O céu é um lugar da terra (Livro 1) - João Marcelo Santos

Capítulo 28

29 de Março de 2019
Sexta-feira

—Só você mesmo pra me trazer pro centro de São Paulo num calor infernal desse. — Reclamou Gabriel, enquanto perambulava junto da prima.

—Para de reclamar, primo. Já estamos quase chegando.

—Vem cá, não era mais fácil pedir pro uber parar em frente ao local onde essa mulher trabalha?

—É que fica no meio dessa feirinha esotérica aqui, menino. — Ela desviou de algumas pessoas que passavam pelo local — Vem, tá vendo aquela tenda enorme ali?

Ela apontou para uma tenda vermelha imensa que ficava nos fundos.

—Tô vendo.

—É ali que ela trabalha. Tá com teu dinheiro ai, né?

—Claro, né, fazer o quê. — Ele suspirou.

—Não vem dar uma de irritadinho pro meu lado não, hein? Tô aqui pra aturar teus abusos não.

Eles dois chegaram na tenda. Era uma enorme tenda cheia de decorações, com uma placa do lado de fora, que dizia o seguinte:

VIDENTE PREVÊ O FUTURO COM 100% DE PRECISÃO
ACEITAMOS PAGAMENTO À VISTA OU NO DÉBITO
NÃO ACEITAMOS FIADO

—Não me parece nada promissor. — Disse Gabriel, franzindo o cenho.

—Deixa de preconceito. Vamos entrar.

Assim que entraram, um cheiro forte de incenso invadiu o nariz de Gabriel. Uma mulher estava de costas, acendendo os incensos.

—Sejam bem vindos, Verônica e Gabriel.

Os dois piscaram, se entreolhando, confusos.

—Você marcou com ela dizendo que a gente vinha hoje? — Perguntou Gabriel.

—Não. Não disse nada. — Ela respondeu, dando de ombros.

—De tudo eu sei, tudo eu consigo prever, crianças. — Ela se virou para eles, com um sorriso amistoso. A mulher era negra e tinha os cabelos encaracolados presos em um coque — Eu sabia que vocês viriam até mim. Eu vejo tudo na bola de cristal.

Gabriel tinha certeza de que era tudo um plano de Verônica para fazê-lo acreditar naquelas bobagens. Por esse motivo, ele não ficou muito surpreso ao ouvir isso. Ele sorriu, assentindo.

—Qual o nome da senhora?

—Meu nome é Solette. Adivinho o futuro através da minha bola de cristal, não trabalho com cartas ou com mãos. Meu negócio é ler a energia das pessoas e assim poder adivinhar o que o destino terá traçado para vocês.

—Bom, hoje a consulta vai ser com o meu priminho, madame. — Verônica empurrou ele.

Assim que se sentaram na mesa, Gabriel lhe deu uma breve explicação do que estava acontecendo na sua vida. Ela ouviu tudo atentamente, olhando em seus olhos.

—Então vejo que você está com um problema amoroso. Vejo que você tem bastante preocupação sobre o que pode acontecer de agora em diante.

—Isso mesmo. — Ele engoliu em seco — Eu gostaria de saber o que vai acontecer no futuro.

—Certo. Peço que estenda sua mão.

Ele franziu o cenho.

—Pensei que não trabalhasse com leitura de mãos.

—Estenda ela agora.

Ele obedeceu, e ela tocou em sua mão, fechando os olhos por alguns segundos. Ela sorriu, ainda de olhos fechados.