3-Camila Stevens

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Estava naquele quarto faziam algumas horas e tudo o que eu mais queria era sair daquele sítio. Eu queria fugir de alguma forma, mas saltar da janela estava fora de questão porque eu estava no segundo piso daquela enorme casa e se eu quisesse sair normalmente seria impossível, pois a casa é rodeada de lobos e floresta, aff.

Já tentei arrancar esta maldita pulseira do meu pulso, mas ela está agarrada à minha pele e não quer sair. O meu pai nunca vai permitir que eu fique sem a pulseira, nunca vai aceitar em me tirar esta maldita.

Sentei-me na beira da cama totalmente cansada daquela vida que eu levava. Dia após dia era um sacrifício viver com aquele que se dizia ser meu pai. Ele sempre gritava comigo dizendo que eu não era filha dele, que eu não era ninguém e que me odiava. Às vezes ele batia-me enquanto me culpava pela morte da minha mãe.

Às vezes penso que se eu não tivesse nascido a minha mãe ainda estaria aqui e assim eu não teria que passar por tudo isto sozinha. Eu não tenho ninguém, toda a minha família se afastou depois da morte da minha mãe e, então, eu não conheço ninguém da minha família, somente o meu pai. Nem a minha própria mãe conheci um dia.

-Tu és mesmo uma bruxa?-saí dos meus pensamentos quando ouvi a voz de alguém.

Eu rapidamente me levantei e olhei para aquela menina sentada numa cadeira de rodas. Será a Bianca de que tanto falaram?

-Si...sim-gaguejei.

Ficamos a olhar uma para a outra até ela cortar o nosso silêncio mais uma vez.

-Não és má como as outras, pois não?-ela aproximou-se com a sua cadeira-não pareces ser má.

Eu recuei um passo e sustive a respiração por uns segundos.

-Não te vou fazer mal-ela revirou os olhos-mesmo que eu quisesse esta aqui não me deixaria-referiu-se à sua cadeira de rodas.

-Não consegues andar...-sussurrei para mim mesma, mas acho que ela ouviu.

-Bem, as tuas amigas bruxas deixaram-me assim-ela encolheu os ombros.

-O que aconteceu?-sentei-me na beira da cama nervosa-porque ficaste assim?

-Uma história triste-ela baixou a cabeça, mas logo a levantou-há pouco mais de cinco anos um grupo de bruxas apanhou-me enquanto eu brincava na floresta e quando me levaram para a cidade delas fizeram algumas experiências comigo e eu fiquei de tal maneira traumatizada que simplesmente deixei de andar pelas minhas próprias pernas-ela suspirou-esta é a minha história resumida-ela sorriu fraca-eu tinha apenas 12 anos.

Eu fiquei uns segundos em silêncio a pensar no que acabara de ouvir e, então, olhei para ela mais uma vez e peguei na sua mão.

-Mas podes voltar a andar outra vez-sorri esperançosa para ela-basta tu quereres e com alguns treinos tu voltas a ser tu novamente e...

-Eu não quero-ela negou interrompendo-me.

-Porquê?-perguntei confusa.

-Porque tenho medo que elas voltem para me vir buscar-ela deixou escapar uma lágrima pelo seu rosto.

Eu aproximei-me dela e limpei a sua lágrima e sorri para ela que voltou a sorrir um pouco.

-Elas não voltarão-peguei nas suas mãos e apertei-as como sinal de que ela não estava sozinha.

-Como podes ter tanta certeza?-perguntou.

-Não tenho-encolhi os ombros-mas estás bem protegida e segura aqui com a tua família.

-Sim-ela sorriu mais satisfeita-eles protegem-me de qualquer coisa, até de uma borboleta se for preciso-ambas rimos das suas palavras.

-O teu nome é Bianca, certo?-perguntei.

Camila e o MonstroOnde histórias criam vida. Descubra agora