53-Bernardo Morelli

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Levei Camila para casa depois que ela desmaiou e agora estou aqui ao seu lado à espera que ela acorde enquanto a minha mãe trata dela.

-Ela está cheia de febre-olhei para a minha mãe assim que ouvi as suas palavras-ela entrou em choque e agora creio que demore alguns dias até conseguir recuperar.

Eu nada disse. Levantei-me e fui até à grande janela do quarto onde observei o sol lá no alto. Cruzei os braços e respirei fundo.

Como iríamos lidar com Camila depois de ela acordar?

Será que ela vai ter medo de nós?

Será que ela vai desistir da nossa família?

Merda.

-Ela vai ficar bem meu querido-a minha mãe parou ao meu lado e observou o sol também-ela só precisa de tempo para recuperar e tempo para colocar as ideias no sitio. Tudo para ela ainda é muito confuso e receber uma notícia destas no seu estado só piora a sua situação. Tempo meu querido, tempo.

-Tempo é o que eu não tenho quando se trata da saúde da minha família mãe-olhei nos seus olhos-eu voltei a ser um monstro aos olhos da Camila-senti uma lágrima rolar pelo meu rosto-ela já não me ama mãe, ela odeia-me, nunca me perdoará.

Olhei na direção da nossa cama onde observei a minha mulher dormir e passei as mãos pelos meus cabelos assim que vi o que eu lhe fizera. Ela estava assim por minha causa. Eu provoquei tudo isto. Se eu ao menos lhe tivesse contado antes ou...ou se eu nunca permitisse que ela perdesse a memória naquele dia.

-Eu preciso ir-virei costas.

-Não cometas nenhuma loucura Bernardo-parei assim que ouvi a minha mãe-a Camila precisa de ti agora.

Olhei para ela concordando e, então, depois saí do quarto e fui direto à biblioteca, no andar de baixo.

Assim que me sentei num dos sofás da biblioteca, a porta da mesma é aberta e de lá entraram as minhas filhas apressadas e um tanto preocupadas.

-Como está a mãe?-perguntou Luna.

-Ela já acordou? Podemos ir vê-la?-foi a vez de Eva.

-O que aconteceu?-perguntaram as duas.

Olhei para ambas e, então, decidi contar-lhes tudo o que aconteceu deixando-as visivelmente preocupadas.

-Então...-Luna pensou-isso quer dizer que a mãe não gosta mais de nós?

-Claro que não Luna-olhei para ela assustado-a mãe ama-vos muito.

-Podemos ir vê-la?-foi a vez de Eva.

-Eu acho que é melhor não-neguei-a avó ainda está a cuidar da mãe, talvez daqui a bocado.

Vi as minhas filhas se aproximarem e me abraçarem, às quais também as abracei.

Sei que está a ser muito difícil para elas também ter a mãe neste estado, mas eu não posso fazer mais nada.

(...)

Passaram-se algumas horas e com elas chegou a hora de jantar. A minha mãe ainda não saíra do quarto, então, resolvi lá ir para ver como se encontrava Camila.

Quando cheguei em frente à porta do quarto abria muito lentamente até no meu campo de visão aparecer a minha mãe e Camila.

Sorri assim que vi a minha mulher acordada, mas ao mesmo tempo fiquei um pouco triste, pois os seus olhos estavam apagados e longe dali.
Não deixava de sentir que a culpa era toda minha.
Fiquei ali, não dei mais nenhum passo ou pronunciei alguma palavra. Não queria provocar nenhum mal estar agora que Camila estava acordada.

Camila e o MonstroOnde histórias criam vida. Descubra agora