𝑪𝑨𝑷𝑰́𝑻𝑼𝑳𝑶 16

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Os dois carros saíram em disparada, atravessando o tráfego perigosamente. Ucker apertava o volante, esmurrava-o, enfiava a mão nos cabelos tentando esquecer a cena ridícula que havia presenciado. Pelo retrovisor, via que Dulce se esforçava para seguir seu carro, então pisou mais fundo no acelerador. Percebendo o perigo que corriam naquelas avenidas, fez algumas curvas e entrou numa estrada, onde o tráfego de carros era menor.

Dulce ainda estava atrás dele. Ele precisava que ela desistisse, não podia encará-la, não naquele momento nem naquele estado. Acelerou ainda mais, e ao fazer uma curva perigosa, assustou-se ao ver um carro grande vindo na direção oposta, tão rápido quanto ele. O carro buzinou e Ucker virou o volante rapidamente, conseguindo, numa manobra altamente perigosa, sair do caminho do outro veículo. Porém seu desespero aumentou quando Ucker se tocou de que o carro de Dulce vinha logo atrás, ela certamente não teria tempo de desviar. Ucker freou o carro e o pneu cantou na pista, o veículo praticamente girou 360º com a manobra.

Abriu a porta do carro e desceu desesperadamente, tudo isso durou menos de 3 segundos, e o carro de Dulce apareceu na curva, chocando-se de frente com o outro veículo. A S10 prateada apenas girou 180º, enquanto o carro de Dulce voou pelos ares e caiu na pista, fazendo um barulho ensurdecedor. Pedaços de vidro e metal voaram e Ucker virou-se de costas e se abaixou, tentando proteger seu rosto. Quando voltou-se para a pista, viu o carro de Dulce capotar duas vezes e parar no acostamento, de cabeça para baixo.

Ucker enfiou as mãos nos cabelos, seus olhos encheram-se de lágrimas, sua visão ficou turva, sentiu uma pontada de dor aguda na cabeça: NÃÃÃÃO!!!

Correu pela pista sem sequer olhar se algum outro veículo se aproximava, jogou-se no chão ao lado dos destroços do carro de Dulce. Havia muita fumaça, ele aproximou-se mais até conseguir ver o corpo de Dulce preso dentro do carro. Sabia que não deveria tentar tirá-la de lá, ela poderia sofrer lesões graves na coluna, no pescoço ou em outra parte do corpo se não fosse socorrida por profissionais. Mas não havia tempo. Ou era isso ou o carro explodiria com ela dentro.

Ucker uniu todas as forças que tinha, e não era muita, pois aquela cena o deixara totalmente atordoado. Enfiou o braço com dificuldade dentro do veículo, conseguiu destravar a porta e o cinto de segurança que prendia Dulce. Seu corpo sangrava, havia ferros prendendo suas pernas. Ucker enfiou o que coube de seu corpo dentro do carro e deitou o corpo de Dulce sobre seu ombro e peito, tentando movimentá-la o menos possível. Precisava proteger sua coluna e sua cabeça. Com muita dificuldade, conseguiu empurrar um dos ferros e puxar as pernas de Dulce. Arrastou-se em meio à fumaça preta, levando o corpo de sua namorada nos braços. Não sentia dor a não ser em seu coração. Não sentia medo, não pensava, simplesmente fazia, por instinto. A dose de adrenalina estava tão alta em seu corpo, que Ucker não tinha muita noção do que estava acontecendo ali, só sabia que tinha que tirar Dulce daqueles destroços o mais rápido possível.

Conseguiu levantar-se com Dulce nos braços, suas pernas cambaleavam, mas ele mantinha-se de pé, apresentando uma força que não conhecia. Caminhou o mais depressa que pôde, tossindo, seus olhos lacrimejando pelo excesso de fumaça, o sangue de Dulce descendo por seus braços. Ele precisava continuar, tinha que andar mais. Atravessou a avenida e teve o instinto e se proteger atrás do se próprio carro. Bastou abaixar-se, numa fração de segundos um clarão e um barulho de explosão ensurdecedor tomou de conta da estrada. Os pedaços do carro que não tinham voado antes, voaram naquele instante. Um objeto bateu no vidro do carro de Ucker, trincando-o. Outro, passou por baixo do veículo e quase o acertou em cheio. Ucker estava inclinado sobre o corpo de Dulce e quando a explosão terminou, ergueu-se, fitando, pela primeira vez com atenção, o corpo de Dulce. Ao ver aquela imagem, sentiu-se morrer por dentro. Uma dor absurda tomou seu coração e ele chegou a ter vertigens. Dulce estava inconsciente, metade de seu rosto estava coberto de sangue, assim como um dos braços e as pernas. Ucker então olhou para si mesmo e só então notou que seus braços ficaram cheios de sangue. Sangue de Dulce.

𝗠𝔼𝗨 𝔻𝗘𝕊𝕋𝗜ℕ𝐎Onde histórias criam vida. Descubra agora