ele respirou profundamente, suspirando em seguida — Eu sou gay.

Sua mãe abaixou a mão, encarando ele com os olhos esbugalhados. Seu pai engoliu em seco.

—O quê? — Ele perguntou.

—Eu gosto de garotos. Sinto atração sexual por garotos. — Lucas engoliu em seco.

Sua mãe esfregou a mão no rosto.

—Ai, não. Não acredito nisso. Eu não tô acreditando no que eu tô ouvindo.

Lucas sentiu seu coração murchar ao ouvir as palavras da mãe.

—Que história é essa de que você é gay, meu filho? — Ela perguntou — Que moda é essa agora? É por causa das séries que você tá assistindo, aquela...como é que é o nome, Zé? Aquela série que só tem viado? Sense...alguma coisa.

—Sense8? — Perguntou Lucas.

—É por causa dessas merdas que cê anda assistindo, meu filho? É por causa do Gabriel? É ele que tá te influenciando?

—Não, mãe! Ninguém me influenciou a nada, é algo que eu simplesmente sou. Eu nasci assim.

Ela riu.

—Faça-me o favor. Ninguém sabe viado. Você sabe muito bem disso.

—Deixa ele explicar, Catarina. Como...como que você virou gay, meu filho? — Questionou ele.

—Eu não virei nada! Eu nasci assim, pai!

—Não, nenhum ser humano minimamente normal nasce gay! — Ela se levantou, irritada — Era isso que você tava me escondendo? É pra isso que você tá saindo com o Gabriel pras baladas? Pra ficar beijando macho? Pra ficar chupando pinto de homem? É isso?

Lucas sentiu seu coração acelerar.

—Mãe, não é bem assim, eu posso explicar...

—Ah, você tem muito a me explicar mesmo. — Ela pôs as mãos na cintura — Desembucha, anda. Foi o Gabriel que te influenciou? Ele tá te levando pras baladas pra você pegar homem, é isso?

—Não, mãe! Quero dizer...é, mais ou menos.

Ela abriu a boca, em choque.

—Tinha que ser! Tinha que ser aquele menino! Eu sempre falei pra Jéssica que ela tava criando aquele menino mal, que ficar dando liberdade pra ele fazer o que quer era errado, mas ela nunca me ouviu! Ele é que tá te influenciando a virar gay, admite!

—Mãe, ninguém me influenciou a nada. — Explicou Lucas — Gays nascem gays! Do mesmo jeito que você nasceu hétero, eu nasci gay! A gente nasce assim!