TRÊS ANOS ANTES
06 de Junho de 2016
Marília estava encolhida no canto do banheiro. Ela ouvia gritos e mais gritos vindo do lado de fora. Suas pernas estavam unidas e encolhidas contra o próprio corpo, e seu coração estava acelerado. Ela tinha uma mão na boca, e cada grito a deixava mais desesperada. O banheiro estava com a luz apagada.
—EU TE DISSE PRA ME RESPEITAR, SUA VACA! TOMA ISSO AQUI PRA VOCÊ VER SE É BOM!
Ela ouviu socos. Ela ouviu gritos, e ouviu uma risada.
—PARA DE ME BATER, JORGE! VOCÊ TÁ ME BATENDO MUITO!
—EU VOU BATER MUITO MAIS, VOCÊ VAI VER SÓ!
Marília fechou os olhos, fungando, ouvindo mais gritos e mais tapas. Ela começou a rezar pra Deus para que aquela situação acabasse logo, que os sofrimento de sua mãe fosse poupado. Ela ouviu empurrões, até que ouviu o choro de sua mãe.
—SUA DESGRAÇADA! TOMA ISSO AQUI PRA VOCÊ VER!
Ela ouviu o som de um corpo batendo contra a porta do banheiro, e Marília se estremeceu inteira. A porta foi aberta, e sua mãe apareceu ali, rastejando no chão. Sua boca sangrava. Marília estava horrorizada. Ela tentou entrar no banheiro, mas seu pai apareceu dando um soco na cabeça dela, que desmaiou.
—DEIXE ELA EM PAZ! — Marília gritou.
O olhar do homem foi até ela, e ela se arrependeu no mesmo momento de ter dito alguma coisa. Ele foi até dela, e quando ela tentou escapar, ele agarrou seu cabelo, puxando-a com força. Ela gritou enquanto o pai a levava para fora do banheiro e a jogava contra o chão.
—NÃO BATA NELA! DEIXE ELA EM PAZ! ELA NÃO TEM NADA A VER COM ISSO!
Marília ergueu o olhar, vendo a mãe se pôr diante do pai, impedindo que ele batesse nela. Ele cuspiu no rosto da mulher, xingando-a ainda mais alto.
—SUA VAGABUNDA!
E deu outro tapa nela. Marília gritou por ajuda, se levantando e correndo até seu quarto, aonde trancou a porta. Ela apanhou o celular, ligando imediatamente para a polícia. Ela tremia como nunca havia tremido em toda a sua vida.
—Pois não? — Uma mulher atendeu a ligação.
—O MEU PAI TÁ BATENDO NA MINHA MÃE! ELE VAI MATAR ELA! ALGUÉM NOS AJUDA, POR FAVOR!
—Fica calma, senhorita. Aonde vocês estão?
Ela ouviu batidas na porta. Era seu pai.
—DESLIGA ESSE TELEFONE AGORA OU EU ARROMBO ESSA PORTA, SUA PUTA!
—POR FAVOR, MANDA A POLÍCIA VIR AQUI! ELE VAI MATAR A GENTE!
—Entendido. Vamos mandar agora policiais até o local. Por favor, fique na ligação comigo, se puder.
Ela engoliu em seco. Ouviu silêncio na casa. Ela até estranhou. Ela ouviu a mãe falar:
—Jorge, o que está fazendo? Jorge, para com isso, pelo amor de Deus! Jorge, você...PERA, O QUÊ?
Ela ouviu o som de hélices. Então ouviu sua mãe gritando, e seus gritos sendo abafados pelo som das hélices. Marília travou, sem entender o que estava acontecendo.
—Aonde você está? Qual o seu nome? — Perguntou a mulher no telefone.
—Marília. Estou no quarto, trancada.
Ela ouviu gritos esganiçados de sua mãe, e então reconheceu o som: era o som das hélices do ventilador. Ela ouviu o som do pai rindo. Ela não sabia naquele momento ao certo o que estava acontecendo, mas quando a polícia chegasse e então prendesse o homem, quando ela finalmente sairia do quarto, ela descobriria o que aconteceu. Ela descobriria que o pai havia retirado o protetor do ventilador e enfiado a cara de sua mãe nele em movimento.
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O céu é um lugar da terra (Livro 1) - João Marcelo Santos
Teen FictionGabriel e Lucas são amigos de infância. Cresceram juntos, unidos como irmãos de carne e unha. Há alguns meses atrás, eles descobriram que compartilham uma característica em comum: ambos gostam de meninos. O que só serviu para os unirem mais ainda, a...