19 de Abril de 2019
Sexta-feiraLucas abriu a porta de casa para Gabriel entrar. Os dois deram um selinho, e se encaminharam até a cozinha, aonde a mãe de Lucas estava. Ela cortava carne, e assim que viu os dois, piscou, confusa. Em seguida, colocou a mão na cintura, fechando a cara.
—Lucas, o que esse menino faz aqui?
—A gente precisa conversar, mãe. — Disse Lucas, olhando para o namorado — Nós três.
—Vá embora da minha casa. — Ela apontou para a porta, encarando Gabriel com ódio no olhar — Vá embora agora ou eu chamo a polícia. Já não basta a vergonha que você já nos fez passar quando veio aqui implorar pelo meu filho. Vá embora.
—Eu não vou embora daqui enquanto a senhora não escutar o que temos pra dizer. — Respondeu Gabriel — A senhora vai ouvir a gente, e aí sim eu vou embora.
Ela soltou uma risada de escárnio.
—Ah, eu tenho que ouvir vocês? O que é isso, um complô bicha contra mim? Faça-me o favor, me poupe das suas lorotinhas e se manda daqui, porque eu não estou nem um pouco interessada em ouvir o que você tem pra dizer.
—A senhora pode me atacar o quanto quiser, eu aceito isso. — Disse Gabriel — Mas nada disso vai mudar o amor que eu sinto pelo seu filho. Não vai mudar o fato dele me amar também, não vai mudar o fato de sermos completamente apaixonados um pelo outro. Nada do que a senhora disser vai mudar o que-
—E você acha que você ficar aqui falando lorotinha vai mudar o que eu penso sobre essa palhaçada? — Ela o interrompeu — Não precisa me lembrar que estão apaixonados, isso me dá nojo. E você não quer me ver vomitando aqui na cozinha da minha casa, quer?
—A senhora tá errada nos seus pensamentos. — Disse Lucas — A senhora vê a gente como aberrações, mas na verdade nós somos tão seres humanos quanto a senhora. Amamos como a senhora, respiramos, comemos, dormimos, temos sonhos... somos exatamente iguais, o que muda é que-
—O que muda é que vocês são boiolas, isso é o que muda. — Ela revirou os olhos, voltando a cortar a carne — Façam o favor de pouparem meus ouvidos porque ele não é penico.
—A senhora poderia estar muito bem nos aceitando, nos entendendo como somos. — Prosseguiu Gabriel — Mas ao invés disso, escolhe ouvir os próprios preconceitos. Sem sequer se questionar nenhuma vez se a sua forma de pensar não está errada. Nem consegue imaginar o fato de que talvez nós estejamos certos.
Ela riu, ainda de costas pra eles. Gabriel continuou:
—Será que dá pra senhora baixar um pouco a soberba e ouvir um pouco a gente? Será que dá pra senhora-
—Não, não dá. Porque eu já sei o que vocês vão falar. "Somos gente normal, amamos normalmente, não é pecado amar um homem. É a coisa mais normal do mundo, é a coisa mais aceitável...". Eu conheço bem o tipinho de vocês, e não estou interessada em mudar de ideia.
—É uma pena. — Disse Lucas, balançando a cabeça — Porque a senhora poderia estar sendo uma sogra do caralho, mas ao invés disso prefere nos rejeitar.
—Sogra? — Ela os encarou, cruzando os braços — Vem cá, eu quero ter uma nora. Uma mulher de verdade pra você. Pra que casem, tenham filhos, pra me darem orgulho. E não um transviado.
Lucas se irritou profundamente com aquilo, mas Gabriel o impediu de falar.
—Meu objetivo não é ser uma mulher, nem substituir uma mulher. Eu só quero poder amar seu filho como qualquer garota amaria.
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O céu é um lugar da terra (Livro 1) - João Marcelo Santos
Teen FictionGabriel e Lucas são amigos de infância. Cresceram juntos, unidos como irmãos de carne e unha. Há alguns meses atrás, eles descobriram que compartilham uma característica em comum: ambos gostam de meninos. O que só serviu para os unirem mais ainda, a...