As memórias, preciosidades que nos reconfortam em momentos perturbadores mas que também nos enlouquecem quando ao passado desejamos voltar. No começo tudo é mais simples, mais fácil de se resolver, mais fácil de se obter o prazer, as preocupações não se debruçam em nossos ombros, os pesadelos não compartilham de nossos travesseiros.
A simplicidade de uma caminhada ébria, acompanhada de algumas memórias e fantasmas que espreitam a cada esquina mal iluminada, é um dos prazeres que ficam acorrentados, lá no passado. A capacidade de se perder pela cidade, enlouquecer com seus próprios pensamentos e dialogar incessantemente com suas inseguranças é quase como uma sessão de terapia que se estende até o final da última Long Neck.
O álcool, o definitivo portador de seus segredos e o confidente dos seus medos. Também é um um anestésico espiritual, que te abraça nessas peregrinações solitárias e te mantém suficientemente longe da realidade, pelo menos por algumas horas, pra que o dia a dia não assassine quem você realmente é. E te mantém protegido dos seus próprios pensamentos obscuros.
Essas benesses, vividas na juventude, são apenas fragmentos reconfortantes que vivem em um profundo coma induzido, dentro das memórias. Afinal, no fim da jornada poucas coisas ainda são permitidas, os vícios e deleites inconsequentes são substituídos por responsabilidades e pesares infinitos.
E os dedos, que antes municiavam seu corpo com belas tragadas num cigarro, ou goles que te faziam voar pelo infinito, agora servem apenas para contar quantos dias se passaram desde a última vez em que você foi feliz. Viver se tornou um passeio decadente, onde o viajante se estagna numa terrível e "perfeita" existência "saudável".
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Perpétua Tortura |Ou| A luxúria que escorre
PoesíaAforismos, contos e "poemas" sobre a bestialidade das relações